Com alta de casos de dengue, guarda que precisou amputar perna após ser baleado em tiroteio reflete sobre doação de plaquetas: ‘Ajudar o próximo’


Tiroteio ocorreu em julho de 2017 em São José do Rio Preto (SP). Cleiton Gomes, de 39 anos, começou a doar plaquetas no ano seguinte. Nos casos graves da dengue, os anticorpos podem destruir as plaquetas, o que eleva a importância da doação. Cidade vive uma epidemia da doença. Tiroteio após tentativa de assalto a joalheria deixa um morto e guardas feridos no Centro
O guarda municipal que precisou amputar a perna após ser baleado durante um tiroteio em um assalto a joalheria decidiu que a missão de salvar as pessoas não terminaria ali: depois do incidente, ele começou a doar plaquetas em São José do Rio Preto (SP). Em meio à epidemia, a iniciativa pode ajudar pacientes diagnosticados com dengue no município.
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Cleiton Gomes está doando plaquetas em Rio Preto (SP)
Cleiton Gomes/Arquivo pessoal
O tiroteio ocorreu em julho de 2017, durante um assalto a uma joalheria e uma relojoaria na rua Siqueira Campos. Cleiton Gomes, de 39 anos, ficou internado quase dois meses para tentar recuperar a perna que foi atingida pela bala. À época, ele estava há apenas três meses na função.
No entanto, os médicos optaram pela amputação devido à gravidade da lesão. Um outro adolescente de 17 anos morreu no tiroteio. Ele estava passeando com o tio quando foi atingido por uma bala perdida, segundo informações da polícia.
Cleiton Gomes voltou a trabalhar após ter a perna amputada em Rio Preto (SP)
Cleiton Gomes/Arquivo pessoal
Um ano depois, em 2018, Cleiton começou a doar as plaquetas. Em meio à epidemia de dengue, vivida por Rio Preto, que já tem 13,3 mil casos confirmados, segundo a Secretaria Estadual de Saúde, o gesto representa um ato de amor ao próximo.
Isso porque, quanto mais aumenta os casos de dengue, proporcionalmente eleva a necessidade da transfusão de plaquetas, que são células essenciais para a coagulação do sangue (entenda abaixo).
Guarda que foi baleado em Rio Preto (SP) recuperou movimento das pernas após receber prótese
Reprodução/TV TEM
Ao invés de se abater com o incidente, Cleiton voltou a trabalhar na GCM, dessa vez no setor de comunicação, e encontrou um novo propósito com a doação das plaquetas.
Durante o processo de reabilitação, foram 90 sessões de fisioterapia – três vezes por semana. Sensibilizado, a decisão de doar veio como uma forma de agradecimento e ajuda, assim como foi auxiliado quando precisou.
“Durante minha reabilitação, eu mesmo precisei de várias doações de sangue. E foi então que eu vi a importância de ajudar o próximo. Percebi que há uma grande necessidade de doadores. Então, vejo nisso uma oportunidade de ajudar de forma contínua ”, reforça Cleiton.
Guarda atingido por projétil durante assalto a joalheria passou por reabilitação em Rio Preto (SP)
Reprodução/TV TEM
Além do tiro na perna, Cleiton foi atingido por outros três disparos, um no braço e dois no tórax, que pegaram no colete dele. O que antes era de certa forma “fácil”, hoje, o guarda municipal precisa se ajustar às limitações.
“Coisas que antes eram simples de realizar se tornaram mais difíceis, mais complexas. Porém, tento ver as dificuldades com um olhar de esperança, sabendo que já evolui muito e ainda tenho muito que aprender com essa nova realidade”, relatou o guarda municipal.
Doação de plaquetas
Cleiton Gomes começou a doar plaquetas após ter a perna amputada em Rio Preto (SP)
Cleiton Gomes/Arquivo pessoal
Nos casos graves da dengue, os anticorpos produzidos pelo organismo para combater o vírus podem destruir as plaquetas. O noroeste paulista é o que concentra maior número de confirmações da doença em todo estado.
A doação de plaquetas é diferente. O paciente fica ligado a uma máquina. O sangue é retirado, entra na máquina que separa o plasma, a plaqueta, os leucócitos e as hemácias. Nesse tipo de doação, apenas as plaquetas são coletadas. Depois disso, o sangue é devolvido para o corpo do paciente.
A vantagem é que o paciente carente de plaquetas vai receber a quantidade necessária com um número menor de transfusões. Esse tipo de doação é um pouco mais demorada do que a doação de sangue e pode levar até duas horas.
Plasmas e plaquetas são separadas no processo de doação
Girlene Medeiros/g1/Arquivo
As regras para a doação também são diferentes. A pessoa tem que ter entre 18 e 60 anos, pesar mais de 60 quilos, estar bem de saúde, ter 150 mil plaquetas no sangue identificadas por hemograma e portar um documento de identidade oficial com foto.
Não é preciso estar em jejum, só evitar ingerir alimentos gordurosos e bebida alcoólica 12 horas antes da doação.
Ajuda necessária
Atualmente, o Hemocentro de Rio Preto tem 327 doadores de plaquetas cadastrados, todavia, apenas 39% deles considerados assíduos, ou seja, costumam doar mais de 12 vezes em um ano e dificilmente faltam ou desmarcam o agendamento. Já os regulares, que são pessoas que realizam entre seis e doze doações anualmente, representam 19% do total e, em alguns casos, faltam ou desmarcam. Por último, as pessoas que fazem menos de seis doações por ano representam 43%.
Aos poucos, a população tem mudado os hábitos e praticado a solidariedade. Ainda segundo o Hemocentro, em janeiro deste ano, foram coletadas 395 bolsas. Um crescimento de aproximadamente 13%, se comparado ao período de outubro a dezembro, que teve média de 350 coletas.
Por outro lado, o prazo de validade das plaquetas é muito pequeno. Após a doação, elas duram apenas cinco dias, por isso, não é possível fazer estoque. As doações acontecem de acordo com a demanda transfusional das 40 instituições de saúde atendidas pelo Hemocentro de Rio Preto.
Relembre o tiroteio
Cleiton quando foi baleado pelo ladrão em Rio Preto
Reprodução/TV TEM
Cinco suspeitos da quadrilha foram presos pela Polícia Civil em São Paulo (SP) e também na Baixada Santista. Câmeras de segurança registraram a ação dos criminosos (veja no topo da reportagem), que, além de Claiton, também deixou uma guarda ferida.
Tássia Tomoda Dourado foi atingida por um tiro de metralhadora na barriga. Ela chegou a ser internada na Unidade de Terapia Intensiva (UTI), passou por cirurgias e se recuperou. Tanto ela quanto Cleiton não portavam armas de fogo e os projéteis atingiram os seus coletes à prova de balas.
Tássia Tomoda Dourado foi atingida por um tiro na barriga e precisou ser internada em Rio Preto
Reprodução
Nas imagens é possível ver o momento em que um carro estaciona em frente a loja que foi assaltada. Três ladrões descem, o motorista faz o retorno e estaciona do outro lado da rua.
Dentro da joalheria, os assaltantes rendem as funcionárias e pegaram joias, semijoias e relógios. Ao saber do assalto, dois guardas municipais se aproximam, descem da bicicleta e, neste momento, um dos criminosos que estava no carro desce, atravessa a rua e atira contra os dois.
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