Veja quais são as eleições que vão determinar a direção dos EUA em 2024

No atual ambiente político dos Estados Unidos, muito equilibrado e altamente polarizado, a linha entre a vitória e a derrota para os partidos Republicano e Democrata se tornou tão tênue que o controle da Casa Branca e do Congresso gira no pequeno número de eleições que podem ser vencidas por ambos os lados.

Isso significa que poucos pleitos neste ano servirão como ponto de virada na definição da direção de uma nação de quase 335 milhões de pessoas.

Eleições apertadas que deixam o poder em Washington em uma corda bamba entre os dois partidos viraram uma característica definidora da política norte-americana moderna.

Nenhum dos partidos manteve o controle simultâneo da Casa Branca e de ambas as casas legislativas (Senado e Câmara) durante mais de quatro anos consecutivos desde 1968. Durante as sete décadas anteriores, quase constantemente um partido ou outro desfrutou de um controle unificado.

O Senado e a Câmara estão agora divididos quase exatamente pela metade entre os dois partidos. As pesquisas também mostram que os eleitores se dividem quase uniformemente sobre uma possível repetição do pleito entre o presidente Joe Biden e o ex-presidente Donald Trump.

É prematuro prever qual partido sairá com vantagem das eleições de 2024. Mas não é muito cedo para identificar as corridas eleitorais que provavelmente funcionarão como pontos de virada neste ano.

Senado

Ao longo deste século, o Senado dos Estados Unidos quase sempre se equilibrou sobre uma corda bamba.

Nas 12 composições formadas desde 2001, um partido ou o outro atingiu a maioria do Senado de 55 assentos apenas três vezes (democratas em 2009 e 2013, e republicanos em 2005).

Desde a Guerra Civil dos EUA, poucas vezes o Senado esteve tão estreitamente dividido durante tanto tempo. Nas últimas duas décadas do século 20, por exemplo, um partido ou outro alcançou 55 assentos no Senado em sete das dez formações da casa.

Uma grande razão pela qual essa casa legislativa está tão equilibrada está em outra mudança profunda: a forte correlação entre a forma como os estados votam nas eleições presidenciais e no Senado.

Até pouco tempo, ou seja, no final do século 20, a divisão nas cédulas eleitorais era comum nas corridas ao Senado.

No entanto, neste século, ficou extremamente difícil para ambos os lados cconseguir eleger um senador de um partido em estados que geralmente votam no partido contrário para presidente.

Vista geral do Capitólio dos EUA em Washington / 08/03/2021 REUTERS/Joshua Roberts

Em outras palavras, um estado que vota majoritariamente para o candidato democrata à Presidência dificilmente elege senadores republicanos, e vice-versa.  A tendência é a força mais poderosa que ameaça o poder dos democratas no Senado.

O partido Democrata detém agora 48 dos 50 assentos no Senado nos 25 estados nos quais Biden venceu em 2020. Os republicanos Susan Collins do Maine e Ron Johnson do Wisconsin, que venceram por pouco a reeleição em 2022, são as únicas exceções.

Por sua vez, o partido Republicano detém 47 das 50 cadeiras no Senado nos 25 estados que votaram em Trump em 2020. Os democratas Sherrod Brown, em Ohio, Jon Tester, em Montana, e Joe Manchin, na Virgínia Ocidental, que vai se aposentar, são as três exceções.

O centro do desafio no Senado para os democratas em 2024 é que eles devem defender os três assentos em um momento em que parece muito provável que Trump seja novamente o candidato da oposição.

Os três estados não são os únicos com vagas nessa Casa que podem mudar de cor. Os democratas (azuis) também tentam defender suas cadeiras em Nevada, Michigan, Pensilvânia e Wisconsin – todos os estados nos quais Biden ganhou em menos de três pontos percentuais.

Também em jogo este ano está a vaga do Arizona, atualmente ocupada por Kyrsten Sinema, uma ex-democrata que se tornou independente, mas que ainda se alinha com o partido.

E os democratas recrutaram adversários fortes para competições acirradas contra os senadores republicanos (vermelhos) Ted Cruz e Rick Scott no Texas e na Flórida, respectivamente.

Se Biden não conseguir melhorar sua posição antes de novembro, os republicanos podem conquistar vagas em um ou mais desses estados que apoiam ligeiramente Biden.

E, se tudo der errado para o partido Republicano neste ano (se Trump for considerado culpado em alguns dos julgamentos criminais, por exemplo), opPartido Democrata pode se dar bem na Flórida ou no Texas.

Mas, se o ambiente nacional se mantiver tão dividido entre os partidos, o controle do Senado será provavelmente decidido com os três assentos detidos pelos democratas nos estados onde Trump venceu.

Se nenhum outro assento mudar de mãos, os democratas podem se dar ao luxo de entregar apenas um dos “três de Trump” para manter 50 assentos no Senado – e a possibilidade de manter o controle da Casa se eles também tiverem a Casa Branca (por causa do voto de desempate do vice-presidente).

Com a aposentadoria de Manchin, ambos os lados consideram que é praticamente garantido que os republicanos vão tomar a Virgínia Ocidental. Isso significa que Brown (Ohio) e Tester (Montana) provavelmente precisarão ganhar para que os democratas atinjam 50 assentos no Senado (e a maioria).

Os dois enfrentam o difícil histórico local e é altamente improvável (para não dizer impossível) que Biden ganhe nesses estados.

Câmara dos Deputados

Em comparação com o Senado, a Câmara dos Deputados não foi dividida de forma tão consistente ao longo das últimas décadas. Várias vezes, desde 2000, cada partido acumulou maiorias confortáveis na casa.

Mas a Câmara pode acompanhar o Senado numa era de vantagens menores e menos estáveis. Nas duas últimas eleições, primeiro os democratas e depois os republicanos ganharam a maioria, assegurando apenas 222 lugares.

Desde que essa Casa foi expandida para 435 assentos antes da Primeira Guerra Mundial, apenas uma vez as formações consecutivas apresentaram maiorias tão pequenas assim.

Uma razão pela qual as maiorias podem estar menores é a crescente sofisticação do chamado “gerrymandering” (um redesenho forçado na formação dos distritos eleitores que acaba reagrupando eleitores de acordo com uma tendência partidária, facilitando a vitória de um dos partidos).

Com isso, foram reduzidos os lugares competitivos que podem mudar de lado nas  eleições, independentemente das condições do país.

Mas outro grande fator é a mesma dinâmica que empurra o Senado para maiorias mais frágeis: a crescente incapacidade de ambos os lados de ganhar muitas vagas nos distritos que votam nos candidatos presidenciais do outro partido.

Apenas 23 membros da Câmara – ou seja, só cerca de um deputado em cada 20 – ocupam assentos que apoiaram o candidato presidencial do outro partido.

Isso inclui 17 republicanos em distritos que votaram em Biden em 2020 e cinco democratas de locais que apoiaram Trump.

Em 2022, os republicanos também ganharam um 18º distrito do Congresso que votou em Biden, mas esse lugar está atualmente vago depois de a Câmara ter votado recentemente para expulsar George Santos. Era a vaga dele.

Os democratas terão de jogar de forma defensiva nos cinco locais pró-Trump que conquistaram, bem como em alguns distritos (particularmente em estados industriais de tradição operária, como Michigan, Ohio e Pensilvânia) que preferiram Biden apenas na última eleição.

Placas promovendo o nome do presidente dos EUA, Joe Biden, nas eleições primárias democratas de New Hampshire, preparadas por estudantes de ciências políticas do St. Olaf College em Minnesota / 15/01/2024 REUTERS/Elizabeth Frantz

Um redesenho das linhas distritais na Carolina do Norte, orientado por republicanos, também deve custar vários assentos aos democratas na Câmara.

Mas muitos integrantes de ambos os lados acreditam que, em uma eleição apertada, a luta pelo controle da Câmara provavelmente vai se resumir a quantos dos originalmente republicanos que votaram em Biden os democratas podem conquistar.

Essas 18 vagas estão espalhadas por oito estados, mais concentradas na Califórnia (cinco) e em Nova York (seis) — dois estados tradicionalmente azuis nos quais Biden tem a vitória praticamente certa em novembro.

Na Califórnia, a maior questão para os democratas é se eles podem mobilizar uma forte participação (e reconstruir as suas margens de voto) entre a substancial população não-branca nos cinco distritos em geral republicanos onde Biden venceu (incluindo dois em Central Valley, fortemente latino, e dois no Orange County, que tem grandes populações latinas e asiático-americanas).

Em Nova York, os resultados podem depender mais dos eleitores de classe média e alta, bem instruídos, que se afastaram dos republicanos no governo de Trump.

Os republicanos superaram inesperadamente essa tendência ao ganhar vários assentos na Câmara em 2022, com uma grande percentagem entre graduados, tanto em Long Island como no vale do Rio Hudson —  incluindo os assentos conquistados pelos republicanos Anthony D’Esposito, Nick LaLota, Mike Lawler e o próprio George Santos.

Os republicanos de Nova York Marc Molinaro e Brandon Williams também conquistaram distritos vencidos por Biden que são mais tradicionalmente operários.

Mesmo em meio ao desencanto com os números da inflação, imigração e crime no governo Biden, pode ser difícil para os republicanos se manterem firmes no ambiente mais partidário de um ano de eleição presidencial, especialmente se o partido indicar Trump como candidato.

A eleição especial para substituir George Santos no mês que vem, em um distrito que atravessa Nassau County e Queens, irá oferecer uma primeira pista de como os eleitores de Nova York nesses distritos estão pesando o descontentamento com Biden e a má vontade com Trump.

Mas, independentemente do resultado, o partido Democrata certamente se beneficiará de um processo de redistribuição ordenado judicialmente  que provavelmente lhes permitirá enfraquecer vários (embora não todos) republicanos dos distritos onde Biden venceu.

Uma exceção, por exemplo, é LaLota, que representa Suffolk County, onde o movimento em direção a Trump vai tornar difícil gerar um distrito melhor para os democratas.

Embora a luta pelo controle da Câmara inclua um campo de batalha nacional diverso, o ponto de virada na disputa pode se resumir a quantos dos republicanos de Nova York nos distritos vencidos por Biden os democratas poderão conquistar.

Casa Branca

De certa forma, a corrida presidencial não parece tão equilibrada como a luta pelo controle do Congresso.

O Partido Democrata ganhou o voto popular em sete das últimas oito eleições presidenciais — algo que nenhum partido tinha feito desde a formação do sistema partidário moderno nos Estados Unidos, em 1828.

Além disso, embora os candidatos presidenciais democratas tenham ultrapassado 50% do total de votos três vezes desde 1992, George W. Bush, em 2004, foi o único candidato presidencial republicano a ganhar a maioria dos votos desde então, o que ele conseguiu por um triz.

Ainda assim, a competição do Colégio Eleitoral — o sistema de voto indireto em que são atribuídos “delegados” em diferentes pesos aos estados e quem ganhar mais delegados vence — tem sido muito mais apertada.

Em 2000 e 2016, o candidato do partido Republicano perdeu o voto popular, mas ganhou o Colégio Eleitoral, algo que tinha acontecido apenas três vezes na história do país até então.

Em 2020, embora Joe Biden tenha vencido o voto popular com mais de 7 milhões de votos de diferença, uma mudança de apenas 44 mil votos em três estados teria produzido um empate no Colégio Eleitoral.

Assim como acontece com as eleições para o Congresso, a corrida para o Colégio Eleitoral é muito apertada, precisamente porque muitos estados não são divididos.

Cada partido conquistou 20 estados ao menos nas últimas quatro eleições presidenciais. É a maior percentagem de estados que votaram da mesma forma em quatro eleições consecutivas desde a virada do século 20.

Com isso, sobram poucos estados verdadeiramente competitivos para decidir o resultado.

Joe Biden venceu em 2020 conquistando cinco estados que votaram em Trump em 2016: Arizona e Geórgia, no “Cinturão do Sol”; e Michigan, Pensilvânia e Wisconsin, no coração industrial do país.

Embora os dois lados estejam de olho também em outros estados este ano (os republicanos querem Nevada e talvez Minnesota ou New Hampshire, e os democratas almejam a Carolina do Norte) é mais provável que uma eleição apertada seja decidida por esses cinco estados novamente.

Desses cinco, Biden, em 2020, ganhou o Arizona (por 0,4 ponto) e a Geórgia (0,3 ponto) pelas menores margens.

Mas Trump ou outro republicano poderiam recuperar ambos os estados (e conquistar Nevada) e ainda ficar aquém dos 270 votos do Colégio Eleitoral necessários para ganhar.

“Eu não acredito que haja uma corrida sem vitórias republicanas no Arizona e Geórgia”, escreveu o especialista em pesquisa do Partido Republicano Gene Ulm. “Não é um ponto de virada, é o ponto de partida”, alertou.

Por outro lado, o melhor desempenho de Biden em 2020 entre os cinco estados aconteceu no Michigan (que ele venceu por confortáveis 2,8 pontos) e Pensilvânia (que lhe proporcionou uma margem mais estreita, mas ainda sólida, de 1,2 ponto).

Os democratas também se deram muito bem tanto no Michigan como na Pensilvânia em 2022.

No entanto, se o presidente segurar apenas Michigan e Pensilvânia dos cinco grandes estados-pêndulo (aqueles que variam entre a maioria para os partidos Democrata e Republicano), ele também ficaria abaixo dos 270 votos do Colégio Eleitoral, mesmo que ele também mantenha Nevada.

Winsconsin decisivo para a eleição presidencial

A conclusão é que Wisconsin é o estado que mais provavelmente funcionará como o ponto de virada numa corrida presidencial apertada.

Wisconsin tem tido eleições bem disputadas nos últimos anos: Biden, em 2020, venceu lá apenas 0,6 ponto, depois de Trump ter ganho em 2016 por 0,8 ponto.

Em contraste com a forte tendência azul (democrata) em Michigan e Pensilvânia, Wisconsin teve um veredicto misto em 2022, com o governador democrata Tony Evers vencendo a reeleição por apenas 3 pontos, e o senador republicano Ron Johnson eleito por apenas 1 ponto.

O Wisconsin já desempenhou o papel decisivo nas duas últimas eleições presidenciais, de acordo com cálculos de Charles Franklin, diretor da Faculdade de Direito da Universidade Marquette, em Milwaukee, Wisconsin.

Franklin classificou cada estado da maior margem de vitória para a maior margem de derrota para ambos os candidatos. Com base nesse ranking, Wisconsin foi o estado que levou Trump a 270 votos no Colégio Eleitoral em 2016, e o estado que fez o mesmo para Biden em 2020.

Jim Messina, gerente de campanha de 2012 para Barack Obama, diz que a modelagem computacional da sua empresa de potenciais resultados de 2024 identifica Wisconsin como o estado decisivo em cerca de dois terços das vezes em que testa seus modelos.

“Faz sentido quando olhamos para 2020 e como Wisconsin foi o mais duro [para o partido Democrata] de todos os três estados”, escreveu Messina, referindo-se também a Michigan e Pensilvânia.

Cartazes de Donald Trump e Nikki Haley na Carolina do Sul, EUA / 22/02/2024 REUTERS/Brian Snyder

“Em 2022, foi o único estado em que um partido [Republicano] venceu a corrida ao senado, mas perdeu a presidência dem 2020”, adicionou.

Enquanto Michigan e Pensilvânia se inclinaram mais para os democratas desde 2016 do que em Wisconsin, é possível que a ordem possa mudar em novembro deste ano.

A guerra entre Israel e Hamas, por exemplo, ameaça o apoio de Biden entre a população árabe-americana e muçulmana de Michigan, que é maior do que na maioria dos estados dos EUA.

Mas, no fim das contas, ainda parece improvável que Biden vença em Wisconsin e perca no Michigan ou Pensilvânia.

Intrinsecamente, Wisconsin é mais difícil para os democratas do que os outros dois por causa da composição do seu eleitorado. As minorias representam uma parcela muito menor do total de votos em Wisconsin do que em Michigan ou Pensilvânia.

Em comparação com os outros dois, uma parcela significativamente maior de votos no Wisconsin é dada pelos brancos sem diploma universitário que se tornaram o principal círculo eleitoral do partido Republicano na era Trump.

“Se a Pensilvânia e o Michigan votarem em Trump [ou em outro Republicano], então certamente o nosso estado deve fazer o mesmo”, afirmou Franklin sobre o Wisconsin, uma opinião partilhada por muitos agentes políticos.

“Exceto se houver alguma mudança inesperada, ainda nos vejo num ponto de virada e com resultado muito apertado”, sustentou.

Continua sendo possível, claro, que qualquer das partes possa ter uma vitória maior do que parece provável hoje.

Bill McInturff, veterano especialista em pesquisas do partido Republicano, e Stu Stevens, um estrategista de longa data do mesmo lado que se tornou um crítico feroz do partido na era Trump, acham que este ano poderia se assemelhar à corrida de 1980 entre o presidente Jimmy Carter e Ronald Reagan.

Os números estavam muito próximos nas pesquisas durante a maior parte da campanha, mas depois se voltaram decisivamente na direção de Reagan.

Stevens acredita que, se houver uma quebra este ano, provavelmente virá de Trump, se ele for o candidato, enquanto McInturff sublinhou a fraqueza da votação de Biden em comparação com outros presidentes recentes que começam o seu ano de reeleição.

O colapso continua sempre sendo uma possibilidade para dois candidatos, cujas falhas muitas vezes parecem mais aparentes do que os seus pontos fortes.

Mas, com tantos eleitores agora motivados mais pelo desgosto pelo outro partido do que pelo apoio ao seu próprio partido, a antipatia recíproca dos Estados Unidos praticamente garante outra eleição que deixa o país dividido ao meio.

Enquanto isso, todos observam roendo as unhas como o seu destino é determinado por algumas eleições fortemente concorridas.

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Fonte : CNN BRASIL

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