O olho é a janela do corpo: como a saúde ocular pode antecipar o diagnóstico de doenças silenciosas

Num tempo em que a medicina preventiva ganha cada vez mais relevância, cresce o reconhecimento de uma especialidade capaz de revelar muito mais do que alterações visuais. A oftalmologia, muitas vezes associada apenas ao uso de óculos ou ao tratamento de catarata, tem se consolidado como uma aliada importante na detecção precoce de doenças sistêmicas graves – muitas vezes silenciosas em seus estágios iniciais.

 

De acordo com o Dr. Ayrton Ramos, presidente da Sociedade Catarinense de Oftalmologia (SCO) , há um potencial diagnóstico valioso que muitas vezes é subestimado. “M uitas condições sistêmicas se manifestam nos olhos antes mesmo de causarem sintomas perceptíveis no corpo. Por isso, o acompanhamento oftalmológico regular é também uma estratégia preventiva”, destaca o especialista.

 

Um exemplo emblemático é o da retinopatia diabética. A doença é uma complicação do diabetes que afeta os vasos da retina e pode levar à perda de visão. Um estudo global publicado na Diabetes Care indica que cerca de 34,6% das pessoas com diabetes no mundo apresentam algum grau de retinopatia.  

 

No Brasil, um levantamento recente publicado pela BMC Public Health aponta que aproximadamente 20,2% dos pacientes com diabetes tipo 2 já desenvolveram sinais da condição.

” A retinopatia diabética é silenciosa em seus planos iniciais. Muitas vezes, o oftalmologista é o primeiro a suspeitar de diabetes — antes mesmo do clínico ou do endocrinologista — por meio de um exame de fundo de olho”, explica o Dr.

 

A mesma lógica se aplica à hipertensão arterial . As alterações nos vasos retinianos — como estreitamento, tortuosidade ou pequenos sangramentos — funcionam como um reflexo do que está ocorrendo no sistema cardiovascular. Em alguns casos, o exame ocular permite estimar inclusive o grau de comprometimento da pressão arterial no organismo e antecipar complicações mais graves.

 

Mas os olhos também podem sinalizar distúrbios neurológicos. Edema de papila, atrofia do nervo óptico, alterações pupilares ou desvios oculares súbitos são sinais de que, quando bem interpretados, levantam suspeitas de doenças como esclerose múltipla, aneurismas cerebrais, tumores intracranianos e outras desordens do sistema nervoso central. “ O exame oftalmológico não substitui os exames de imagem, mas frequentemente é o primeiro a indicar a necessidade deles ”, observa o presidente da SCO.

 

Em um contexto de sobrecarga nos sistemas de saúde e subdiagnóstico de doenças crônicas, o olhar atento do oftalmologista pode representar uma diferença significativa. “Estamos falando de uma porta de entrada para o cuidado integral. Muitas vezes, o que se revela no fundo do olho é apenas o começo de uma investigação mais ampla que salva vidas ou preserva a qualidade de vida”, destaca o Dr.

 

A Sociedade Catarinense de Oftalmologia recomenda que adultos realizem consultas oftalmológicas anuais a partir dos 40 anos, ou antes, no caso de fatores de risco como diabetes, hipertensão ou histórico familiar. Crianças, idosos e pacientes em acompanhamento por outras especialidades devem manter atenção redobrada ao calendário oftalmológico.

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