Morte de guia de turismo durante operação policial em Caraíva completa uma semana; veja o que se sabe e falta esclarecer


Victor Cerqueira Santos Santana, conhecido como Vitinho, morreu em uma operação que envolveu as polícias Militar e Federal, e tinha como objetivo cumprir o mandado de prisão contra um homem conhecido como Alongado. Victor Cerqueira Santos Santana morreu durante uma operação policial, em Caraíva
Reprodução/Redes Sociais
O guia de turismo Victor Cerqueira Santos Santana morreu durante uma operação policial, em Caraíva, distrito turístico localizado em Porto Seguro, no extremo sul do estado, no último sábado (10).
Ele foi baleado em ação que envolveu as polícias Militar e Federal e tinha como objetivo cumprir o mandado de prisão contra um homem conhecido como Alongado, suspeito de liderar uma facção criminosa em Caraíva. Alongado resistiu a prisão, foi baleado e morreu.
O guia de turismo, conhecido na região como Vitinho, foi apontado como “segurança” de Alongado. No entanto, familiares de Victor Cerqueira acreditam que ele tenha sido confundido com outro homem. Os parentes do guia explicam que ele e o suspeito compartilhavam o mesmo apelido: Vitinho.
Veja abaixo o que se sabe sobre o caso:
1. Como o guia de turismo Victor Cerqueira foi morto?
2. Como foi a ação policial?
3. O que aponta o atestado de óbito?
4. O que os familiares do guia de turismo contestam?
5. Como o caso é investigado?
6. O que falta esclarecer?
1. Como o guia de turismo Victor Cerqueira foi morto?
Família contesta verão de que guia de turismo tinha envolvimento com tráfico de drogas
Redes sociais
Victor Cerqueira morreu após ser baleado durante uma operação das Polícias Militar e Federal, em Caraíva. A ação tinha o objetivo de cumprir o mandado de prisão contra um homem conhecido como Alongado, que era suspeito de liderar uma facção criminosa no distrito.
A polícia informa que Alongado resistiu a prisão e foi baleado. Ele não resistiu aos ferimentos. Já o guia de turismo, conhecido na região como Vitinho, foi apontado como “segurança” de Alongado.
Homem suspeito de liderar facção criminosa morre após confronto com policiais em destino turístico do extremo sul da Bahia
Na primeira nota enviada, a SSP-BA afirmou que Victor também foi baleado e morreu em via pública. Um terceiro homem, que não teve o nome divulgado, foi preso durante a operação.

2. Como foi a ação policial?
Segundo relato de moradores e da família de Vitinho, a ação ocorreu por volta das 18h do último sábado (10), horário em que o guia de turismo havia saído da pousada onde trabalhava para buscar um grupo de turistas na balsa que dá acesso a Caraíva. De lá, seguiria com os turistas até a hospedagem.
Após buscar os turistas, ainda próximo à balsa, Vitinho teria notado a ação policial e entrado em um comércio. O objetivo era que o grupo ficasse protegido até a ação policial terminar.
Ainda de acordo com a família, o guia de turismo saiu do comércio para verificar se o clima já havia melhorado e se já era possível levar os turistas até a pousada. Neste momento, ele teria sido abordado por policias, algemado e levado para fora de Caraíva.
Moradores de Caraíva protestam contra morte de guia de turismo em ação policial contra chefe do tráfico
Na versão da polícia, houve resistência no cumprimento do mandado de prisão do chefe do tráfico de drogas e foi iniciado um confronto entre suspeitos e os policiais.
Em entrevista a TV Santa Cruz na segunda-feira (12), o delegado Diego Gordilho, da Polícia Federal, informou que a operação aconteceu em um único ponto e não há registros oficiais de desdobramentos em outras localidades.
O g1 entrou em contato com a Polícia Federal e com a Secretaria de Segurança Pública da Bahia e questionou as divergências entre as versões. Em nota, a SSP-BA disse que a ocorrência é investigada pela Polícia Civil e pela Corregedoria da Polícia Militar, como determina o procedimento em casos de morte em confronto com agentes do estado.
3. O que aponta o atestado de óbito de Victor?
Atestado de óbito de Vitinho indica que ele sofreu politrauma e homorragia
Arquivo pessoal
O atestado de óbito de Vitinho indica que ele morreu em via pública, em Caraíva, às 18h. Também aponta que a causa da morte foi “politraumatismo toráxico, choque hemorrágico e projétil de arma de fogo”.
Mas a família traz outra versão. Os parentes contam que Vitinho foi levado pelos policiais, torturado e morto. Eles ressaltam que o rosto do jovem estava desfigurado e havia marcas de algemas nos pulsos e arranhões nos joelhos.
A PF e a SSP-BA foi questionada se houve algum confronto direto que pudesse explicar o politraumatismo toráxico e o choque hemorrágico descritos no atestado de óbito. Na nota enviada pela SSP-BA, o questionamento não foi respondido. O g1 aguarda a resposta da Polícia Federal.
MP-BA acompanha investigação sobre ação policial que resultou na morte de guia de turismo em Caraíva
4. O que os familiares do guia de turismo contestam?
Mãe diz que guia de turismo morto em ação policial em Caraíva foi algemado e torturado
Para os familiares do guia, ele foi confundido com outro homem. Os parentes explicam que ele e o suspeito compartilhavam o mesmo apelido: Vitinho. O g1 confirmou que um jovem apelidado dessa forma é de fato investigado por tráfico de drogas na região e procurado pela polícia.
“A suspeita principal é de que tenha sido confundido com outro homem de nome João Vitor, conhecido como segurança de traficantes e apelidado igualmente de ‘Vitinho’, que possuía mandado de prisão e ficha criminal. Este homem continua em liberdade”, diz um trecho da nota divulgada pela família.
Família acredita que guia de turismo morto em Caraíva foi confundido com suspeito de tráfico que tinha mesmo apelido
Mãe diz que guia de turismo morto em ação policial em Caraíva foi algemado e torturado: ‘Pegou um menino inocente’
A PF e a Secretaria de Segurança Pública (SSP-BA) foram questionadas sobre a possível confusão em relação aos nomes. A SSP-BA enviou uma nota, mas não respondeu o questionamento. Já a Polícia Federal não respondeu a pergunta até a publicação desta reportagem.
Ainda segundo os familiares, há indícios de ocultação de provas, porque, segundo eles, pouco antes da operação, as câmeras da travessia do rio Caraíva teriam sido desligadas e agentes teriam apreendido imagens das câmeras dos estabelecimentos comerciais da região, com o objetivo de ocultar provas.
A família de Victor Cerqueira pediu uma “investigação imediata, transparente e independente, com a responsabilização rigorosa de todos os envolvidos”.
Eles também contestam a versão da secretaria, que indicava que o guia teria morrido em confronto e estaria ligado ao tráfico de drogas.
“Dois suspeitos, um deles possuía mandado de prisão, acabaram atingidos após confronto relatado pelas equipes. Eles chegaram a ser socorridos, mas não resistiram aos ferimentos”, diz o comunicado. Apesar disso, a família diz que Vitinho foi algemado e levado pelos policiais.
“O meu filho não foi morto em Caraíva, ele foi algemado e saiu algemado na frente de outras pessoas. Só foi chegar em Porto Seguro 3h da manhã, morto, com sinais de tortura. Pegou um menino inocente”, disse Luzia Cerqueira, mãe de Vitinho.
O delegado Bruno Barreto, responsável pelo distrito de Caraíva, informou que Vitinho não tinha passagem pela polícia. Ele, inclusive, esteve na delegacia na última semana, quando registrou um boletim de ocorrência de injúria racial.
Guia de turismo não tinha passagens pela polícia
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5. Como o caso é investigado?
Em nota, a SSP-BA disse que a ocorrência é investigada pela Polícia Civil e pela Corregedoria da Polícia Militar, como determina o procedimento em casos de morte em confronto com agentes do estado.
Já o Ministério Público da Bahia (MP-BA) informou que, na segunda-feira (12), instaurou procedimento para acompanhar as investigações sobre a ação policial que resultou na morte de Victor Cerqueira.
6. O que falta esclarecer?
A Secretaria de Segurança Publica (SSP-BA) e a Polícia Federal não responderam aos questionamentos sobre a confusão em relação aos nomes de Victor Cerqueira e o homem apontado pelos familiares da vítima como suspeito de tráfico de drogas na região, com quem ele pode ter sido confundido na operação.
Além disso, a PF e a SSP-BA foram questionadas se houve algum confronto direto que pudesse explicar o politraumatismo toráxico e o choque hemorrágico descritos no atestado de óbito do guia de turismo. Na nota enviada pela SSP-BA, o questionamento não foi respondido. O g1 aguarda a resposta da Polícia Federal.
Moradores de Caraíva protestam contra morte de guia turístico em ação policial
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