“Quase Famosos” ainda encanta… e muito

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Revendo pela milionésima vez Quase Famosos, me dou conta do tanto que tenho apreço a esse filme do diretor e ex-repórter da revista Rolling Stone, Cameron Crowe. Assisti pela primeira vez ao filme — que neste ano celebra seu primeiro quarto de século — no extinto Cine Shopping Sul (nos Bancários), inaugurado, em 1998, pelo empresário Luciano Wanderley, dono dos principais cinemas da capital paraibana nas últimas décadas do século 20 (Municipal, Plaza, Rex etc.).

Vencedor do Oscar de Melhor Roteiro, em 2001 (o prêmio foi para o próprio Crowe, que assina sozinho o roteiro) — o filme ainda foi agraciado com duas indicações a Atriz Coadjuvante (Kate Hudson e Frances McDormand) e a de Melhor Edição — Quase Famosos narra a história de um garoto, pouco mais que uma criança, fã de música, que embarca no ônibus de uma banda de rock (Stillwater), sob o pretexto de escrever uma matéria para a revista Rolling Stone, no início dos anos 1970 (a história é ambientada em 1973).

O longa (que tem uma versão estendida em DVD) é tido como um relato semi-autobiográfico de Cameron Crowe, afinal, ele ainda usava calças curtas quando embarcou na turnê do The Allman Brothers, com a finalidade de fazer uma matéria para a Rolling Stone. Outra passagem do filme, um quase acidente de avião com o Stillwater, também foi um “rolê” real: o avião do The Who quase cai com Crowe a bordo.

Tudo no filme me cativa, desde a história que faz com que você também queira ser um jornalista de música — como eu sonhava em ser, em 2000, já um jornalista formado — até as relações entre os personagens, sobretudo, entre o jovem William Miller (Patrick Fugit) com a senhorita Penny Lane (Kate Hudson), a um só tempo maternal e lasciva.

E, claro, tem a música, a formidável trilha sonora. Em geral, o orçamento destinado às músicas em um filme de grande escopo gira em torno de US$ 1,5 milhão, de acordo com o IMDB; o de Quase Famosos era três vezes mais, e valeu cada centavo. Como jornalista de música, os filmes de Crowe carregam uma excelente curadoria musical, extraindo pérolas do pop e do rock, a partir dos anos 1960. Qualquer filme dele, seja Jerry Maguire ou Vida de Solteiro (ambientada no universo da cena grunge) ou ainda Vanilla Sky (que recebeu uma canção inédita de Paul McCartney), é garantia de um bom LP/CD para ter na coleção.

Nos créditos de Quase Famosos aparecem cerca de 50 canções, muitas marcantes no filme, como o clássico momento em que, no ônibus da turnê, banda, equipe técnicas, fãs e o repórter da Rolling Stone começam a cantar a singela “Tiny dancer”, que Elton John lançou, em 1972. Ou quando a irmã do protagonista (vivida por Zooey Deschanel) apresenta a ele o hino “América”, de Simon & Garfunkel, lançada em 1968 — pesquisando agora, vejo como o diretor foi fiel ao sincronizar os lançamentos das música ao tempo em que a história se passa.

Há muita história de bastidor ao redor do filme. Crowe não queria que o filme tivesse um título, mas foi derrotado pelo departamento de marketing do estúdio. Em um texto publicado no luxuoso box com cinco CDs cobrindo todas as músicas pensadas para o filme, o cineasta também revela quando foi pedir ao guitarrista Jimmy Page e ao vocalista Robert Plant para ter músicas do Led Zeppelin no longa-metragem. “Quando acabou, Plant se levantou e disse: ‘Sua mãe era realmente assim?’ A resposta foi: ‘Isso e mais’”, recordou o diretor, referindo-se à uma sessão privada para os dois músicos.

Para a revista Rolling Stone do mundo real, o diretor narrou algo daquela sessão: “Então, veio a cena: ‘Eu sou o deus dourado!’, e Robert Plant apenas riu. Tipo, foi a melhor risada dele…”. Crowe se referia há uma cena em que o guitarrista do Stillwater, Russell (Billy Crudup), sobe no telhado de uma casa sob o efeito de drogas pesadas e grita a frase épica do deus dourado, fato que teria acontecido com o vocalista do Led Zeppelin, na vida real. “Escutamos Jimmy Page perguntar a Robert Plant: ‘Eu não disse isso… ou eu fiz isso mesmo?’ E Robert Plant lhe respondeu aos risos: ‘Eu disse isso!’”, recordou.

Tem também a sequência em que a mãe de William Miller (vivida por Frances McDormand) aprende, com “Stairway to heaven”, que o rock pode ser doce e singelo (mas a cena foi cortada das duas versões, embora possa ser vista, sem a canção, nos extras no DVD ou no YouTube).

Goste, ou não, de rock, seja, ou não, aspirante a jornalista, Quase Famosos é um filme tão encantador que se comunica com qualquer tipo de público. Afinal, as lições de amizade, perseverança e companheiros contidas no enredo são bastante universais.

*Coluina publicada originalmente na edição impressa do dia 22  de abril de 2025.

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A União

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