Denúncia do golpe: ministros abandonam ‘juridiquês’ e usam votos para rebater narrativas políticas e das redes

Ministro Luiz Fux traduziu: ‘Aqui temos que falar mais fácil para a sociedade entender’. A sessão desta quarta que transformou o ex-presidente Jair Bolsonaro e mais sete em reús consolidou uma tendência que vem marcando os grandes julgamentos do Supremo, transmitidos em rede nacional. O juridiquês está dando lugar a discursos mais claros, firmes e com frases de efeito – o que facilita o entendimento de quem assiste e não exige conhecimento técnico para conseguir entender.
A ‘tendência’ de votos em português claro também leva em conta algo que a Corte entendeu: a comunicação das narrativas golpistas contra o STF é muito clara e direta. Portanto desmentir narrativas também exige a mesma clareza e objetividade.
O próprio ministro Luiz Fux deixou isso claro quando foi explicar como se analisa o caminho do crime, de forma geral, até chegar ao caso concreto. “Vamos ter que lembrar do Aníbal Bruno que falava do caminho do crime, ou do inter criminis. Tema cogitação, tem a preparação, a execução e a consumação . Só que com palavras em latim, cogitatio, enfim, mas aqui temos que falar mais fácil para a sociedade entender”.
O relator, ministro Alexandre de Moraes, fez falas bem práticas usando os termos da falsa narrativa de bolsonaristas contra eles mesmos. Bolsonaristas espalham a ideia de que Débora dos Santos apenas pichou a estátua do STF com batom e Moraes quer condená-la a 14 anos. Ela fez mais que isso: escondeu provas e participou de acampamento golpista. Hoje, em seu voto, Moraes reproduziu vídeo com imagens da quebradeira e da violência do 8 de janeiro e disse “não vi batom nem bíblia aqui”, ironizou.
Ele usou Bíblia porque bolsonaristas disseminam que senhoras, religiosas, estavam ali sem ter a intenção criminosa, o que é falso. O ministro Flávio Dino pegou carona nessa narrativa e foi direto: se houvesse pessoas com bíblia querendo rezar teriam ido à igreja. “Ah mas fulano de tal estava apenas com uma bíblia. Se uma pessoa passa em frete a Catedral de Brasília e resolve rezar, ela não vai rezar em frente ao Congresso Nacional , então não iria à Praça dos 3 Poderes para fazer orações”. A catedral é a igreja cartão postal de Brasília e que fica bem próxima à praça dos 3 poderes.
A ministra Carmem Lúcia seguiu seu roteiro de clareza e frases fortes, que marca toda a sua trajetória no STF e faz de seus discursos um dos mais esperados em julgamentos de grandes repercussões. “Ditadura mata, ditadura vive da morte”, ao rebater narrativas de que o golpe não se consumou e ninguém morreu no 8 de janeiro, uma tese que relativiza a tentativa de golpe.
O ministro Cristiano Zanin, que preside a turma, também rebateu teses políticas e de redes sociais de que havia muita gente no 8 de janeiro que seria condenadas sem ter participação efetiva . “Não adianta dizer que a pessoa não estava no 8 de janeiro se ela participou de uma série de atos que culminaram nos atos antidemocráticos”.
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