A resistência do sonho

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Ednaldo do Egypto dedicou sua vida às artes cênicas. Não bastasse o deslumbramento com a abertura das cortinas aos oito anos de idade, a iniciação nos palcos aos 13 e dezenas de anos de estudo a respeito da chamada quinta arte, o teatrólogo resolveu construir, na Avenida Maria Rosa, no bairro pessoense de Manaíra, seu próprio teatro. A casa ficou pronta em 27 de março de 1995, Dia Mundial do Teatro e Dia Nacional do Circo. Para celebrar os 30 anos de luta e resistência que sustentam o chão dessa fábrica de sonhos, o espetáculo O Último Sol — com texto e atuação de Márcio Tadeu — será apresentado no local amanhã, às 20h. Os ingressos estão sendo vendidos por meio do link

https://wa.me/qr/6A4XD2OFHP5RB1, no valor simbólico de R$ 10.

 

Márcio Tadeu estreou “O Último Sol” no Rio de Janeiro e agora mostra o espetáculo em João Pessoa | Foto: Divulgaçãox

“É um grande celeiro de teatro para crianças. O senhor Ednaldo do Egypto deixou uma grande herança para os fazedores de arte”, afirma a atriz e diretora Letícia Rodrigues. “Sua existência celebra a resistência do teatro e da cultura na nossa cidade”, afirma ela, que, além de diretora do espetáculo, também ficou responsável por conduzir os ensaios, mesmo à distância, durante a temporada inicial da peça no Rio de Janeiro.

O enredo aborda os temas da perda e da dor, mas também da esperança e resiliência, voltando um olhar crítico e reflexivo sobre a relação entre o homem e a natureza e destacando a importância da conexão com o meio ambiente.

“Foi muito engraçado dirigir o Márcio. Na época eu dirigi online, então ele abria a câmera e eu determinava a posição, quando ele ia para o palco, o lugar de colocar a oratória, um quadro. Foi muito bacana”, atesta a diretora.

O ator e humorista Márcio Tadeu já participou de novelas, como Morde e Assopra, Avenida Brasil e Terra e Paixão. O monólogo narra a história de Seu Zé, um homem sertanejo que, diante das adversidades provocadas pela seca, vê sua família dizimada e lida com a partida do único filho remanescente para São Paulo.

O filho promete retornar para buscar os pais e tirá-los da miséria, mas não cumpre a promessa, deixando Seu Zé em uma espera permeada por dor e esperança. Letícia ressalta que a história pretende focar exatamente no êxodo dos nordestinos em busca do sonho na cidade grande, como São Paulo.

“Quando chega lá, percebe que não há lugar melhor do que a sua casa”, afirma ela sobre a peça, que também trata sobre fé e aponta para a crença recorrente dos mais necessitados de que sempre há de haver percalços em tudo na vida.

“A peça aborda questões como relações familiares, fé e resiliência. É impossível não se emocionar com a história de Seu Zé e suas reflexões sobre a vida e a solidão”, comenta Márcio.

Ele relata que a inspiração para o texto veio de uma conversa com um senhor que conheceu no ano 2000 e que autorizou o ator a transformar sua história em obra teatral. A estreia ocorreu no Teatro Fashion Mall, no Rio de Janeiro, em um dia de forte chuva, que inicialmente preocupou a equipe. No entanto, o espetáculo surpreendeu ao atrair um público numeroso.

Márcio recorda com entusiasmo esse momento: “Foi casa lotada, aplausos de cena aberta e muita emoção. Isso mostrou que, mesmo em condições adversas, o teatro tem um poder transformador”.

Desde então, a peça percorreu diferentes cidades, como Fortaleza, Juazeiro do Norte e Potengi, antes de ser apresentada pela primeira vez em João Pessoa.

Elementos sensoriais

O Último Sol é descrito como um espetáculo sensorial, que utiliza recursos de som e cheiro para transportar o público ao Sertão nordestino. A sonoplastia combina sons de animais e elementos da natureza com música sertaneja, criando uma imersão completa para os espectadores.

“A plateia sente o cheiro do Sertão e é envolvida pelos sons e pela ambientação. É como se eles realmente estivessem naquele lugar com Seu Zé”, explica Letícia.

Outro destaque é a interação entre o protagonista e o cachorro Xaréu, que acompanha Seu Zé. Para Márcio, o animal representa a amizade fiel e o vínculo com a vida simples do campo.

A peça tem recebido relatos emocionantes de espectadores que se identificam com a narrativa. Durante uma apresentação no Rio de Janeiro, uma jovem revelou que a história de Seu Zé refletia a trajetória de seu próprio pai, que havia retornado à família após 40 anos de ausência. “Esse tipo de resposta do público é o que dá sentido ao teatro. É a conexão humana em sua forma mais pura”, reflete Márcio.

O ator assina também o figurino e o cenário da peça, enquanto a iluminação é responsabilidade de David Cleberson.

O palco

Dedicado à valorização da cultura paraibana, o Teatro Ednaldo do Egypto foi tombado em 2023 como patrimônio cultural do município e abriga sob seu teto diversas iniciativas artístico-culturais.

“A gente conseguiu tombar o prédio do Ednaldo do Egypto. Nós temos festividades no teatro, como o Prêmio Ednaldo do Egypto — é o quarto ano que a gente promove o prêmio, que enaltece os artistas paraibanos que passam pela casa durante o ano”, aponta Letícia. “Nós temos a Cena Preta, o Agosto do Estudante, em que os estudantes da rede do município vão para o teatro para um festival estudantil. Em janeiro, as Férias no Teatro, com curso de férias. É o teatro mais movimentado daqui de João Pessoa”, acrescenta.

De férias e encaminhando-se para sua oitava participação em novelas, Márcio Tadeu conta que está com as expectativas renovadas para a apresentação de O Último Sol. “A gente espera que as pessoas atendam esse convite carinhoso e possam prestigiar esse paraibano, que há 18 anos vem representando seu estado a nível nacional e internacional”, declara.

“Queremos que o teatro seja um espaço acolhedor e acessível para todos. Este é o nosso compromisso com a arte”, conclui Letícia.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 26 de março de 2025.

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A União

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