Fernando Cunha Lima é preso em PE

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Acabou a saga da Polícia Civil da Paraíba (PCPB) nas buscas por Fernando Cunha Lima, acusado de ter estuprado seis crianças, enquanto atuava como pediatra, em João Pessoa. O médico foi preso preventivamente na manhã de ontem, em um bairro de classe média baixa de Paulista (PE), Região Metropolitana de Recife (PE), após ter passado quatro meses foragido. A operação foi conduzida pela Delegacia de Repressão ao Crime Organizado (Draco), que contou com o apoio do setor de Inteligência da PCPB. Após a prisão, Fernando foi encaminhado ao Instituto de Polícia Científica (IPC), para submeter-se ao laudo traumatológico; e, agora, aguarda a audiência de custódia, que será realizada na capital pernambucana.

Ao chegar à Cidade da Polícia Civil, em João Pessoa, local de sua detenção antes da audiência de custódia, o pediatra alegou que esteve foragido por orientação dos advogados. Ele também negou o cometimento dos crimes — inclusive, de um abuso do qual o acusou sua sobrinha — e demonstrou confiança em uma rápida liberação. “Com a minha doença, eu não vou ficar preso. Tenho certeza de que vou ficar só dois dias. E não teve nenhuma vítima. Eu tenho 55 anos de pediatria e 20 mil clientes atendidos. Por que só fiz alguma coisa com três ou dois? E minha sobrinha é a pior mentirosa; ela fez isso para atingir o pai dela, que é meu amigo”, afirmou.

Já o advogado do médico, Aécio Farias, disse não ter tido contato com seu cliente desde a audiência de instrução, que aconteceu em outubro de 2024. Segundo ele, a defesa impetrou um pedido de habeas corpus, para que o acusado seja transferido para Recife. “Já tinha sido feito um pedido, em fevereiro, para que a juíza da 4a Vara Criminal da capital permitisse que ele cumprisse a prisão preventiva em Pernambuco, porque a família não mais habita aqui e ele tem receio pela sua integridade física. Agora, vamos aguardar a audiência de custódia e pedir ao juiz que o ponha em prisão domiciliar, ou que ele possa cumprir a prisão em Pernambuco”, revelou.

O advogado das vítimas, Bruno Girão, vê a detenção como uma vitória e espera que seja negada a solicitação para convertê-la em prisão domiciliar. Para o defensor, isso se justifica pelo histórico de fuga do acusado. “No dia em que foi feito o primeiro cumprimento do mandado de prisão na sua residência, em novembro, foi verificado que ele já teria foragido há alguns dias. E nós temos relatos de que um dos filhos dele vendeu um imóvel, pedindo parte do pagamento em espécie, para financiar essa fuga. Se a Justiça pecar mais uma vez e conceder uma prisão domiciliar, sob um falso pretexto de que ele seria um ser frágil, diante da idade e das supostas comorbidades, com toda a certeza, ele irá fugir novamente e trazer um risco às vítimas”, argumentou.

Prisão e fuga

Fernando Cunha Lima estava na Região Metropolitana de Recife desde novembro de 2024, tendo mudado de endereço algumas vezes para despistar as investigações. Segundo o delegado da Draco, Rafael Bianchi, como o pediatra passava o tempo todo dentro de casa, o fator essencial para sua descoberta foi a esposa, que chegou a frequentar comércios da cidade. Foi assim que, na manhã de ontem, os policiais seguiram um carro de entrega de mantimentos e encontraram o apartamento onde o casal morava. Bianchi contou, ainda, que a Draco foi recebida pela própria esposa do pediatra e que não houve resistência à prisão.

“Ontem, ele também nos revelou que estava nesse endereço já fazia alguns meses e disse que não estava em contato com os familiares, falando apenas por telefone celular. Mas nós conseguimos descobrir que pessoas fora da família também estavam dando apoio logístico, com alimentação, compra de remédios, de aparelho celular e de chip de celular. Nós identificamos algumas dessas pessoas e iremos oficiar a Polícia Civil de Pernambuco para iniciar a investigação”, complementou.

O delegado-geral da PCPB, André Rabelo, reforçou que a instituição nunca deixou de procurar por Fernando. Para ele, o período em que o médico esteve foragido consistiu em um “show de horrores”, que incluiu o uso de seu CPF, em compras feitas por outras pessoas, para despistar a polícia, e cujo ápice deu-se na declaração, proferida ontem, de que ele ficaria apenas dois dias preso. “Além do cometimento do crime, há uma instrução e um poderio econômico para burlar o aparato de Justiça do nosso estado, ao invés de tentar responder e resolver o problema”, pontuou.

Inquéritos

As acusações contra Fernando Cunha Lima foram investigadas em dois inquéritos, que identificaram sete casos de estupro contra seis vítimas, sendo cinco meninas e um menino. Duas sobrinhas também relataram abusos, mas esses casos já prescreveram, como explicou o promotor de Justiça Bruno Lins. “Durante a audiência de instrução da primeira denúncia, que trata de quatro vítimas, as crianças e seus familiares prestaram depoimentos fortes, confirmando tudo o que foi dito à polícia acerca dos abusos. Esses depoimentos levaram, no entender do Ministério Público, à necessária condenação do médico”, defendeu.

Responsável pelas investigações, a delegada Andrea Lima, da Delegacia de Repressão a Crimes contra a Infância e Juventude, destacou a celeridade nos inquéritos, ambos concluídos em menos de 30 dias, e comentou, ainda, o simbolismo contido na data da prisão do pediatra — véspera do Dia Internacional da Mulher. “A maioria das vítimas de abuso sexual são do sexo feminino. Essa é uma coisa que tem que ter visibilidade sempre, pois ela deixa marcas para o resto da vida. E a denúncia é muito importante, porque o abuso sexual, hoje, ainda é muito subnotificado. Por isso, essa prisão foi de extrema importância”, apontou.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 08 de março de 2025.

 

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A União

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