Opel Kadett de ‘Ainda Estou Aqui’ está em exposição no Dream Car Museum

Renascido da ferrugem para viver dias de glória. Antes de ser alçado a estrela mundial do cinema, o Opel Kadett 1968 usado no filme “Ainda Estou Aqui” – vencedor do Oscar de melhor “Filme Internacional” – ficou por mais de 20 anos parado em uma garagem de São Paulo, até ser comprado e restaurado por um colecionador gaúcho, na época, ele não era vermelho, mas sim amarelo com teto em preto vinil.

Depois de restaurado, ganhou até prêmio na Expoclassic, maior mostra de veículos antigos em área coberta do Brasil, realizada em Novo Hamburgo (RS). A conquista do Oscar pelo filme brasileiro coroou de vez a trajetória deste Opel Kadett, que está em exposição no Dream Car Museum de São Roque, interior de São Paulo, até dia 17 de março.

O Opel Kadett antes de ser restaurado no Rio Grande do Sul.

Estima-se que ele tenha sido importado da Alemanha para o Brasil ainda zero-quilômetro lá nos anos 1960. Certo dia, na década de 1990, o colecionador Ricardo Antônio Amoedo, conhecido no meio do antigomobilismo como Ricardo Jacó, andava pela rua no bairro de Pirituba, na capital paulista, quando viu o carro parado na rua.

“Gostei do modelo, perguntei de quem era e fiz a proposta. Comprei de um barbeiro, bem barato, por cerca de R$ 1,5 mil. Depois, busquei no Uruguai e nos Estados Unidos algumas peças que estavam faltando. Mas usei durante um tempo e depois deixei ele parado. Porque eu tenho essa mania de usar os carros e depois deixá-los de lado”, afirma Jacó.

O Opel Kadett depois de ser restaurado em exposição no Rio Grande do Sul.

Durante os cerca de 20 anos em que ficou estacionado na garagem em São Paulo, o cupê sofreu com a umidade e a poeira. Àquela altura da vida merecia, sem dúvida, uma aposentadoria mais digna. Quis o destino que, em 2015, um colecionador da cidade de Carazinho, no Rio Grande do Sul, visitasse o galpão e o tirasse daquela situação.

Já em solo gaúcho, três meses depois, foi adquirido pelo vice-presidente financeiro do Veteran Car Club Novo Hamburgo, o médico Alexandre Gireli Colcete.

“O veículo tinha muita ferrugem e precisou ser restaurado, recebendo nova pintura. Além de retificar o motor, fizemos toda a suspensão e uma revisão geral. Já o interior estava em ótimo estado e foi mantido todo original.”

Depois de um ano de muito trabalho, o Kadett estava de volta à velha forma. Só que o desempenho proporcionado pelo motor 1.1 de 4 cilindros – a gasolina e refrigerado a ar –, com seus 60 cavalos de potência e 8,6kgfm de torque não entusiasmava muito.

O motor, para os dias atuais, não entusiasma muito.

“O carro era bom de dirigir, apesar de um pouco lento, tornando-se ideal apenas para pequenos deslocamentos. Entretanto, na época dele, no final dos anos 60, era o que tínhamos à disposição no mercado. O câmbio manual de quatro marchas tem relações curtas. Em 2016, o modelo participou da Expoclassic, recebendo premiação em uma das categorias”, lembra Colcete.

A carreira de “ator” dele começou a ser trilhada em 2023, quando o empresário paulistano Fábio Costa Martins recebeu o pedido para que arranjasse um Opel Kadett vermelho para ser usado na produção do filme. Fábio é dono da empresa “Veículos de Cena”, especializada no aluguel de modelos para emissoras de TV e produtoras de cinema do Brasil e exterior.

O modelo rodou o país antes de ‘conquistar’ o mundo.

Após muita negociação, através do intermédio de Jacó, o antigo dono paulista, Fábio e o filho Gabriel compraram o veículo do gaúcho Alexandre Colcete. Mas o pedido da produção do filme era bem específico: o Opel tinha que ser vermelho. Sem problemas para Fábio, apelidado por alguns de McGyver, pois para ele não há problema insolúvel.

“Tudo foi feito em um prazo recorde: em apenas cinco dias, desmontamos, preparamos, pintamos e montamos novamente o veículo. Antes de entregar à equipe do filme, ainda eliminamos vários ruídos do modelo, pois sei que o diretor Walter Salles é extremamente exigente”, relembra Fábio.

O interior é todo original.

As gravações do filme começaram em junho de 2023 no Rio de Janeiro e o carro ficou à disposição da equipe durante sete meses. O modelo aparece em diversas cenas, inclusive no emblemático momento onde o ex-deputado Rubens Paiva, interpretado por Selton Mello, sai para dirigir o carro pela última vez. Na trama, também é guiado por Fernanda Torres, que interpreta Eunice Paiva.

O médico gaúcho ficou surpreso ao constatar que aquele era o mesmo carro que havia lhe pertencido por oito anos. “Falaram apenas que o veículo seria usado em um filme sobre um político brasileiro. Eu me sinto gratificado pelo fato de um carro que restaurei e ajudei a conservar tenha sido utilizado nas gravações de uma obra com grande importância histórica, ganhadora de um Oscar”, aponta.

Opel Kadett do vecendor do Oscar “Ainda Estou Aqui”.

O exemplar, “vencedor do Oscar”, agora está exposto na ilha principal do Dream Car Museum de São Roque, a 60 quilômetros da capital paulista. No acervo, ocupa lugar de honra: a ilha central rotativa, permitindo que os fãs fotografem e filmem à vontade.

Porém, o Opel Kadett permanecerá em exposição somente até o próximo dia 17, pois será leiloado em 22 de março. Com o passe supervalorizado pelo sucesso do filme, a expectativa é que ele alcance valores estratosféricos, incomuns para este tipo de veículo, provavelmente passando dos R$ 300 mil.

Banner do Opel Kadett de “Ainda Estou Aqui”.

Opel Kadett de ‘Ainda Estou Aqui’ está em exposição no Dream Car Museum (fotos: divulgação e arquivo).

O Opel Kadett depois de ser restaurado em exposição no Rio Grande do Sul.

Opel Kadett de “Ainda Estou Aqui”.

Opel Kadett de “Ainda Estou Aqui”.

Opel Kadett de “Ainda Estou Aqui”.

Opel Kadett de “Ainda Estou Aqui”.

Opel Kadett de “Ainda Estou Aqui”.

Opel Kadett de “Ainda Estou Aqui”.

O Opel Kadett antes de ser restaurado no Rio Grande do Sul.