O LIVRO DE UMA CIDADE

Não são muitas as cidades que têm a sorte de ser descritas em um livro que registre todas suas características. No entanto, uma pequena cidadezinha plantada em pleno sertão do Rio Grande do Norte encontrou, por assim dizer, seu biógrafo na pessoa de um filho escritor: Manoel Onofre Jr. Homenageando a terra natal ele vem de publicar o livro “Martins – A cidade e a serra”, já em sua quarta edição (Selo Vermelho Edições – Natal – 2024).  É um belo livro que exibe ao leitor tudo que há de interessante na cidade e arredores.

O livro se abre com uma síntese histórica em que o autor registra os mais importantes acontecimentos que marcaram a cidade e o município no correr dos anos. Nesse campo, aliás, ele se mostra senhor da matéria e nada lhe escapa. No fim do Século XIX era considerada “cidade da imperatriz” graças ao solo fértil e clima ameno, curiosidade que o autor descreve em minúcias, enriquecendo com notas esclarecedoras. Capítulo dos mais interessantes é aquele que descreve o período do cangaço na região. Como outras pequenas comunidades, o temor das invasões era geral e Martins foi vítima constante de invasões de grupos cangaceiros provocando até a mudança de moradores. Recorda, entre outras, a invasão do célebre Jesuíno Brilhante e seu bando com a intenção de matar um inimigo que se encontrava preso na cadeia local. Refere-se depois ao período de 1927 e 1928  em que ocorreram frequentes incursões de cangaceiros inclusive o fracassado ataque a Mossoró em que Lampião foi derrotado e se retirou “com o rabo entre as pernas.” 

Aborda em seguida o panorama da cidade, o município e a comarca, a religião, os santuários, a educação e a cultura, as festas populares, o casario antigo, o célebre sobrado, considerado um dos mais importantes monumentos arquitetônicos do Estado. Como se vê, nada escapa ao olhar arguto do autor, misto de historiador e cronista.

E então a Serra se apresenta. 

A Serra de Martins é um imenso mole natural que mede 24 Km de extensão por 18 de largura e com 760 metros de altura. Tem clima ameno e chega a fazer frio durante o inverno (15 graus). Há dias de “neve” (névoa em que as nuvens parecem tocar o chão.

Em seu território estão municípios, povoados e lugarejos. O terreno é propício para o cultivo de frutas e existem muitos sítios que a ele se dedicam. Vários mirantes proporcionam ao visitante uma vista extraordinária do sertão em derredor que fica parecendo um mar. Situada no sopé da Serra, a Casa de Pedra é uma imensa caverna, a segunda maior do país. É dividida em vários recintos menores, alguns profundos e escuros e conta com inúmeros detalhes que fazem da Serra um grande atrativo para visitantes e turistas.   

A Serra tem atraído a visita de cientistas, professores, escritores e poetas. Destacam-se entre eles Luís da Câmara Cascudo, Mário de Andrade e o escritor norte-americano John dos Passos que ficou encantado com o local. O autor relaciona ainda as personalidades históricas da cidade, os martinenses ilustres, figuras populares, que toda cidade tem as suas e mil outros aspectos que moldam o retrato de Martins;

O livro se fecha com uma rica iconografia e anexos atestatórios de fatos importantes. As referências biográficas são múltiplas e ricas.

Como se vê, é um livro que engrandece Martins e o autor, seu filho Manoel Onofre. Jr.    

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