UFSC na Mídia: Professora da UFSC atua na área de doação e transplante de órgãos há 25 anos

Neide Knihs, enfermeira do HU e professora do curso de Enfermagem da UFSC.

Uma reportagem da Folha de S. Paulo publicada no dia 19 de outubro abordou todas as etapas e os profissionais envolvidos nos processos de doação e transplante de órgãos no Brasil. Conforme informa o texto, foram entrevistadas “três pessoas que trabalham em diferentes momentos desse fluxo: uma enfermeira especialista em acolher famílias de potenciais doadores, um motorista de ambulância de um hospital cardíaco e uma cirurgiã especializada em transplantes.”

Entre esses profissionais está Neide da Silva Knihs, 52 anos, que é professora da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e enfermeira do Hospital Universitário (HU/UFSC). Knihs ajudou a implementar sistemas de qualidade nas centrais estaduais de transplantes do Paraná e de Santa Catarina e participou da criação de serviços de transplante em dois hospitais.

A reportagem explica que a doação de órgãos para transplante envolve uma logística complexa, que precisa ser muito eficiente e, sobretudo, rápida: “É preciso correr contra o tempo para garantir que todas as etapas aconteçam no momento certo e que os órgãos de um doador cheguem até quem vai recebê-los — que pode estar em outro bairro, outra cidade ou até outro estado do país”. Isso se deve, sobretudo, pelo tempo de duração dos órgãos sem irrigação sanguínea: “um rim dura aproximadamente 36 horas fora do corpo humano. Um fígado, 12. Um pulmão, seis. Um coração, apenas quatro”.

A primeira etapa desse processo envolve “conversar com a família do paciente que teve morte encefálica para verificar se autoriza a doação”. Neste momento delicado, um profissional sensível e preparado é fundamental para garantir que a autorização seja feita a tempo, respeitando o momento de luto da família. É neste instante crucial que atua a professora Neide Knihs. Confira o que diz a reportagem sobre seu trabalho nos processos de transplante de órgãos:

Foto: Alexandre Cypriano/Folhapress.

Trabalhando na área de transplantes desde 1999, a enfermeira Neide Knihs é uma especialista em conversas difíceis. Desde que passou por um treinamento de comunicação em situações críticas na Espanha, em 2010, ela se tornou uma referência de como agir em um momento delicado: o de comunicar a morte encefálica de um paciente a seus familiares e buscar a autorização deles para a doação de órgãos e tecidos.

Segundo Knihs, pesquisas mostram que mais de 80% dos brasileiros são favoráveis à doação de órgãos. No entanto, a taxa de recusa é alta: 45% na média nacional, chegando a quase 80% em alguns estados. 

“Por que a recusa é grande? Um dos fatores é que muitos profissionais não estão preparados para lidar com o processo de luto da família, compreender a hora em que eles aceitaram a morte e se comunicar adequadamente”, afirma ela, que participa de capacitações para ensinar médicos, enfermeiros, psicólogos e assistentes sociais a lidar com essa tarefa. Em Santa Catarina, onde ela mora, a taxa de recusa é de apenas 25%.

Um levantamento interno do HU mostrou que, no caso de doações de múltiplos órgãos, de 65 a 70 profissionais são envolvidos em todo o fluxo — da notificação de que surgiu um doador até a saída dos órgãos, ou seja, sem contar o transporte e o transplante.

Um ponto fundamental ao conversar com as famílias, segundo Knihs, é “ser verdadeiro desde o primeiro momento”. “Tem que dizer que a pessoa está muito grave, que o risco de morte é muito grande. Assim eles já vão elaborando o processo de luto”, afirma.

Foto: Alexandre Cypriano/Folhapress.

Saber a hora certa de tocar no assunto da doação também faz muita diferença. “Você pode ter pressa para acabar o processo, para liberar a vaga na UTI, mas a família está perdendo um ente querido. É outro ritmo, e temos que respeitar o tempo de eles assimilarem as informações, de entenderem que não tem mais jeito mesmo, que mesmo que o paciente esteja quentinho e com o coração batendo, ele está morto porque teve morte encefálica”, diz.

É por isso que, quando ela entra para uma entrevista, já sabe que não tem hora para sair. “Principalmente com famílias de crianças e adolescentes, às vezes é preciso voltar no dia seguinte. Já tive entrevista que durou dois ou três dias. Uma vez, uma médica disse: Preciso da sua decisão. Eu respondi: ‘A senhora decide comigo. Eles não estão prontos. Se eu falar agora, vai dar recusa’. É essa compreensão que os profissionais precisam ter.”

De acordo com Knihs, a comunicação sobre o processo da doação deve ser simples e clara, com uma escuta ativa. “Quando estou com a família, eu me desconecto para escutar. É o momento deles, não é o meu. Aí eles vão tirando as dúvidas, vejo do que eles precisam.”

A enfermeira diz que nunca teve afinidade para trabalhar dentro de uma UTI com os pacientes sedados e que trabalhar em contato com as famílias exige “compaixão, empatia, escuta, coração e alma”. “Eu amo isso. Me sinto acolhendo. Não estou ali pela doação, a doação é uma consequência. Meu objetivo principal é cuidar dessas famílias.”

Confirma a reportagem na íntegra aqui.

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