Justiça determina derrubada de comentários com ataques racistas contra Miss São Paulo e pede IPs de 93 usuários do Instagram


Comentários criminosos foram postados nas redes sociais após a divulgação do resultado do concurso, em julho deste ano. Entre os xingamentos, ela foi chamada de ‘miss Cracolândia’ e acusada de ter sido escolhida ‘miss por cota’. Caso também é investigado pela Polícia Federal. Milla Vieira foi eleita ‘Miss Universe São Paulo’
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A Justiça de São Paulo determinou nesta quarta-feira (25) a derrubada de comentários racistas contra a modelo Milla Vieira, eleita Miss Universe São Paulo em julho, e que o Instagram forneça os endereços de IPs de 93 usuários.
O juiz Antonio Manssur Filho definiu que a Meta, dona do Instagram, tem cinco dias para cumprir a decisão liminar, com pena de multa em R$ 50 mil. “Que sejam fornecidos ao juízo os IPs dos usuários que postaram os comentários, horários e posição geográfica quando da criação e acessos da conta do usuário, além de dados cadastrais”, escreveu o magistrado.
A ação corre pela 2ª Vara Cível de São Paulo, pelo Foro Regional Tatuapé, desde 30 de agosto. No dia 23 deste mês, a defesa da miss também apresentou os links de três perfis com inúmeros comentários contra a vítima para que fossem derrubados pela rede social.
Em nota, Eduardo Lemos Barbosa, responsável pela defesa da miss, disse que “foram ofensas de cunho racista e xenófobas, mas que a Justiça entendeu serem nocivas a ela, que sofreu grave abalo emocional”.
Procurada pelo g1, a Meta não encaminhou um posicionamento até a última atualização desta reportagem.
“Acho importante que as pessoas entendam a importância de não aceitarem esse tipo de agressão e lutarem pelos seus direitos”, comentou a modelo ao g1.
Um inquérito policial chegou a ser aberto no 58º DP de São Paulo, e o caso foi encaminhado à Polícia Federal em virtude da “amplitude nacional” dos ataques, e está em fase de investigação desde agosto deste ano.
Ataques nas redes
Comentários apresentados à Justiça; e comentários nesta quarta-feira
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Os comentários criminosos foram feitos nas redes sociais após a divulgação do resultado do concurso, realizado em 24 de julho. Diversos usuários escreveram contestando a vitória de Milla, uma mulher negra. Entre as frases, estavam:
“Ganhou pela cota, só pode”;
“Calado eu me deito, sem processo me levanto”;
“Por que agora tem cota reservada nestes concursos?”
“Perderam a noção de beleza mesmo, lacração tá f… hoje em dia”.
Comentários racistas em publicação sobre a Miss São Paulo
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Em entrevista à GloboNews, na época, a modelo falou sobre o sonho de vencer o concurso e a indignação ao saber dos ataques.
“Eu ganhei um concurso que era meu sonho participar. No dia seguinte, quando eu abri a minha rede social, eu já comecei a entender e ver os ataques direcionados a mim de forma gratuita”, relatou a miss.
“Eu percebi que estou em todas as redes sociais, mas não de uma forma positiva. Infelizmente, de uma maneira bem negativa, as pessoas me comparando a animais”, relatou Mila depois que começou a ler os ataques racistas.
Miss Universe SP relata ataques racistas
“Entre as 31 candidatas, todas tinham as mesmas chances, e eu fui fazendo meu trabalho dia após dia, me dedicando muito, me preparando muito. Era aula de comunicação, oratória. Eu ganho o concurso e não sou merecedora? Conversando com os meus coordenadores, eles me contaram que a minha vitória foi unanimidade entre os jurados”, relatou a miss.
Adriana Camila, conhecida como Milla Vieira, nasceu na Zona Norte de São Paulo e trabalha desde os 11 anos, quando vendia doces na barraca dos pais.
Em 2014, ela venceu um concurso de miss e foi para a Polônia representar o Brasil. Depois da disputa, ela começou a carreira de modelo fora do país. Segundo a defesa, ela aprendeu inglês, espanhol e italiano.
Em 2021, Milla voltou ao Brasil. Neste ano, ela participou do concurso Miss Universe São Paulo, em julho, e foi eleita. Desde então, a modelo passou a receber ataques pelas redes sociais.
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