Cidade onde jornalista e candidata a prefeita sofreu atentado tem histórico de execuções ligadas à política; VEJA


Carro onde estava Thaís Margarido (União Brasil) foi alvo de tiros durante uma agenda de campanha. No ano passado, outro jornalista, que era pré-candidato a prefeito, também sofreu um ataque e morreu em Guarujá (SP). Thaís Margarido sofreu tentativa de homicídio menos de um ano depois de Thiago Rodrigues ser morto a tiros em Guarujá (SP)
Reprodução
A tentativa de homicídio contra a jornalista e candidata a prefeita de Guarujá (SP) Thaís Margarido (União Brasil) aconteceu menos de um ano depois da execução do pré-candidato a prefeito na cidade Thiago Rodrigues, que também era repórter, assim como Thaís foi por grande parte da carreira.
O assassinato de Thiago, no entanto, não é um caso isolado na cidade, conhecida como a Pérola do Atlântico. Nos últimos 26 anos, outros seis pessoas ligadas à política foram executadas. O g1 listou todos os casos, que podem ser conferidos abaixo.
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O atentado contra Thaís ocorreu no domingo (22), no bairro Santa Cruz dos Navegantes. Em nota, a assessoria da candidata informou que ela havia participado de uma caminhada eleitoral. Quando deixava o local, a candidata teve o carro atingido por tiros em uma área de mata na estrada.
A assessora, que conduzia o veículo, conseguiu acelerar e escapar. Além das duas, a filha de Thais, de 8 anos, e a filha de um candidato a vereador, de 10, também estavam no veículo. Ninguém ficou ferido. A Polícia Civil investiga o caso.
Thaís Margarido (à esq.) teve o carro baleado após cumprir agenda de campanha em Guarujá (SP)
Jorge Moura/TV Tribuna e Marcela Damore/TV Tribuna
Thiago Rodrigues
Em dezembro do ano passado, o jornalista e empresário Thiago Rodrigues, de 34 anos, foi assassinado no bairro Paecara. Ele era pré-candidato a prefeito na cidade pelo partido Rede Sustentabilidade.
Um vídeo mostra o momento em que ele foi executado a tiros, durante uma festa na cidade. Nas imagens, é possível ver que ele tentou fugir do assassino, correndo pela rua mesmo após ser baleado, mas caiu na calçada e foi novamente alvejado (assista abaixo).
Vídeo mostra repórter e pré-candidato a prefeito sendo executado a tiros no litoral de SP
Segundo boletim de ocorrência, obtido pelo g1, o pré-candidato foi atingido com nove tiros: no tórax, costas, perna e braço direito. No local do crime, foram localizados 13 estojos de munição calibre 9mm e dois projéteis deflagrados.
Além de Thiago, outras seis pessoas ligadas à política foram mortas em Guarujá em 26 anos. Entre eles, vereadores eleitos, candidatos ao cargo e até um ex-secretário, veja:
Guarujá, SP, tem histórico de políticos mortos
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Vereador Orlando Falcão
Em 1997, o vereador Orlando Falcão foi morto com três tiros em uma lanchonete no bairro Enseada.
O suplente que assumiu a vaga dele chegou a ser preso sob acusação de ser o mandante do crime, mas foi absolvido.
Orlando Falcão foi morto em 1997
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Vereador Ernesto Pereira
Em 2001, o vereador Ernesto Pereira foi executado com mais de dez tiros ao chegar de carro em casa. As investigações apontaram crime passional à época.
Conforme apurado pelo g1 em arquivos da época, um segurança com ciúme da ex-companheira foi condenado e preso pelo crime.
Ernesto Pereira foi morto em 2001
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Candidato a vereador Frank Willian
Em 2008, o candidato a vereador Frank Willian foi morto na Vila Rã por dois homens em uma moto. A motivação política para o crime foi descartada à época.
Frank Willian foi morto em 2008.
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Vereador Luis Carlos Romazzini
Em 2010, o vereador Luis Carlos Romazzini foi assassinado com cinco tiros no quintal de casa, no bairro Jardim Conceiçãozinha, no distrito de Vicente de Carvalho.
O homem apontado à época como o responsável pelo crime foi condenado.
Luis Carlos Romazzini foi morto em 2010
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Ex-secretário Ricardo Augusto Joaquim
Em 2012, o ex-secretário de governo Ricardo Augusto Joaquim de Oliveira foi morto no bairro Jardim Conceiçãozinha.
Um ex-policial militar acusado pelo crime ficou preso por cinco anos. A suspeita à época era que dois empresários teriam ‘ordenado’ a morte do secretário.
Ricardo Augusto Joaquim de Oliveira foi morto em 2012
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Candidato a vereador Cerciran dos Santos Alves
Em 2016, o candidato a vereador Cerciran dos Santos Alves, também conhecido como ‘Celso do Transporte’, foi executado no bairro Jardim Boa Esperança, no distrito de Vicente de Carvalho.
Cerciran dos Santos Alves foi morto em 2016
Reprodução
Investigação sobre tentativa de homicídio
A Polícia Civil trabalha com diferentes linhas de investigação sobre a tentativa de homicídio. Segundo o delegado Antônio Sucupira Neto, não está descartada a possibilidade de crime eleitoral.
De acordo com o delegado, a Polícia Civil analisa as possibilidades de um crime contra a candidatura de Thaís ou direcionado à mulher como “pessoa física”. A resposta será divulgada na conclusão das investigações, ainda segundo ele.
Sucupira Neto também citou a chance de um “crime de oportunidade”, por conta da área onde ocorreu. “O veículo estava passando em um local com pouca movimentação. Então, poderia se tratar de uma tentativa de roubo”, disse ele, entrevista à TV Tribuna, emissora afiliada da Globo.
Por fim, o delegado afirmou que investigadores da Polícia Civil foram ao local na segunda-feira (23), em busca de provas que poderão indicar tanto a autoria quanto a motivação do crime.
Vítima se manifesta
Thaís Margarido sofreu tentativa de homicídio em Guarujá (SP)
Reprodução/Instagram e Marcela Damore/TV Tribuna
Thaís Margarido rebateu as acusações de que teria forjado a tentativa de homicídio para ganhar destaque durante as eleições. Em entrevista à TV Tribuna, a candidata citou “falta de humanidade” de pessoas que fizeram as críticas.
“Como vou colocar em risco a minha filha de oito anos, que nunca vai comigo para a campanha? Foi só naquele dia”, desabafou Thaís. “É inadmissível alguém pensar que eu teria forjado um atentado para ganhar notoriedade em plena campanha eleitoral”.
A candidata também disse que a filha mal conseguiu descansar durante a noite após o ocorrido. “Ela dormia e acordava assustada com os barulhos dos estampidos”, finalizou.
Antes do crime
Candidata a prefeita alvo de atentado publicou vídeos momentos antes
Thaís publicou vídeos nas redes sociais momentos antes do atentado. Nas imagens, ela aparece fazendo uma oração com moradores e desfilando pelas ruas do bairro, onde mais tarde teve o carro baleado. Thaís também havia publicado um vídeo respondendo como enfrentaria a criminalidade (assista acima).
Antes de ter o carro atingido por criminosos, Thaís havia publicado um vídeo no Instagram respondendo a uma mensagem enviada na rede social sobre a candidatura dela: “Lugar de mulher não é na política, como você pode nos convencer que é competente para lidar com a criminalidade sendo mulher?”.
Na resposta, Thaís disse que as mulheres devem ocupar o lugar onde queiram estar e se considera preparada para assumir o governo municipal. “Além de ser nascida e criada, repórter e jornalista que sou, quantas vezes fui a nossa voz na imprensa cobrando solução de problemas sociais dentro do Guarujá?”, disse a jornalista, em um vídeo gravado em um escritório político. A data da gravação do material não foi divulgada.
E complementou: “Acho que chegou o momento. Eu me sinto muito preparada e não tenho culpa de ter nascido mulher. Me sinto muito feliz sendo a mulher, as mulheres são muito mais resistentes, resilientes e firmes em tudo que fazem, sem falar da sensibilidade feminina”.
Thaís Margarido publicou vídeos momentos antes de atentado em Guarujá (SP)
Reprodução/Instagram
Ainda antes do atentado, a candidata havia usado os stories para publicar imagens da agenda eleitoral no bairro Santa Cruz dos Navegantes, região onde ocorreu o ataque. Em um dos vídeos, ela aparece com o microfone na mão, liderando uma caminhada com apoiadores no bairro.
Em seguida, ela publicou um momento de oração dentro de uma casa com dois moradores, colocando a mão no ombro de uma mulher que estava sentada. “Não existe algo mais forte que uma oração com fé”, escreveu.
“Um susto”
Thaís afirmou, por meio de nota, que a tentativa de homicídio foi como um “susto”. Apesar disso, ela ressaltou a gravidade do caso por conta da presença das crianças no carro baleado. “Não acredito que queriam me matar, mas me assustar. Só que isso foi muito grave, eu estava com duas crianças no banco de trás. Não compreendo ainda o motivo para isso”, disse.
Em entrevista à TV Tribuna, afiliada da Globo, a candidata acrescentou ter ficado “chocada” por passar pela tentativa de homicídio ao lado da filha de oito anos.
“Hoje levei a caçula [para a campanha] porque ela queria ir comigo […]. Só pedi para que ela, que estava com a amiguinha, se abaixasse [no carro]. A minha assessora ficou muito nervosa e pedi para ela acelerar. Queria sair daquele lugar, pois não sabia se estava sendo seguida”.
Thaís afirmou que nunca recebeu ameaças. “Já entrei em várias comunidades da cidade e sempre fui muito bem recebida. Nunca fui impedida [de entrar]”, disse ela. Por fim, Thaís relatou o sentimento de “tristeza” após o caso. Amo a minha cidade. Sou nascida e criada aqui. Estou cansada de ver o Guarujá na página policial, com notícias ruins”.
Após o caso, a candidata e a assessora dela prestaram depoimento na Delegacia Sede de Guarujá. Em nota, a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo (SSP-SP) informou que a Polícia Civil investiga a tentativa de homicídio, que ocorreu na noite de domingo (22), no bairro Santa Cruz dos Navegantes, em Guarujá.
“Na ocasião, a vítima estava em seu veículo com uma mulher de 53 anos e duas crianças de 8 e 10 anos, quando o carro foi atingido por diversos disparos de arma de fogo. Ninguém ficou ferido. A vítima compareceu à delegacia onde prestou depoimento. O carro foi apreendido e passará por perícia”, disse a SSP-SP
Candidatura
Por meio de nota, Thaís Margarido reafirmou o compromisso com a candidatura. No texto, a jornalista afirmou ter passado por um dia “muito especial” no bairro Santa Cruz antes do crime.
“As pessoas animadas, compartilhando ideias comigo. Nunca imaginei que poderia encerrar o domingo assim. Com a fé que tenho no meu Deus, eu não acredito que queriam me matar, mas me assustar”, afirmou Thaís.
Por fim, a candidata pontuou que não compreende os motivos para o crime. “Só preciso ficar com a minha família, entender o que aconteceu hoje, e seguir”.
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