Grammy Latino: Cátia já venceu!

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A indicação ao Grammy Latino para No Rastro de Catarina já é uma vitória para Cátia de França, de 77 anos, autora do repertório de 12 faixas que compõem o álbum lançado neste ano nas plataformas digitais (com um vinil a caminho). O disco é um dos cinco indicados ao Grammy Latino 2024 na categoria Melhor Álbum de Rock ou de Música Alternativa em Língua Portuguesa e, pense bem, estar entre os cinco melhores, dentre todos os álbuns lançados em língua portuguesa no último ano, mesmo limitado a categorias como “Rock” ou “Música Alternativa”, já é um feito e tanto. 

Cátia de França é finalista do importante prêmio da música | Foto: Murilo Alvesso/Divulgação

Para Cátia vencer a categoria, o júri deverá atestar que No Rastro de Catarina tem mais qualidades que os outros quatro concorrentes, a saber: Erasmo Esteves, o álbum póstumo de Erasmo Carlos; Me Chama de Gato que Eu Sou Sua Ana, da novata Ana Frango Elétrico; Ontem Eu Tinha Certeza (Hoje Eu Tenho Mais), do grupo paranaense Jovem Dionísio; e Lagum Ao Vivo, da banda mineira Lagum. Ou seja, Cátia de França tem chances reais de subir ao palco da premiação em Miami (EUA) na noite de 14 de novembro.

A almejada vitória de Cátia de França no Grammy Latino também será a vitória da Paraíba, afinal, No Rastro de Catarina foi gravado em João Pessoa (estúdio Peixe Boi), com equipe majoritariamente local, uma produção paraibana que Cátia de França tem enfatizado, com muito orgulho, em entrevistas que tem dado por aí — fiz duas entrevistas com Cátia de França sobre o novo álbum, uma para o Correio das Artes de abril deste ano, e outra para o História do Disco, programa da Parahyba FM dedicado a esmiuçar a produção de álbuns, comentados faixa a faixa com o(a) autor(a) da obra.

Portanto, No Rastro de Catarina é o primeiro álbum genuinamente paraibano a chegar ao Grammy Latino, apesar de Elba Ramalho no Maior São João do Mundo, gravado ao vivo no Parque do Povo, em Campina Grande, ter sido indicado em 2023. O disco é um registro do show que Elba Ramalho apresentou em junho de 2019 no qual, por pressuposto, contou com a equipe de Elba e técnicos de fora da Paraíba. Mais: lançado em 2022, saiu por um selo carioca (DeckDisc) apenas no formato digital. Por esse aspecto, No Rastro de Catarina, ainda por cima lançado por um selo local (Tuim Discos, com distribuição internacional pelo Amplifica Music), é legitimamente filho da Paraíba, de pai e mãe.

Elba, aliás, desponta como a paraibana com o maior número de indicações ao Grammy, nove no total. Venceu duas vezes: em 2008, na categoria Melhor Álbum de Raízes Brasileiras, com o disco Qual o Assunto que Mais Lhe Interessa?, batendo Victor & Leo, Harmonia do Samba, Trio Virgulino e Trio Curupira; e em 2009, quando sagrou-se vencedora da categoria Melhor Álbum Tropical Brasileiro, com Balaio de Amor, deixando para trás Banda Calypso, Caju & Castanha, o baiano Netinho e a Orquestra Contemporânea de Olinda.

Zé Ramalho e Chico César também levaram a Paraíba ao palco do Grammy Latino. O autor de “Avôhai” teve três indicações: a primeira, em 2001, pelo CD duplo Nação Nordestina, que entrou no páreo de Melhor Álbum de Música de Raízes em Português (perdeu para a trilha do filme Eu Tu Eles, de Gilberto Gil); a segunda, em 2007, com o álbum Parceria dos Viajantes na categoria Melhor Álbum de Música Popular Brasileira (quem levou foi o Ao Vivo de Leny Andrade e César Camargo Mariano); e a terceira em 2009, na mesma categoria em que Cátia de França concorre neste ano, por Tá Tudo Mudando, tributo do paraibano de Brejo do Cruz a Bob Dylan (quem venceu foi o vexaminoso Sacos Plásticos, dos Titãs).

Chico César foi indicado duas vezes, ambas não por discos, mas por canções. Na primeira edição do prêmio, em 2000, ele foi um dos cinco finalistas da categoria Música Brasileira com “A força que nunca seca”, composta por ele e Vanessa da Mata e lançada por Maria Bethânia no disco homônimo naquele ano. Acabou perdendo o prêmio para “Acelerou”, de Djavan.

No ano passado, Chico voltou a ser indicado na premiação, desta vez na categoria Melhor Canção em Língua Portuguesa, com “Do acaso”, parceria com Alice Caymmi. Chico César disputou a categoria com Djavan (“Num mundo de paz”) e Chico Buarque (“Que tal um samba?”, parceria dele com Hamilton de Holanda), mas quem acabou levando foi Tiago Iorc por “Tudo que a fé pode tocar”.

Como se vê no caso dos Titãs, nem tudo é justo no Grammy Latino, e isso vale para praticamente todas as “competições artísticas”, por mais incoerente que isso seja. De qualquer forma, a indicação de Cátia de França é ponto alto da retomada de sua carreira, neste século 21, repleto de vitórias para a paraibana de João Pessoa.

A partir do link, acesse o programa da Parahyba FM

*Coluna publicada originalmente na edição impressa do dia 24 de setembro de 2024.

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A União

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