Renovando a esperança no amor

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 José Ribamar Rodrigues Avelino e Maria das Dores Duarte Brito — ou, simplesmente, Ribamar e Dorinha — se conheceram em agosto de 2023, na Universidade Aberta à Maturidade (Uama), ligada à Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), em Campina Grande. Ambos são representantes de turma e, entre as atividades, reuniões e trabalhos acadêmicos, um sentimento começou a surgir. Ele, com 65 anos, e ela, com 67, ambos divorciados desde 2019, iniciaram um namoro em janeiro deste ano. 

José e Lourdes redescobriram o amor após 36 anos separados | Fotos: Arquivo pessoal

Ribamar conta que sua insistência fez a diferença na hora de conquistar Dorinha, que não tinha interesse em um novo relacionamento. “Eu tinha muito medo, porque meu antigo casamento foi muito tumultuado, e meu medo era que acontecesse de novo. Quando um relacionamento termina, a gente sai muito magoada, com muita negatividade”, justifica Dorinha. “Mas uma coisa me deixava com vontade de namorá-lo: a maneira como ele me respeitava. Tinha um carisma diferente, ele soube me conquistar”, admite.

Hoje, os dois vivem um relacionamento que, segundo afirmam, conta com muita conversa e companheirismo, o que é essencial na hora de lidar com as diferenças e com os problemas de convivência. “Tenho uma mentalidade muito tradicional, e ele teve uma criação bem diferente da minha, mas a gente conversa muito, tem um diálogo franco e aberto um com o outro. Estou me sentindo muito bem”, diz Dorinha. Ribamar acrescenta que a maturidade ajuda a lidar melhor com os atritos. “Quando a gente tem um probleminha, a gente senta e conversa. A gente já tem a experiência de relacionamentos passados, que servem para a gente não cometer os mesmos erros”, destaca. 

A rotina de Dorinha e Ribamar mudou após o início do namoro, tornou-se mais dinâmica e, atualmente, os dois prezam mais por momentos de lazer, como viagens, e fazem planos juntos. Segundo Ribamar, uma das ideias é conhecer os 223 municípios paraibanos, registrando fotos em cada igreja matriz e nos letreiros de cada cidade. Dorinha vai além: “Temos um plano em comum de ter um motorhome, e sair viajando pelo Brasil todo”, revela.

Nova chance

Edilene Alves Santos, de 63 anos, e Altomiro de Oliveira, de 60 anos, têm uma história parecida. Eles se conheceram na igreja, começaram a namorar, noivaram e oficializaram a união pouco tempo depois. “Foi amor à primeira vista”, diz ela. Assim como Dorinha, Edilene viveu um primeiro casamento conflituoso. Ela conta que o ex-marido era dependente de bebidas alcoólicas, e isso gerou muito sofrimento.  “Eu não queria casar de novo, devido ao sofrimento que passei, mas aconteceu o que eu jamais esperava. Parece um sonho. A gente se gosta e se entende demais”, celebra.

Reencontro

Em outras situações, o relacionamento na maturidade acontece após o reencontro com um antigo namorado. Foi esse o caso da representante comercial Maria de Lourdes Alcântara Medeiros, que, depois de 36 anos, reencontrou o ex-namorado da adolescência, José Nunes de Barros, e os dois se reaproximaram.

Ela conta que, após terminarem o namoro na juventude, cada um seguiu sua vida. Ele foi morar em Brasília, e ela continuou residindo em Campina Grande. Ambos casaram com outras pessoas, tiveram filhos e se divorciaram algum tempo depois. O reencontro aconteceu durante uma viagem de férias de José, que veio visitar a Paraíba. Com a reaproximação, acabaram indo morar juntos em 2005 e não se separaram desde então. Hoje, Maria de Lourdes tem 71 anos, e José, 77.

“Ele diz ele que nunca me esqueceu, que nas viagens que fazia, porque era caminhoneiro, sempre pensava muito em mim. Então, vamos acreditar”, brinca Maria de Lourdes. Ela garante que não pretendia se casar novamente, nem imaginava que, um dia, poderia retomar um relacionamento com o primeiro namorado.

A representante comercial ressalta que ela e José possuem, hoje, um companheirismo muito forte, que faz diferença no seu dia a dia. “Ele é muito parceiro. A gente está junto tanto na hora de brincar, de farrar, como na hora da doença. A gente é muito parceiro um com o outro”, diz Maria de Lourdes. 

Romance fortalece vínculos e cria meios de socialização

A criação e o fortalecimento de vínculos. Esse é um dos grandes benefícios do relacionamento na terceira idade — etapa da vida em que a socialização, geralmente, é reduzida, seja pela falta de convívio com os antigos colegas de trabalho ou pelo distanciamento dos filhos, que, já adultos, passam a ter sua rotina própria. É o que aponta a psicóloga e especialista em Neuropsicologia, Josiplessis Marques.

“É muito saudável a questão de um poder cuidar do outro, aquela segurança de ter com quem contar. Com a formação de vínculos, entra também o cuidado, a companhia; o lazer já não é mais solitário”, explica. 

Altomiro e Edilene vivem sonho do “amor à primeira vista” | Fotos: Arquivo pessoal

Josiplessis comenta que, com um novo relacionamento, surge a possibilidade de interação das famílias, o que amplia a rede de relações e amizades e ajuda a combater a sensação de solidão, que costuma ser um problema recorrente em pessoas idosas.

Maria de Lourdes e José Nunes são exemplos da eficácia do entrosamento entre famílias. “Nós nos damos muito bem. Tanto os filhos dele como os meus. Os netos e bisnetos também. Viajamos juntos, vamos a João Pessoa, a sítios… Duas ou três vezes ao ano, vamos a São Paulo visitar a família dele também”, afirma.

Conforme a neuropsicóloga Josiplessis Marques, essa conexão de indivíduos, proporcionada por um novo relacionamento, traz para a psique humana a sensação de preenchimento, de sentido para a vida.

“O ser humano necessita viver de projetos. Quando você termina um projeto, você tem que iniciar outro. E, nessa faixa de idade, muito do que tinha de ser realizado, já foi. Então, uma nova pessoa pode oxigenar os projetos de vida. Aí eles vão sonhar juntos e, provavelmente, vão ter uma vida mais dinâmica, com mais lazer. Há muitas vantagens”, analisa Josiplessis Marques.

Para a especialista, a vida a dois também pode influenciar na sensação de felicidade. “Quando a gente ativa as sinapses do nosso cérebro, a gente ativa funções cognitivas, afetivas. É como se fosse um exercício. Do mesmo jeito que a gente exercita os músculos, a gente exercita a nossa afetividade. Então, esses vínculos são saudáveis, porque produzem mais dopamina, endorfina, noradrenalina e ocitocina, que são os neuroquímicos que regulam o bem-estar”, explica.

Frescor

Depois de começar a namorar Dorinha, Ribamar passou a receber elogios da família. “Meus filhos estão dizendo que meu humor melhorou, que minha paciência melhorou, que, antes, eu era muito agitado”, conta.

Edilene também diz que se sente mais feliz ao lado de Altomiro. “Minha vida melhorou muito. Eu nunca fui uma pessoa infeliz, murmuradora, mas, com ele, eu me sinto mais feliz, mais realizada. Em tudo, a gente está junto, e isso torna a vida mais prazerosa, porque um faz companhia ao outro”, afirma.

Escudo

A neuropsicóloga Josiplessis Marques acrescenta que essa sensação de bem-estar também ajuda a proteger a saúde mental, o que pode contribuir para a prevenção de doenças como a ansiedade e a depressão. Além disso, pessoas idosas que possam estar desanimadas ou mal-humoradas, quando encontram alguém com que conseguem construir um relacionamento saudável, passam a mudar seus pensamentos sobre a vida. Isso estimula, inclusive, o cuidado com a saúde e com a autoestima. “O idoso passa a querer ser menos sedentário, a ir mais ao médico, a ter uma qualidade de vida melhor. Ele melhora o estilo de vida, e a imunidade tende também a melhorar. A própria questão da vaidade e da autoestima melhora”, conclui Josiplessis Marques.

Saiba Mais
Estatísticas do Registro Civil, divulgadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostram que, entre 2018 e 2022, os casamentos entre pessoas com idade igual ou superior a 60 anos cresceram cerca de 23%. Em 2018, foram registradas 60.580 uniões, enquanto, em 2022, ocorreram 74.788. 

*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 21 de setembro de 2024. 

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Fonte

A União

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