Em Veneza, uma bienal para promover e perpetuar o artesanato e o design

A cada ano, quando a Montblanc inicia o desenvolvimento de sua coleção Masters of Art Homage — a mais exclusiva e cobiçada linha de canetas-tinteiro da maison alemã — sua equipe criativa se lança a dois desafios: fazer uma pesquisa historiográfica alentada do personagem a quem prestam tributo; e mapear, não raro mundo afora, artesãos capazes de traduzir, em um instrumento de escrita, elementos da vida e obra do homenageado.

O mais recente deles foi o austríaco Gustav Klimt (1862-1918), pintor e desenhista, um dos grandes nomes da art nouveau e da Secessão de Viena, autor de obras-primas como O Beijo. Gravações à mão, incrustações de pedras preciosas e uma pena de ouro decorada com um relevo que remete à geometria de Klimt são alguns dos recursos que aludem ao trabalho do artista.

Por trás das cifras vultuosas, e dos imperativos corporativos que hoje caracterizam a indústria do luxo, são esses fazeres manuais, muitos deles mais do que centenários, que conferem o caráter de exclusividade e a excelência de produtos como joias, bolsas e calçados.

Para celebrá-los — e garantir que esses saberes se perpetuem entre as gerações por vir — a Michelangelo Foundation realiza até 30 de setembro, em Veneza, a terceira edição da bienal Homo Faber, uma extensa exposição dedicada ao design e ao artesanato.

Neste ano, a Homo Faber acontece na Fundação Giorgio Cini, tem direção de arte do arquiteto Nicolò Rosmarini e de Luca Guadagnino, cineasta italiano por trás de filmes como Me chame pelo seu nome e Queer, recentemente exibido no Festival de Veneza.

Com o título A jornada da vida, a bienal reúne mais de 800 criações de 400 artesãos, vindos de 70 países. São 105 fazeres manuais distintos em exibição, alguns deles por meio de demonstrações ao vivo e participação dos visitantes por meio de oficinas.

A Homo Faber foi concebida pela Fundação Michelangelo, uma organização privada suíça, sem fins lucrativos, criada em 2016 pelo italiano Franco Cologni, ex-executivo da Cartier, e o sul-africano Johann Rupert, presidente do grupo Richemont, dono de grandes marcas da alta joalheria (como Cartier e Van Cleef & Arpels) e da relojoaria de luxo (Panerai, IWC, Baume & Mercier, Piaget, Jaeger LeCoultre e a própria Montblanc, entre outras).

No Brasil, a Fundação Michelangelo fez uma parceria inédita com o Istituto Europeo di Design (IED), com o intuito de estimular novos talentos ligados à instituição. Após um processo de seleção, a carioca Bárbara Calomeni, estudante de moda do IED Rio, foi convidada para ser uma jovem embaixadora do país nesta terceira edição da Homo Faber. Suas criações são feitas com miçangas e técnica de upcycling.

“Minha participação consiste em intermediar as obras no espaço da exposição junto ao público, compartilhando informações sobre o trabalho dos artesãos e o significado das peças exibidas. Como a própria instituição diz, somos a nova geração do artesanato e da criatividade”, conta Bárbara, em entrevista ao NeoFeed.

Ao vivo, os visitantes podem acompanhar o trabalho dos artesãos da Cartier na criação de joias inspiradas em um tigre, felino emblemático da marca (Foto: Cartier)

Também está na Homo Faber o artesão italiano Saverio Pastor, ligado à fabricação de gôndolas (Foto: Saverio Pastor)

Em parceria com o The Backstudio, a relojoaria Panerai promove uma experiência imersiva em uma instalação de luz (Foto: Panerai)

“Somos a nova geração do artesanato e da criatividade”, diz Barbara (Foto: Arquivo Pessoal)

No diálogo entre engenharia e artesanato, a IWC faz demonstrações ao vivo da montagem de um relógio de alta complexidade (Foto: IWC Schaffhausen)

Diretor-geral do IED Brasil, Gianfranco Pisaneschi ressalta que a instituição compartilha dos mesmos objetivos da Fundação Michelangelo. “Formar uma geração de designers criativos e éticos que combinam inovação com habilidades técnicas em um ambiente transdisciplinar”. E acrescenta, ao NeoFeed, que a Homo Faber “celebra a excelência artesanal em nível global, com um foco particular nas tradições e habilidades europeias”.

Algumas das marcas do grupo Richemont participam da Homo Faber, obviamente. No estande da Montblanc, os visitantes têm a oportunidade de experimentar a arte da caligrafia por meio de duas edições limitadas de suas canetas-tinteiro, que homenageiam os 100 anos da Meisterstück, um de seus mais célebres instrumentos de escrita. Ali, um artesão também demonstra como traduzir a escrita em delicados bordados sobre peças de couro da Montblanc.

Numa réplica de ateliê, a Cartier fará demonstrações ao vivo em que os visitantes poderão acompanhar o trabalho de um escultor e um joalheiro enquanto criam joias inspiradas em um tigre, um felino emblemático da marca, ao lado da pantera. A marca também exibe uma coleção com 21 itens para ilustrar sua história centenária.

Conhecida por seus relógios, a Jaeger LeCoultre leva à Homo Faber artesãos da manufatura que farão apresentações ao vivo da arte de esmaltação, gravação, engaste de pedras preciosas e relojoaria.

A marca também lançará três novos relógios de sua linha Reverso em edição limitada e apresentará objetos que são frutos de oficinas e residências realizadas em seus estúdios com alunos de graduação, parte do programa Homo Faber Fellowship.

Já a relojoaria Panerai, em colaboração com o duo artístico The Backstudio, promove uma experiência imersiva numa instalação de luz, tendo como cenário um antigo mosteiro.

A IWC Schaffhausen, por sua vez, faz demonstrações ao vivo da montagem de um relógio de alta complexidade, num diálogo entre engenharia e artesanato.

Há também participações de marcas como a Nason Moretti, fabricante de vasos e objetos Murano desde 1923; de Saverio Pastor, um artesão da madeira ligado à fabricação de tradicionais barcos de Veneza; e de Stefania Giannici e seus objetos de papel, entre outros artistas.

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Neofeed

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