Próximo capítulo de Juzé

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O artista paraibano Juzé teve seus primeiros contatos com o ofício da arte como folião e, posteriormente, produtor do Muriçocas do Miramar, tradicional bloco carnavalesco da capital, no qual o ator, cantor e compositor pessoense pôde ter noção da dor e do prazer de se trabalhar com a cultura popular. Celebrando sua permanência como narrador e repentista da novela No Rancho Fundo, anunciando, ao lado do amigo Lukete, as sequências do dia seguinte, ele mesmo trouxe, nesta semana, as cenas dos seus próximos capítulos: com o lançamento do compacto Doce, Confeito, Mel nas plataformas digitais, ele estreia amanhã, no Rio de Janeiro, a turnê Mêi Sargaço, Meio Mato, que promove durante todo o mês de setembro a sua nova empreitada na música.

 Representante

Recordando os tempos em que acordava Miramar a cada Quarta-feira de Fogo, Juzé rememora que seu vínculo com o Muriçocas vinha desde a infância, quando brincava na versão infantil do bloco, o Muriçoquinhas. Passando a integrar, adulto, a produção do evento em João Pessoa, ele tomou ciência dos processos que compunham eventos artísticos desse porte, desde o planejamento até a “entrega”, nas ruas. “Foi muito importante para mim, porque eu me especializei como produtor cultural. E isso me deu a visão do mercado do entretenimento e o que era preciso fazer para existir dentro do ecossistema da economia criativa. Serei uma ‘muriçoca’ para sempre”, afirma Juzé, que voltou a ser atração do bloco no Carnaval de 2024.

Anos depois das primeiras experiências com dramaturgia na escola em que estudava, ele entrou em um curso de teatro local, onde aprimorou suas técnicas de atuação, fazendo parte de espetáculos teatrais amadores. Apesar da proximidade com movimentos e equipamentos públicos importantes para a arte paraibana, em relato incluído no material de divulgação de Doce, Confeito, Mel, ele alegou que não se sentia um representante da cultura nordestina.

“Na verdade, eu achava que havia pessoas mais importantes nessa representação, mas a resposta do público ao meu trabalho, dizendo, ainda, que  as pessoas se sentiam representadas por mim e pelos meus colegas nordestinos da novela, mudou minha visão”, afirma ao Jornal A União.

 Muito a conquistar

Esse feedback do público veio a partir de outros fatores de impulsão da sua carreira. Sua parceria com Lukete nas novelas Mar do Sertão e No Rancho Fundo deu visibilidade a seus talentos como ator e, principalmente, como músico — na época, à frente da banda Os Gonzagas. Nos últimos anos, em voo solo, ele emplacou composições nas vozes de Elba Ramalho (“Virou São João”) e Juliette (“Bença”, parceria com Dann Costara). Juzé também colaborou na música “Um ratito”, de Alok, com participações dos músicos porto-riquenhos Lenny Tavárez, Luis Fonsi e Lunay e, novamente, da conterrânea Juliette. “Fico muito honrado, e isso também é uma forma de resposta ao que faço. Carimba minha existência dentro deste universo artístico”, assevera.

Essa relevância rendeu-­-lhe participações em apresentações ao vivo de outros artistas pelos quais ele mantém admiração: Alceu Valença, Cátia de França e Pedro Luís. Juzé diz que almeja conquistar outras parcerias; algumas delas, ele lamenta, tornaram-se impossíveis pela partida dos músicos, como no caso de Dominguinhos. Outras, são factíveis.

“Caetano Veloso eu já conheci pessoalmente, mas gostaria mesmo era de trocar ‘vírgulas artísticas’ com ele, assim como Gilberto Gil, com quem conversei bastante, em vários momentos. Já Djavan e Ivete Sangalo são dois que nunca encontrei, mas espero conhecer”, lista Juzé, “jogando” seus desejos para o universo.

 Volta a João Pessoa

O novo compacto dá seguimento aos lançamentos musicais de Juzé neste ano. Em abril, a canção “Saudade de você” chegou primeiro às plataformas digitais, seguida, em maio, de “Mêi sargaço, meio mato”, que dá nome à sua turnê e que veio numa nova versão em setembro, junto de outras três faixas, em Doce, Confeito, Mel. Essa e as outras novidades deste mês — “Agarro”, “Será que cabe uma canção?” e a música homônima que empresta o título ao compacto —, vieram acompanhadas de videoclipes rodados em João Pessoa, numa cafeteria do Castelo Branco. As canções têm temáticas diversas, mas carregam, como característica em comum, a linguagem informal da escrita do paraibano.

Nos registros audiovisuais, ele está acompanhado de seu “bando” — os músicos Jefferson Brito (na craviola e na produção musical), Caio Palitot (no baixo) e Filipinho Soares (na bateria). A escolha do bairro e do cenário não foi acaso: Juzé nasceu e foi criado no Castelo Branco, onde sua avó materna ainda reside; a Casa Furtacor, locação dos clipes, foi palco de muitas parcerias musicais do artista de No Rancho Fundo. “Esse momento de voltar a João Pessoa é muito especial. Volto ao terraço da casa da minha avó, o meu primeiro palco, e ao quarto da casa dos meus pais, onde compus minhas primeiras canções”, recorda Juzé.

Prestes a finalizar No Rancho Fundo, ele relata sua vontade de continuar atuando, citando sua participação no curta-metragem Habeas Pinho, de Gal Cunha Lima, gravado em Campina Grande, durante o mês de julho. Já a turnê de divulgação de seus novos trabalhos integra o edital Sesc Pulsar, que promove espetáculos nas sedes da instituição em bairros do Rio de Janeiro.

Apesar de não estar aqui neste momento, ele reafirma seu carinho por seu estado natal e a sua influência no trabalho que ele lança a partir de amanhã. “Estar aqui é estar junto das minhas origens, onde o Juzé ‘guri’ só queria ‘bater’ violão. Naquela época, os sonhos eram muito menores, mais singelos. Vir a João Pessoa é como arar a própria terra”, finalizou o eterno folião das Muriçocas.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 20 de setembro de 2024.

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A União

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