PARAHYBA E SUAS HISTÓRIAS: O paraibano José Américo de Almeida e as eleições presidenciais de 1938 – Por Sérgio Botelho

Uma das maiores decepções políticas da história brasileira tem como referência o ano de 1937, véspera do pleito presidencial marcado para 3 de janeiro do ano seguinte. Esse era o compromisso firmado pelos comandantes da Revolução de 1930 (para alguns historiadores, apenas um golpe) e reafirmado pelo presidente Getúlio Vargas, o grande beneficiado do movimento.

Naquele ano, o de 1937, entre as candidaturas das quais se falava, incluindo a de extrema-direita representada pelo integralista Plínio Salgado, duas delas chamavam mais a atenção: a do paraibano José Américo de Almeida, àquela altura, membro do Tribunal de Contas da União (TCU), após ter sido eleito senador pela Paraíba em 1935, e sido ministro da Viação de Getúlio; e a do paulista Armando de Salles Oliveira, governador de São Paulo.

O objeto de desejo dessas duas pretendentes candidaturas ao Palácio do Catete era o de sair ungido pelo oficialismo, do qual faziam parte, entendido como fator preponderante para o sucesso eleitoral. Assim, ambos se puseram na disputa pela unção getulista, que continuava garantindo o cumprimento da Constituição de 1934, a prever eleição em 1938.

Armando Salles de Oliveira representava não somente o economicamente poderoso Estado de São Paulo, sob o seu mando, como também amplos setores das elites de Minas Gerais e do Rio Grande do Sul, estado natal do presidente da República. O discurso de Salles ecoava bem em meio aos segmentos conservadores, que se diziam cada vez mais preocupados com os avanços políticos dos comunistas.

Apressado em conquistar a candidatura oficial à Presidência da República, Armando Salles de Oliveira, também comprometido com a ascensão de Getúlio, em 1930, renunciou ao cargo de governador do Estado já em dezembro de 1936. De sua parte, José Américo de Almeida se esforçava por representar os anseios dos que tomaram o poder em 1930, ele próprio, um dos mais destacados.

A participação dele no evento histórico foi tão forte que, na época, acabara governador do Estado da Paraíba e do Norte do país, onde se incluíam as regiões Nordeste e da Amazônia, e, na sequência, ministro de Getúlio. Assim moldado foi que em agosto de 1937 José Américo chegou à Bahia, com apoio explícito do governador Juracy Magalhães, e mais veladamente de Getúlio.

Na ocasião, entremeou seus pronunciamentos com pontos de programas dirigidos diretamente ao povo, onde se incluíam promessas de casas populares e de concessões e benefícios aos trabalhadores. O discurso do paraibano logo chegou aos ouvidos dos adeptos de Salles, provocando reação furibunda do jornal Estado de São Paulo, da família Mesquita (no seio da qual Salles havia conquistado sua esposa), em projetos empresariais e políticos.

Com efeito, em sua edição de 19 de setembro de 1937, o Estadão considerou que os discursos de José Américo, na Bahia, cheiravam a “marxismo lido em traduções malfeitas, com promessas inspiradas nas últimas fitas de Charlie Chaplin”. Contudo, no dia 10 de novembro daquele ano Getúlio anunciou que não haveria mais eleições em 1938, instalou uma ditadura e ficou no poder até 29 de outubro de 1945, quando o Estado Novo caiu.

Uma queda que acabou precipitada por conta de entrevista, em fevereiro de 1945, concedida por José Américo ao Correio da Manhã, pedindo eleições e reabrindo a liberdade de imprensa. Armando Salles de Oliveira não viu o fim da ditadura getulista, já que morreu antes disso.

Em 1950, Getúlio voltou ao poder pelo voto direto, e José Américo, outra vez na condição de governador da Paraíba, no caso, eleito, foi outra vez compor o ministério getulista. Depois de Epitácio Pessoa, que chegou à Presidência da República, José Américo foi certamente a figura política paraibana mais importante da história republicana brasileira.

(Na foto, da coleção FGV CPDOC, Getulio Vargas e seu ministério no Palácio do Catete. Da esquerda para a direita, Isaias Noronha, José Américo, Afrânio de Melo, Getulio Vargas, Assis Brasil, Francisco Campos, Lindolfo Collor e José Fernandes. Rio de Janeiro (DF), 3 de novembro 1930. Rio de Janeiro/Escola de Ciências Sociais)

Fonte: Sérgio Botelho
Créditos: Polêmica Paraíba

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Fonte : Polemica Paraíba

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