Em 20 anos, PCdoB é sigla com mais deputadas na liderança. Veja lista

Levantamento realizado pelo Metrópoles aponta que, nos últimos 20 anos, a Câmara dos Deputados teve apenas 26 mulheres em cargos de liderança partidária. O número representa apenas 9% do total. No mesmo período, 268 deputados do gênero masculino ocuparam o posto de líderes de partido.

O Partido Comunista do Brasil (PCdoB) foi a sigla onde mais mulheres ocuparam cargo de liderança dentro do período analisado, com sete líderes. Depois, o Partido Socialismo e Liberdade (PSol), com cinco; e o Partido Socialista Brasileiro (PSB), com três. Mulheres também foram líderes duas vezes dentro do bloco PSB-PCdoB e da Minoria na Câmara.

O cargo de líder partidário é importante para as movimentações das bancadas do Congresso. O deputado ou deputada que exerce a função participa do chamado Colégio de Líderes, órgão que, junto ao presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL),  define a pauta das votações em plenário.

Além disso, as lideranças têm a função de orientar o posicionamento de suas bancadas durante as votações em plenário, além de indicar os membros do partido que vão integrar as comissões temáticas da Casa.

A deputada a passar mais dias como líder no período analisado foi Joenia Wapichana (Rede-RR), atual presidente da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai). Em seguida, Jandira Feghali (PCdoB-RJ), Leandre (PSD-PR), Rosinha da Adefal (Avante-AL) e Sâmia Bomfim (PSol-SP).

O levantamento realizado pelo Metrópoles contou com informações da base de dados abertos da Câmara dos Deputados, coletadas em março deste ano. A pesquisa levou em consideração o período que abrange da 52ª à 57ª Legislatura, ou seja, de 2003 a 2024.

Foram consideradas líderes e representantes de partidos, federações, blocos partidários, maioria, minoria, governo e oposição. Pelas regras da Câmara, somente partidos com ao menos cinco integrantes têm direito à liderança. As siglas que não atingiram a cota podem indicar um representante para orientar votações ou falar durante as Comunicações de Lideranças.

Veja:


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Líderes da legislatura atual

Atualmente, a Câmara dos Deputados está na 57ª Legislatura, que começou em 2023 e vai até 2027. Entre o ano passado e este ano, a Casa teve apenas 3 líderes ou representantes mulheres: Adriana Ventura, representante do Novo eleita por SP; Bia Kicis, líder da minoria eleita pelo PL do DF; e Erika Hilton, líder da federação PSol/Rede eleita por SP.

Nos 20 anos analisados, a Legislatura com o maior número de lideranças do gênero feminino foi a 54ª, que abrangeu o período de 2011 a 2015. O número, no entanto, ainda é muito baixo se comparado ao de líderes masculinos: foram apenas 8 mulheres e 69 homens no cargo.

A legislatura com o menor número de líderes partidárias do gênero feminino no período analisado foi a 52ª, de 2003 a 2007, com apenas 2 mulheres e 53 homens.

Deputadas contam experiência

Deputadas procuradas pelo Metrópoles pontuam que a dificuldade em ocupar espaços de poder dentro do Congresso Nacional reflete o machismo no Brasil.

“Na sociedade, a cultura machista, a cultura misógina, a cultura de fragilização e de desconfiança da competência das mulheres é algo que acaba se expressando na liderança das empresas, no comando de bancos, no comando de várias espaços de poder e que de fato não refletem o que nós somos como competência, o que nós somos como maioria populacional e a nossa capacidade de desenvolver tudo aquilo que a gente faz”, afirmou Jandira Feghali (PCdoB-RJ).

A deputada foi líder do PCdoB entre 2014 e 2015, e líder da minoria na Câmara dos Deputados em 2016 e 2019. Ela passou 906 dias ocupando cargos de liderança na Casa, e ocupa o segundo lugar no ranking de parlamentares que ocuparam o posto nos últimos 20 anos, perdendo apenas para Joenia Wapichana (Rede-RR).

Jandira destaca a atuação feminina no PCdoB, e afirma que todas as parlamentares da sigla foram líderes de bancada. Segundo a deputada, no entanto, o espaço não é o mesmo em todas as siglas. Ela também ressalta as dificuldades de ocupar o posto.

“A minha experiência na liderança não foi fácil, nunca foi, porque numa casa masculina e gradativamente conservadora cada vez maior, né? Então não é fácil, a gente tem que se impor mesmo, fazendo um esforço grande pra essa imposição acontecer”, concluiu.

Sâmia Bomfim, por sua vez, relatou que sua experiência foi desafiadora por ser mais jovem que os outros líderes e, ainda, mãe de um filho pequeno. “Mais dificuldade pra conseguir ser ouvida nos espaços das reuniões de líderes, de ser respeitada inclusive no próprio plenário, no meu tempo de fala, em todas as prerrogativas que as líderes têm”, relembra.

A deputada liderou a bancada do PSol durante o ano de 2022, e segue como vice-líder da federação PSol-Rede. “A gente teve uma conquista que foi o aumento da presença feminina nos espaços de poder. Mas nós ainda somos vistas como aquelas que podem falar sobre gênero, sobre saúde, sobre cuidado, sobre área social, e não vistas como as que querem e vão debater sobre economia, política e os rumos do país”, destaca.

“Não é à toa que só duas mulheres até hoje puderam ser presidentes da Comissão de Constituição e Justiça.  Nenhuma mulher até hoje foi presidenta da Câmara, e são pouquíssimas as que conseguem ser líderes. E quando conseguem ser líderes não são respeitadas como deveriam. Sem contar com as demais, que sofrem diferentes formas de violência política de gênero, de terem a sua voz e o seu microfone cerceados e a sua posição desqualificada”, continua.

 

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Por Metrópoles

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