Concheça Pavel Durov, fundador do Telegram

Fundador e CEO do aplicativo de mensagens Telegram, Pavel Durov é formado em Filologia pela Universidade de São Petersburgo (Rússia) e possui profundos conhecimentos em programação. Ele se graduou em 2006, mesmo ano em que, ao lado do irmão Nikolai, inaugurou a rede social VKontakte (expressão que significa “em contato”), o que lhe rendeu o apelido de “Mark Zuckerberg russo” pelo jornal The New York Times, em referência ao norte-americano que criou o Facebook.

Em pouco tempo, a “VK”, como ficou conhecida, se tornou um sucesso na Rússia e, anos depois, alcançou o posto de uma das maiores redes sociais do mundo. Atualmente, conta com mais de 500 milhões de usuários registrados em todo o planeta.

Em 2011, após uma onda de protestos virtuais contra Vladimir Putin, o governo russo aumentou o controle sobre a web e ordenou que a VK bloqueasse páginas de grupos opositores. Durov ignorou o pedido e ainda zombou do Kremlin, postando no Twitter a foto de um cachorro com a língua de fora e vestindo um moletom. O post aumentou a pressão sobre o empresário, a ponto de um grupo armado de operações especiais bater à sua porta. Após o episódio, ele decidiu vender suas ações na companhia e fugir do país em 2014.

No entanto, a vigilância russa despertou um novo projeto em Durov. Como não conseguia se comunicar com segurança com seu irmão, ele teve a ideia de criar um sistema privado de mensagens que não pudesse ser rastreado. Foi assim que surgiu o Telegram, cujo lançamento oficial ocorreu em agosto de 2013, segundo o site da empresa. Atualmente, o aplicativo conta com mais de 700 milhões de usuários ativos por mês e figura na lista dos dez mais baixados do mundo.

No Brasil, o Telegram está presente em mais da metade dos celulares do país, segundo a imprensa especializada. Seu crescimento ocorreu principalmente a partir de 2015, quando o WhatsApp foi bloqueado pela Justiça. Na ocasião, o Telegram conquistou cerca de 1,5 milhão de usuários em menos de 24 horas.

Mas, em março de 2022, o Telegram foi suspenso no Brasil por ordem do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, atendendo a um pedido da Polícia Federal relacionado a um inquérito sobre milícias digitais e produção de notícias falsas. Durov pediu desculpas à Corte pela “negligência” e reconheceu que sua equipe poderia ter feito um trabalho melhor.

Em abril deste ano, o Telegram enfrentou outra suspensão, dessa vez por determinação da Justiça Federal do Espírito Santo, devido à falta de fornecimento de dados completos sobre grupos neonazistas à Polícia Federal. O serviço voltou a funcionar, mas a empresa precisou indicar um novo representante legal no país para evitar novos bloqueios.

Do ponto de vista operacional, o Telegram é conhecido por funções como a criação de grupos com até 200 mil pessoas, chats secretos e a opção de escolher um timer para autodestruição das mensagens. O serviço afirma oferecer suporte a duas camadas de criptografia segura.

Além do Brasil, a lista de países que tomaram medidas contra o serviço inclui desde nações democráticas da Europa, como Alemanha e Noruega, até regimes autocráticos, como Irã e China.

Trajetória de Pavel Durov

Pavel Valeryevich Durov nasceu em 10 de outubro de 1984, em São Petersburgo (antiga Leningrado), na Rússia. Seu pai, Valery, era um filólogo renomado e especialista em Roma Antiga. Ele trabalhou por alguns anos na Itália, fazendo com que Durov passasse sua infância em Turim.

De volta à Rússia, em vez de cumprir o serviço militar obrigatório, Durov estudou propaganda, inspirando-se em figuras históricas como Sun Tzu, filósofo chinês e general estrategista de guerra, Genghis Khan, fundador do Império Mongol, e Napoleão Bonaparte.

Mais tarde, ele ingressou no Ginásio Acadêmico da Universidade Estadual de São Petersburgo, uma instituição que oferece estudos aprofundados em diversas disciplinas, incluindo línguas estrangeiras. Segundo seu perfil no VKontakte, Durov é fluente em inglês, espanhol e italiano.

Ainda no Ginásio, ele começou a se interessar por programação. Na universidade, ele seguiu os passos do pai e cursou Filologia, mas paralelamente começou a dar os primeiros passos na internet. Nessa época, suas principais criações foram uma página que funcionava como biblioteca eletrônica e um fórum de discussões entre estudantes e professores.

A rede VKontakte, inicialmente chamada de Student.ru, surgiu em 2006, no mesmo ano em que Durov concluiu a faculdade. O projeto foi desenvolvido com alguns sócios e contou com o apoio determinante de seu irmão Nikolai, quatro anos mais velho e considerado um gênio. Nikolai é vencedor de diversas olimpíadas russas e internacionais de matemática e ciências da computação.

Após o embate com o governo russo, a venda de sua participação na VKontakte e sua fuga do país, Durov se tornou uma espécie de nômade internacional. Ele já havia criado o Telegram e, durante um tempo, escolheu se mover entre diversos países, acompanhado por um pequeno grupo de engenheiros e programadores. Ele passava apenas alguns meses ou até mesmo semanas em cada lugar.

Atualmente, a equipe de desenvolvimento do aplicativo está sediada em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, onde Durov reside. O sucesso da empresa é tanto que o empresário está entre as 150 pessoas mais ricas do mundo, com um patrimônio estimado em cerca de US$ 11,5 bilhões, de acordo com a revista Forbes.

Aviãozinho de dinheiro e estilo Matrix

Durov se define como “libertário” e é descrito como o “herói de um romance perfeito” pelo jornalista Nickolay Kononov, que foi editor na versão russa da revista Forbes e escreveu a biografia “Code of Pavel Durov” (O Código de Pavel Durov), lançada em 2012. Sua lista de polêmicas é extensa e vai além do enfrentamento de governos em prol da “liberdade de expressão”.

Em maio de 2012, Durov atraiu manchetes ao lançar aviõezinhos com notas de 5 mil rublos (cerca de US$ 60 na época) pela janela de seu escritório em São Petersburgo. Durante um festival na cidade, várias pessoas brigaram pelo dinheiro, enquanto ele ria ao lado de um amigo, conforme relatado em uma matéria especial publicada pela revista Piauí em maio de 2022, traduzindo um texto originalmente divulgado pela revista Wired.

No mesmo mês, ele também irritou os nacionalistas de seu país ao postar um tweet no aniversário do fim da Segunda Guerra Mundial. Ele afirmou que a vitória de Stalin sobre Hitler permitiu que o ditador russo continuasse a reprimir o povo soviético. “Foi um desastre”, relembrou Durov em entrevista ao The New York Times em dezembro de 2014.

Em meados de 2013, houve outra provocação. Quando o ex-agente da NSA (agência de segurança nacional dos EUA) Edward Snowden, responsável pelo vazamento de documentos confidenciais sobre a espionagem em massa dos Estados Unidos, recebeu asilo temporário na Rússia, Durov ofereceu a ele um emprego na VKontakte. “Ele é meu herói pessoal”, disse Durov em julho de 2015 durante um almoço em Londres com um dos editores do Financial Times. “Temos a mesma idade e, de certa forma, considero sua batalha com NSA como uma guerra de gerações. É o novo contra o velho.”

Sobre sua vida privada, no entanto, Durov preferiu não falar. Ele mantém uma postura discreta e evita os holofotes. Por meio de suas postagens em redes sociais, percebe-se que ele tem o hábito de usar roupas pretas, o que gera comparações com o misterioso personagem Neo dos filmes “Matrix”. Sabe-se que ele é vegetariano, evita medicamentos industrializados e gosta de meditar. Em seu Instagram, que atualmente conta com cerca de 850 mil seguidores, há fotos mostrando sua forma atlética, belas paisagens e algumas frases, como por exemplo: “A autodisciplina é a chave para a saúde, riqueza e felicidade”.

Ao Financial Times, Durov afirmou que se considera um empreendedor de tecnologia, não um político ou filósofo. Ele declarou que ficaria feliz em ver os valores libertários se espalharem, mas não considera essa como sua missão pessoal.