Professora da UFSC participa de artigo da Nature que relaciona alta produção de enzima e efeitos do estresse

Um artigo publicado no último dia 7 de fevereiro na Revista Nature relaciona a produção excessiva de uma enzima derivada de células do sistema imunológico a efeitos prejudiciais do estresse no cérebro. A publicação tem a professora Manuella Kaster, do Departamento de Bioquímica da UFSC como coautora.

O artigo identifica interações entre o sistema imunológico e o cérebro em situação de estresse e na depressão. “O estresse tem efeitos profundos no corpo, incluindo no sistema imunológico e no cérebro. Embora um grande número de estudos associe alterações no sistema imunológico a distúrbios relacionados ao estresse, como a depressão, os mecanismos envolvidos ainda não eram bem compreendidos”, salienta a professora e pesquisadora Manuella Kaster. A equipe relacionada ao estudo foi liderada por Scott Russo do Hospital Mount Sinai, em Nova York. Manuella atuou na instituição como pesquisadora visitante, com apoio da UFSC, CNPq e Fulbright, entre os anos de 2019 e 2023.

Intitulado Circulating myeloid-derived MMP8 in stress susceptibility and depression, o estudo demonstrou um papel importante para uma enzima específica de células circulantes do sistema imunológico, a metaloproteinase de matriz 8 (MMP8) – uma enzima envolvida na reparação e renovação dos tecidos do corpo. O estresse induz um aumento na infiltração de células imunes no cérebro e na expressão de MMP8. Uma vez aumentada no cérebro, a MMP8 degradou proteínas que compõe a matriz extracelular, estrutura envolvida na adesão e comunicação celular. Como resultado, os camundongos apresentaram um prejuízo na conectividade neuronal e alterações comportamentais em uma região do cérebro envolvida com a motivação, prazer e recompensa.

“Observamos a mesma mudança em pacientes com depressão, o que demonstra que os resultados também são relevantes para humanos. A modulação de metaloproteinases derivadas de células imunes periféricas pode constituir um novo alvo terapêutico para distúrbios neuropsiquiátricos relacionados ao estresse”, aponta a professora.

Os pesquisadores buscam dar continuidade à pesquisa investigando sobre a interação entre o cérebro, o sistema imunológico nas doenças psiquiátricas. Segundo Manuella, ainda são necessários mais estudos antes que estes resultados possam ser aplicados na prática clínica.

“A depressão é um transtorno psiquiátrico muito heterogêneo, existem muitas diferenças nas características clínicas e biológicas entre os pacientes. Este é sem dúvida um dos fatores que faz com que muitos pacientes não respondam aos fármacos existentes no mercado. Assim, a compreensão de alterações biológicas que ainda não haviam sido descritas pode auxiliar no desenvolvimento de novos fármacos. O estudo é apenas um passo inicial, e muita coisa ainda precisa ser compreendida, mas ele aponta para um novo caminho no tratamento da depressão”, explica a docente.

Manuella destaca a importância do trabalho feito em cooperação internacional. “A experiência [de atuação no Mount Sinai] foi extremamente importante, não apenas pelo trabalho publicado em uma das principais revistas científicas da área, mas também para a consolidação de uma importante colaboração internacional. A participação em um projeto desta magnitude só reforça a necessidade de um maior investimento e estrutura para o desenvolvimento de pesquisas no Brasil. Aprovamos recentemente um projeto com o CNPq que permitirá a visita de alunos de pós-graduação ao Mount Sinai. A ideia é dar continuidade aos estudos no tema e compreender os mecanismos envolvidos nos efeitos deletérios do estresse no cérebro”, complementa.

 

Acesse o artigo completo no site da Revista Nature.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.