Emerson Luis. Esporte: Privilegiado

Na última coluna abordei algumas características que poderiam ajudar (ou não) uma criança/adolescente a se tornar um atleta no futuro.

1- Dom? Genética? Talento?

2- Sorte? Acaso? Destino?

3- Foco? Treinamento? Persistência?

Tudo de alguma forma colabora.

Contudo, a opção 3 é a que mais contribui para o êxito de uma carreira.

Também destaquei o comum excesso de expectativa dos pais.

A pressão exercida sobre os filhos.

Que naturalmente se cobram.

Temem decepcionar a família.

E a si mesmos.

.

Também lembrei das peças que o mundo nos prega.

Ao mesmo tempo, a dura realidade da falta de condições (de estrutura e financeira) para se aprimorar e concretizar um sonho.

Como Pelé foi uma sumidade, um rei, não vou usá-lo como parâmetro.

Pelé é considerado o Rei do Futebol. Foto: Franck Fife/AFP

O exemplo, totalmente oposto que pretendo usar (guardada todas as suas devidas proporções), é o de Ayrton Senna da Silva.

É inegável que o piloto foi o maior esportista do país.

A sua morte, prematura, com apenas 34 anos, aumentou a idolatria.

No último dia 21 de março Senna faria 64 anos. Foto: Reprodução/Internet

Nas pistas, Senna foi um fora de série.

Um fato inegável.

No entanto, tudo conspirou para que se tornasse uma lenda.

Ayrton Senna comemora a vitória no GP do Brasil de 1993. Foto: Getty Images

Na verdade, mesmo com Senna na pista, nunca tive paciência para sentar e ficar na frente da televisão por mais de duas horas.

Assistia mesmo a reta final das provas.

Me arrepiava ao ouvir o tema da vitória.

Me emocionava vê-lo carregando a bandeira brasileira no carro ou nos pódios.

Senna foi tricampeão mundial em 1988, 1990 e 1991. Foto: Miguel Costa Jr.

Perdi a vontade desde o seu fatídico acidente.

Só em 2008 é que voltei a me interessar pela Fórmula 1.

Emerson Fittipaldi carrega o caixão de Senna junto com Alan Prost e Gerhard Berger. Foto: Internet

Por causa de Felipe Massa.

Vice-campeão, com a Ferrari.

Título perdido por apenas 1 ponto de diferença.

Para Lewis Hamilton, da Mclaren.

Massa, sempre muito pressionado para ser o “substituto” de Senna, se aposentou em 2017.

Felipe Massa na vitória do GP de Monza em 2014 pela Williams. Foto: Reuters

Meu conceito sobre automobilismo mudou bastante ao assistir filmes, séries e documentários.

O último foi “Senna por Ayrton”.

Três episódios.

Imperdível.

Não menos obrigatório é “Senna: O Brasileiro, O Herói, O campeão”.

Bem como a trajetória de Michael Schumacher.

Que se tornava uma iminente ameaça ao reinado do brasileiro.

Tanto é que em 1994, o alemão venceu as duas primeiras corridas da temporada (GP do Brasil e GP do Pacífico).

E na terceira prova, em San Marino, era ele quem estava no bafo de Senna (que largou na pole pela terceira vez seguida), no momento da batida fatal, na sexta volta, na curva Tamburello.

Médicos atendem Ayrton Senna após grave acidente. Foto: Reprodução/Internet

Schumacher viria a ser campeão naquele ano.

E ainda em 1995.

Ambos com a Benetton.

Posteriormente com a Ferrari (2000, 2001, 2002, 2003, 2004).

Heptacampeão.

Schumacher foi campeão em 1994. Foto: Internet

Feito só alcançado por Lewis Hamilton.

O inglês venceu com a Mclaren (2008) e com a Mercedes (2014, 2015, 2017, 2018, 2019, 2020).

Primeira foto oficial de Hamilton como piloto da Mercedes, em fevereiro de 2013. Foto: Cristina Quicler/AFP Getty Images

Esplêndido é Fangio, o Rei das Pistas.

Conta a história do primeiro multicampeão (três ou mais títulos) da categoria.

O argentino Juan Manuel Fangio ganhou cinco campeonatos na primeira década de existência da Fórmula 1.

Alfa Romeo 1951.

Maserati 1954.

Mercedes 1955.

Ferrari 1956.

Maserati 1957.

Fangio ganhou cinco títulos em uma década. Foto: Reprodução/Netflix

A história da família Williams é sensacional.

Foi Frank que deu a primeira oportunidade para Senna testar um carro de Fórmula 1.

Filmes, destaco dois.

Sensacionais.

Ford x Ferrari.

E Rush, no limite da emoção.

Apresenta a dramática temporada de 1976.

Que teve a acirrada disputa pelo troféu entre Niki Lauda (Ferrari) e James Hunt (Mclaren), passando pelo grave acidente sofrido pelo austríaco na Alemanha.

Por fim, a série Dirigir para Viver.

Que foca mais na luta pessoal de cada piloto.

Uma obra de arte!

Voltando à carreira de Senna.

O pai, Milton Guirado Theodoro da Silva, fez fortuna ao comprar e vender carros.

Também foi fundador de uma metalúrgica.

Com isso passou a ser fornecedor de diversas indústrias automobilísticas.

Também prosperou na construção civil e na agropecuária.

Pai de Senna nos bastidores de uma prova. Foto: Instituto Ayrton Senna

Estabilizado, dedicou boa parte da vida à carreira do filho.

Com 4 anos de idade, o menino ganhou um kart construído pelo pai usando um pequeno motor de cortador de grama de 1-HP de potência.

Foi seu principal brinquedo na infância (o meu e de muitos moleques foi uma bola).

Primeiro kart foi fabricado pelo pai. Foto: Instituto Ayrton Senna

Como Senna mesmo disse, em entrevista para Jô Soares, que o automobilismo entrou em sua vida por causa do pai.

Que começou a levá-lo todos os domingos para andar de kart em um local fechado.

Foi aí (ele fala na mesma conversa) que começou a gostar da brincadeira.

Senna em momento de carinho com o pai. Foto: Instituto Ayrton Senna

Tanto é que pelo menos três vezes na semana, seu motorista particular o pegava na escola e com os karts na carreta, passava as tardes treinando em Interlagos.

Foi lá que disputou sua primeira corrida (com 13 anos).

E começou a ter intimidade com a pista molhada – sempre que chovia ia treinar.

Kartódromo municipal Ayrton Senna em São Paulo. Foto: Reprodução/Internet

Tudo conspirou a seu favor.

Senna cresceu e descobriu que a sua vida tinha a ver com motor, barulho, rodas, velocidade…

Em 1978 no título do Campeonato Brasileiro de Kart. Foto: Getty images

Foi bicampeão paulista (1976 e 1977).

Tricampeão brasileiro (1978, 1979 e 1980).

Bicampeão sul-americano (1977 e 1980).

Faltou o título mundial.

Bateu na trave com dois vice-campeonatos (1979 e 1980).

A diferença básica do kart para a Fórmula 1 é a velocidade, de resto, a retomada, a freada, a ultrapassagem, andar na chuva, é tudo mais ou menos igual”, disse Senna, certa vez.

Senna no começo da carreira no automobilismo. Foto: Instituto Ayrton Senna

Em 1981, já projetando seu futuro na Fórmula 1, Ayrton da Silva foi morar na Inglaterra.

Teve mais tempo e condições de aprimorar suas qualidades.

Logo de cara, ganhou os dois campeonatos em disputa na Formula Ford 1600.

Ayrton Senna em uma das etapas da Fórmula Ford 1600, em 1981. Foto: Arquivo Pessoal

Até voltou para São Paulo.

Passou a administrar uma loja de materiais de construção montada pelo pai.

Não deu certo.

Andava deprimido.

A cabeça estava na Europa.

A paixão, o coração, o arrojo, a agressividade, o talento, os planos já estavam no sangue.

Dando um abraço no seu maior incentivador. Foto: Instituto Ayrton Senna

Três meses depois retornou.

Passou a correr na Fórmula Ford 2000.

Ganhou o Inglês e o Europeu da categoria com um impressionante retrospecto de 21 vitórias em 28 corridas.

Campeão na Fórmula Ford 2000 na Inglaterra. Foto: Reprodução/Internet

Em 1983, subiu para a Fórmula 3, então principal categoria de base antes da F1.

Naquela fase, o brasileiro já tinha bons patrocinadores, além de adotar um esquema de divulgação forte nas redações dos jornais.

Brasileiro arrebentou na Fórmula 3. Foto: Instituto Ayrton Senna

Já tido como um candidato a fenômeno da velocidade, a Globo transmitiu ao vivo a corrida que poderia decidir o título em seu favor, em Silverstone.

Ayrton chegou em segundo, mas depois conquistaria o título mais tarde numa acirrada luta com o inglês Martin Brundle.

Brundle brigou com Senna palmo a palmo pelo título da F3 Inglesa em 1983. Foto: Getty Images

Chegou onde queria em 1984.

Sua estreia (com 24 anos recém completados) pela Toleman foi, por coincidência, no Rio de Janeiro, na abertura da temporada.

Foi uma participação discreta em Jacarepaguá.

Ele abandonou na oitava volta com problemas de motor.

Que não aguentou o calor carioca.

Terminou em 16º lugar.

Estreia de Senna na Fórmula 1. Foto: Instituto Ayrton Senna

A vitória do GP do Brasil ficou com o futuro rival Alain Prost, que estreava na McLaren.

O francês perdeu o Mundial por meio ponto (72 a 71,5) para o companheiro de equipe, Niki Lauda.

Senna terminou na 9ª posição.

13 pontos em 16 corridas.  

Três pódios.

Senna na pista de Jacarepaguá no GP do Brasil de 1984. Foto: Divulgação/Pirelli

Na Lotus, entre 1985 e 1987, venceu as seis primeiras corridas.

Senna comemora primeira vitória na Fórmula 1 com a Lotuis, no GP de Portugal de 1985. Foto: Divulgação/Lotus

O primeiro título veio em 1988 pela Mclaren.

Seguido do bi em 1990.

E do tri em 1991 – publicamente afirmou que o campeonato de 1989 lhe foi roubado.

Foram 35 vitórias na montadora britânica.

Senna fez história na Mclaren. Foto: Reprodução/Internet

Só que o piloto não desistiu enquanto não fechou com a Williams (que tinha o melhor carro disparado e tornou Nigel Mansell campeão em 1992).

Ayrton Senna, Alain Prost, Nigel Mansell e Nelson Piquet em foto clássica no GP de Portugal de 1986. Foto: Divulgação/F1

Senna foi para a escuderia após a aposentadoria de Prost, campeão em 93, que tinha vetado o rival no ano anterior.

Até que veio a fatalidade em Ímola.

Que o tornou imortal.

Apresentação de Senna na Williams. Foto: Reprodução/Internet

161 GPs.

Dos quais subiu ao pódio 80 vezes.

41 no degrau mais alto.

Tricampeão mundial.

Filho e pai conversando sobre a corrida. Foto: Instituto Ayrton Senna

Dom?

Destino?

Ouvindo conselhos do pai. Foto: Instituto Ayrton Senna

Senna foi um piloto extraordinário.

Teve todo o suporte e oportunidades que um atleta de alta performance precisa.

Detalhes cruciais que impedem gente também dotada de muito talento de chegar no auge.

Seu Milton foi a pessoa mais importante na vida de Senna. Foto: Instituto Ayrton Senna

Emerson Luis é jornalista. Completou sua graduação em 2009 no Ibes/Sociesc. Trabalha com comunicação desde 1990 quando começou na função de repórter/setorista na Rádio Unisul – atual CBN. Atualmente é apresentador, repórter, produtor e editor do quadro de esportes do Balanço Geral da NDTV Blumenau. Na mesma emissora filiada à TV Record, ainda exerce a função de comentarista, no programa Clube da Bola, exibido todos os sábados, ao vivo, das 13h30 às 15h. Também é boleiro na Patota 5ª Tentativa. 

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