Boni vende royalties e música tema do Fantástico vira investimento financeiro

Entrada do empresário no segmento mostra que o modelo tem ganhado penetração não só entre os artistas, mas também entre grandes nomes do ramo de entretenimento.

O empresário José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, decidiu vender seu catálogo de royalties musicais para a MUV Capital, empresa de investimento em royalties de música e de cinema pertencente ao ecossistema da Hurst Capital.

O portfólio inclui a música tema do Fantástico, um dos programas de maior audiência da rede Globo, e outros sucessos como “Tieta”, imortalizado na voz de Luiz Caldas.

A negociação foi realizada através da Veridis Quo, empresa fundada em 2022 por Bruno Boni com o objetivo de atuar na originação, marketing e distribuição de ativos financeiros, sejam eles tradicionais (como CRA e CRI) ou não tradicionais (como royalties musicais e obras de arte).

“Eu sabia que essa prática existe há muito tempo no mercado americano e europeu, mas não tinha a dimensão de que era tão fácil fazer isso aqui no Brasil”, afirmou Boni ao revelar que o dinheiro obtido com a venda será doado integralmente ao Retiro dos Artistas.

Para Bruno Boni, a negociação com seu pai inaugura um ciclo importante da empresa, que está de olhos abertos para outros artistas que também tenham interesse em antecipar o recebimento dos seus royalties.

A oferta pública ocorrerá por meio de uma operação de securitização de certificados de recebíveis, dentro das normas da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), com distribuição em parceria com a Hurst Capital.

“A securitização é uma prática financeira que envolve a conversão de futuros fluxos de royalties em valores mobiliários negociáveis. Em termos simples, os artistas vendem uma parte de seus ganhos futuros gerados por seu catálogo musical aos investidores em troca de um pagamento fixo”, explica a COO da MUV Capital, Ana Gabriela Mathias.

Esta é a primeira operação de securitização de royalties musicais da MUV. As anteriores eram realizadas no formato de tokens.

O valor envolve a cifra de R$ 860 mil com expectativa de retorno para os investidores – dentro de um cenário base – em torno de 17,60% ao ano, em um prazo de 36 meses. Agora os investidores verão o capital aplicado crescer cada vez que a música tema de abertura do Fantástico for executada, seja no domingo, quando o programa é transmitido, ou a qualquer momento, por meio de plataformas de streamings.

Para Ana Gabriela, este novo passo deve ampliar o papel da MUV, pioneira neste mercado desde 2020, de financiar a música brasileira. Segundo ela, a securitização também permite que os artistas e autores possam diversificar seus fluxos de receita, além de reduzir a dependência de plataformas tradicionais de vendas de músicas ou streaming.

“Adquirir os royalties do Boni é um marco importante, pois mostra que o modelo de transformar música em investimento está ganhando penetração em grandes empresários do setor de entretenimento”, complementa.
Pioneirismo

As primeiras operações com royalties musicais da Hurst Capital tiveram início em 2020 e o interesse nesse tipo de investimento tem crescido desde então. Hoje, a MUV conta com uma carteira de R$ 170 milhões em catálogo de música, cujo retorno médio é de IPCA + 19% a.a. Deste total, R$ 30 milhões são de carteira própria e outros R$ 140 milhões foram alocados em seu fundo de investimentos. Ao todo, a empresa já adquiriu 216 catálogos de artistas brasileiros que correspondem a um total de 53.534 obras e 34.889 fonogramas.

O catálogo sob gestão da MUV é representado pelos principais gêneros musicais do Brasil como MPB, rock, funk, sertanejo, forró, gospel, pop, pagode, reggae, axé, rap e trilhas sonoras de programas de TV, filmes e jornais.

Além de Boni, também se destacam artistas como Paulo Ricardo, Toquinho, Amado Batista, o pianista e compositor João Luiz de Avellar, que conta com diversos sucessos gravados por nomes famosos da MPB, entre outros de grande importância no cenário musical nacional.

Royalties musicais é um investimento promissor por conta do crescimento ininterrupto do setor no Brasil e no mundo.

De acordo com dados do Ecad, entidade responsável pela fiscalização, arrecadação e distribuição de direitos autorais aos artistas, a arrecadação com música em 2022 (os dados de 2023 ainda não estão fechados) ficou em R$ 1,39 bilhão e a distribuição em R$ 1,23 bilhão, beneficiando 316 mil artistas, entre compositores, cantores e outros profissionais envolvidos.

Bom crescimento em comparação com 2021 quando foram arrecadas R$ 1,08 bilhão, distribuídos R$ 901 milhões e beneficiados com direitos autorais 267 mil profissionais.

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