
Rejane Rodrigues, de 55 anos, afirma que na juventude enfrentou dificuldades para engravidar, mas viu no conhecimento ancestral de Sacaca uma esperança. Curandeiro será homenageado no enredo da Estação Primeira de Mangueira no carnaval de 2026. Rejane Rodrigues é mãe de duas meninas
Arquivo pessoal/Rejane Rodrigues
Dono de saberes ancestrais, o amapaense Raimundo dos Santos Souza, o “mestre Sacaca”, deixou marcas na história do Amapá. Por meio do curandeirismo, Sacaca é tido como uma ponte de cura para muitas pessoas.
O curandeiro morreu em 1999, aos 73 anos, e hoje dá nome ao Museu Sacaca, no Centro de Macapá. Sua trajetória é viva na memória de vários amapaenses que utilizaram seus métodos de tratamento.
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O “doutor da floresta”, como ficou conhecido em diferentes cidades, utilizava seus conhecimentos na cura de doenças e no cuidado comunitário por meio de garrafadas, chás, unguentos e simpatias.
A amapaense Rejane Rodrigues, de 55 anos, relembra que na juventude o conhecimento ancestral de Sacaca foi uma esperança. Apesar da sede de ser mãe, Rejane viu esse processo se tornar cada vez mais difícil. Ela já havia tentado ovulação e inseminação artificial, mas sem sucesso.
“Tentei de tudo. Após três anos casada, minha labuta era muito grande para engravidar porque sempre foi meu sonho ser mãe. Apesar do investimento, dos estímulos, das tentativas, da sede de ser mãe, estava se tornando muito difícil. Daí foi que, conversando, me orientaram a procurar o Sacaca, ele já era muito conhecido como curandeiro na época, e tinha muitas alternativas de ervas, no qual as pessoas iam lá, conversavam com ele […] e ele mostrava os remédios”, relembrou Rejane.
Ao falar do tratamento prescrito por Sacaca, Rejane destaca a sensibilidade que o curandeiro tinha ao atender os pacientes. Aliado aos remédios, o curandeiro enfatizava a religiosidade. Com fé, a pessoa iria alcançar a cura esperada.
“Ele disse: olha, filha, sentou lá no banquinho dele, você vai engravidar , tenha calma, relaxa que vai dar tudo certo. E aí, o que aconteceu? Corri atrás. Justamente para alimentar essa esperança e a realização de um sonho […] ele falou que aquilo ali [a garrafada] ia fortalecer o meu útero. Era impressionante, quando eu fazia tudo o que ele falou, quando eu tomava, eu sentia assim uma coisa muito forte”, disse.
Hoje, passados muitos anos do tratamento, a amapaense é mãe de duas filhas. O que para ela foi uma verdadeira realização.
Rejane Rodrigues é professora da rede estadual de ensino
Arquivo pessoal/Rejane Rodrigues
Mestre Sacaca na Sapucaí
A ancestralidade de Sacaca será homenageada no enredo da Estação Primeira de Mangueira no carnaval de 2026, no Rio de Janeiro. A escola de samba carioca apresentou no último dia 16 o novo enredo: “Mestre Sacaca do encanto Tucuju – o Guardião da Amazônia Negra”.
A Mangueira descreveu que Sacaca representa os encantos da região e é uma titulação xamânica. O tema, por sua vez, mergulha na história afro-indígena do extremo Norte do país.
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Sacaca também dá nome a um museu em Macapá
Gea/Divulgação
O Guardião da Amazônia Negra
O curandeiro foi uma das personalidades mais tradicionais do Laguinho, bairro popular da capital. Em 2026, ele completaria 100 anos.
José Raimundo da Silva Costa, filho de Sacaca, destaca a importância de manter a memória do pai viva nas próximas gerações.
“É muito importante para as novas gerações conhecerem quem é essa pessoa de que tanto se fala e que muitos jovens não tiveram oportunidade de conhecer. Portanto, eles não têm muito conhecimento. A partir disso, a história dele vai ficar. Os jovens vão passar a conhecer melhor quem era ele”, disse.
Sacaca era conhecido como doutor da floresta
Divulgação/Raimundo Souza
De Doutor da floresta a carnavalesco
Sacaca participou do carnaval amapaense por mais de 20 anos seguidos como o Rei Momo e tinha a Boêmios do Laguinho, como escola de samba do coração.
No esporte, Sacaca destacou-se como técnico que revelou craques amapaenses e também como massagista. Atuou no Esporte Clube Macapá, quando o time foi campeão do primeiro Copão da Amazônia, em 1975.
Após a morte, recebeu a mais alta condecoração da Divine Académie Française des Arts Lettres et Culture. A homenagem póstuma foi concedida em 2018 à família em uma cerimônia no Rio de Janeiro.
Sua trajetória foi enredo das agremiações Solidariedade, Piratas da Batucada, Boêmios do Laguinho e Império da Zona Norte, além de vários blocos carnavalescos.
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