Bebê reborn com enxoval, certidão e até teste do pezinho: artesã de MG chega a vender até 100 por ano


Todas as peças produzidas por Priscila de Andrade, moradora de Juiz de Fora, acompanham um kit, com documentos, ultrassom e até a marquinha da vacina BCG. Popularização também levanta questões psicológicas; entenda. Artesã de bebês reborns de Juiz de Fora chega a vender até 100 por ano
Com certidão de nascimento, marquinha de vacina e até enxoval, os “bebês reborn”, bonecos hiper-realistas que imitam recém-nascidos, voltaram a viralizar nas redes sociais. Enquanto para alguns eles funcionam como objetos de coleção, recursos terapêuticos ou protagonistas de vídeos na internet, para outros o apego exagerado desperta questionamentos.
🔔 Receba no WhatsApp notícias da Zona da Mata e região
A artesã Priscila de Andrade produz bebês reborn há 10 anos em Juiz de Fora. O interesse surgiu depois que a filha, Maytê, então com 6 anos, pediu um dos bonecos hiper-realistas que via em vídeos na internet. Hoje, aos 16, ela já cresceu, mas foi aquele pedido que deu origem ao negócio da mãe.
Autodidata, Priscila aprendeu sozinha todas as etapas do processo, que teve início como um hobby.
“Enquanto criava, percebi que os bebês eram caros porque se tratava de um produto artesanal. Tudo são camadas e camadas de tinta, cabelo implantado fio a fio, é um trabalho minucioso. Além disso, há muito material importado, o que encarece ainda mais”, explicou.
Artesã Priscila de Andrade com um bebê reborn
Arquivo Pessoal
As amigas da filha, que viam as bonecas, começaram a encomendar o produto, e assim o negócio começou a crescer.
“Vi que tinha um nicho e comecei a investir e vender. Hoje, cerca de 60% das vendas são para Juiz de Fora e cidades da Zona da Mata, como Barbacena, Ubá e Leopoldina, mas já enviei bebês para outros estados, como Acre e Maranhão”.
Ela contou que, nos últimos anos, o crescimento foi ainda mais expressivo.
“Devo ter feito uns 400 bebês até agora. Só nos últimos três anos a procura disparou por causa das redes sociais. No Natal do ano passado, cheguei a fazer 40 sozinha”.
Bebê reborn feito pela artesã Priscila de Andrade
Arquivo Pessoal
100 bebês por ano
Atualmente, são cerca de 100 bebês por ano. O tempo de produção varia, mas com a prática Priscila consegue finalizar um boneco em cerca de três dias. Em épocas de maior demanda, como no fim do ano, a agenda costuma fechar com meses de antecedência.
Ela trabalha com dois tipos de kits para criar o design dos bebês: os nacionais, que chegam em até 20 dias, e os importados, que podem levar até dois meses. O rosto já vem moldado, mas todo o restante é feito manualmente.
“Cada bebê é único porque cada artista é único. Faço toda a pintura, coloco os olhos, implanto o cabelo e monto o corpo”, disse a artesã.
Bebê reborn feito pela artesã Priscila de Andrade
Arquivo Pessoal
Kits com certidão, ultrassom e até teste do pezinho
Todos os bebês reborn produzidos por Priscila acompanham um “enxoval”, com certidão de nascimento, ultrassom, teste do pezinho e até a marquinha da vacina BCG, além de itens tradicionais como madeiras e chupetas.
“A ideia é tornar o momento especial para quem compra. Tenho clientes que fazem vídeos para a internet mostrando os cuidados com o bebê e com o enxoval”.
Com o aumento da demanda, ela passou a oferecer versões mais acessíveis dos kits para ampliar o público.
“Antes, eu só fazia enxoval de luxo, mas percebi que precisava democratizar o acesso. Hoje, ofereço opções mais simples, mas a experiência continua a mesma”, contou.
Os preços dos bonecos variam entre R$ 1.320 e R$ 2.100.
Galerias Relacionadas
‘É um produto artístico e lúdico’
Apesar da polêmica em torno dos bonecos, Priscila defende que os bebês reborn são, antes de tudo, um produto artístico e lúdico. Para ela, a maioria das pessoas envolvidas nesse universo são artistas ou colecionadoras.
“Claro que existem exceções de pessoas que podem ter alguma patologia com eles, mas a maioria compra para colecionar ou brincar. É algo saudável. Menino pode andar com carrinho, mas se uma menina leva um reborn na rua já vira polêmica. É só um brinquedo”.
A artesã argumenta que parte da repercussão nas redes sociais está relacionada à maneira como os conteúdos são produzidos, muitas vezes com foco na divulgação e nas vendas.
“Os vídeos que mostram o boneco como se fosse um bebê real são, na maioria das vezes, uma estratégia de marketing. O produto precisa chamar atenção”, disse.
Fatores emocionais e possíveis usos terapêuticos
A popularização dos bebês reborn também levanta questões psicológicas. Segundo especialistas, o apego a esse tipo de boneco pode estar ligado a experiências emocionais intensas, como luto, solidão ou idealização da maternidade.
A psicóloga Valéria Figueiredo explica que, em alguns casos, o uso do boneco pode até ser terapêutico.
“Há situações em que os bebês reborn funcionam como substitutos simbólicos: perdas gestacionais, infertilidade, ou o chamado ‘ninho vazio’, quando os filhos crescem e saem de casa”, afirma.
Entre os usos terapêuticos já registrados, conforme a especialista, estão:
Estímulo a pacientes com Alzheimer ou demência, que podem se lembrar de fases da vida por meio do cuidado com o boneco;
Companhia para pessoas que enfrentam solidão ou ansiedade;
Apoio emocional em instituições de longa permanência para idosos.
A psicóloga alerta, no entanto, que o uso do boneco deve ser acompanhado com atenção em casos extremos.
“Quando o vínculo impede a criação de relações reais, gera isolamento social ou interfere na rotina, pode ser sinal de sofrimento psíquico. O boneco deve ser visto como um apoio emocional, não um substituto para relações humanas ou para o enfrentamento de questões emocionais profundas”, finalizou.
Bebê reborn feito pela artesã Priscila de Andrade
Arquivo Pessoal
📲 Siga o g1 Zona da Mata: Instagram, X e Facebook
VÍDEOS: veja tudo sobre a Zona da Mata e Campos das Vertentes
Adicionar aos favoritos o Link permanente.