Trilogia do cotidiano negro no Brasil

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Começa amanhã (22) a segunda fase em Cabedelo do projeto Preto em Movimento, promovido pelo ator baiano Leno Sacramento na Fortaleza de Santa Catarina. Após a realização da oficina Preto Teatrando que começou no último dia 16 e segue até hoje, ele realiza, logo mais, uma noite de autógrafos do livro Para Desgraça – Uma Quarta para Não Esquecer (Selo Trovoar), a partir das 19h. Encerrando o evento, de sexta-feira a domingo, Sacramento encena três peças, em duas sessões cada: En(cruz)ilhada (dia 23, às 15h e às 19h); Nas Encruza (dia 24, às 15h e 19h); e Escarro Início (dia 25, às 15h e às 19h). Toda essa programação é gratuita.

O livro de memórias, lançado há quatro anos, parte de um episódio vivido pelo ator em 2018: passeando de bicicleta pelas ruas do centro de Salvador, foi atingido de raspão por um tiro na perna, disparado por um policial à paisana. Com base nesse fato, ele encampa uma imersão em sua vida como homem negro, atravessada por preconceitos, mas muita luta. 

“Costumo dizer que não é uma obra só de denúncia, só de protesto. Esse livro é um desabafo, é um protesto, mas é também poesia, é também ludicidade. É um livro para acordar. É um livro para alertar as pessoas das comunidades, as pessoas que são baleadas todos os dias e as pessoas que vêem pessoas sendo baleadas todos os dias”, explica.

Quanto aos espetáculos, Sacramento detalha que eles perfazem uma espécie de trilogia que aborda, ora com similitude, ora com modificações, aspectos do cotidiano negro no Brasil. O primeiro, En(cruz)ilhada, trata, nas palavras do artista, do genocídio dessa população; o segundo, Nas Encruza, traz a baila outras minorias; e o terceiro, Escarro Início, é tratado como a gênese dos outros dois. “Eles têm coisas sutis neles que os diferenciam bastante um do outro, mas quando a gente assiste os três, entende que eles são iguais. É bem confusa essa resposta, eu sei. Mas que bom que é confuso, né? Para a gente se questionar, procurar saber o que a gente está fazendo, o que a gente está falando”, pontua.

Ator experiente, Sacramento atua nos palcos do país desde que ingressou no Bando de Teatro Olodum, em Salvador, no início dos anos 1990. No cinema, participou dos filmes Cidade Baixa (Sérgio Machado, 2005), O Paí, Ó (Monique Gardenberg, 2007) e O Paí, Ó 2 (Viviane Ferreira, 2023). Ele faz um balanço positivo da oficina, com um grupo de 20 alunos.

“Eles vão apresentar uma amostra do resultado final da oficina, em que a gente trabalha com movimento e exercícios teatrais. A gente lê o livro Para Desgraça e improvisa em cima dessa leitura, antes do lançamento, amanhã. A gente leva o Preto em Movimento para outras cidades, para dividir, para conectar com outras cidades e vivências”, sustenta.

O livro e todos os trabalhos de Sacramento citados acima estão interligados por motivo muito triste: ele foi baleado quando estava a três minutos do teatro, onde iria encenar En(cruz)ilhada, pela qual concorreu com o Prêmio Braskem de melhor espetáculo baiano.

Na produção do evento no estado, o artista paraibano Afrosonoro assevera a importância da iniciativa. “Foi um sucesso essa primeira semana de oficinas, que deixará sua contribuição na vida de cada pessoa que se dispôs a vivenciá–la. Sobre a segunda fase, ainda teremos um universo para mergulhar, com essa amostra que será o resultado das atividades realizadas antes, por cada participante”, conclui. 

Programação:

Quinta 

19h – Mostra da Oficina Preto Teatrando e lançamento do livro Para Desgraça – Uma Quarta para Não esquecer

Sexta

17h e 19h – Espetáculo: Encruzilhada

Sábado

17h e 19h – Espetáculo: Nas Encruza

Domingo

15h e 17h – Espetáculo: Escarro Início 

*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 21 de maio de 2025.

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A União

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