Pesca da sardinha movimenta comunidades e sustenta tradição no litoral catarinense

Pesca da sardinha movimenta comunidades e sustenta tradição no litoral catarinense

Pesca da sardinha movimenta comunidades e sustenta tradição no litoral catarinense – Foto: Divulgação

O mar que banha Santa Catarina não é apenas cenário de beleza: ele sustenta histórias, conecta gerações e movimenta uma cadeia produtiva essencial para o estado. A pesca da sardinha, que tem na espécie Sardinella brasiliensis sua grande protagonista, é um exemplo vivo de como tradição e inovação caminham juntas para alimentar pessoas, economias e memórias.

Um peixe pequeno, uma cadeia gigante

Com corpo alongado e menos de 25 centímetros, a sardinha parece discreta. Mas por trás de sua aparência simples está uma engrenagem que envolve pescadores, embarcações, frigoríficos, indústrias de enlatados, pesquisadores e consumidores.

Só em Santa Catarina, a cadeia produtiva da sardinha gera mais de 20 mil empregos diretos e indiretos. O estado abriga a maior frota pesqueira e algumas das maiores indústrias de enlatados do país, com destaque para cidades como Itajaí e Navegantes.

A captura do peixe depende das traineiras – embarcações especializadas que podem passar até 21 horas no mar em busca dos cardumes. É um trabalho coletivo, realizado por equipes experientes, em que cada tripulante tem uma função bem definida.

“É o pão de cada dia meu, de meus filhos”, afirma o ajudante de proa, Altino dos Santos Filho.

Da rede à lata: o caminho da sardinha

Depois da pesca, a sardinha passa por processos que exigem cuidado, infraestrutura e vigilância sanitária. A etapa de congelamento pode chegar a 40 toneladas por dia, e todo o ambiente de manipulação é controlado, desde a temperatura até os uniformes – lavados por lavanderias credenciadas pelo Ministério da Agricultura.

Nas fábricas de enlatados, parte do processo é automatizado, mas a sardinha ainda passa pelas mãos de quem corta, limpa e embala com precisão. Cada lata carrega não só alimento, mas também o esforço de centenas de trabalhadores. Em uma única unidade visitada, são produzidas 1 milhão de latas por dia.

Tecnologia e rastreabilidade a bordo

A tradição da pesca artesanal ganhou reforço tecnológico nos últimos anos. Sonares de alta resolução, capazes de detectar o tamanho e a quantidade do cardume pela bexiga natatória dos peixes, ajudam a tornar a atividade mais precisa e eficiente.

“Ela mostra o tamanho do peixe e, ao passar aqui, dentro desse quadrado, ela me diz a quantidade aproximada do peixe”, explicou o mestre Sandro Polidorio.

Em paralelo, satélites e projetos desenvolvidos por universidades, como a Univale, indicam áreas com maior probabilidade de captura. Com isso, é possível reduzir o gasto com combustível, que representa até 70% dos custos da operação, e diminuir a emissão de gases poluentes.

Inovação que preserva e alimenta

A sardinha também é tema de pesquisas voltadas à sustentabilidade e ao cultivo em cativeiro. No laboratório de piscicultura marinha da UFSC, por exemplo, pesquisadores conseguiram desenvolver a reprodução em ambiente controlado, gerando iscas vivas para a pesca do atum. Isso reduz a pressão sobre os estoques naturais e melhora a eficiência da pesca oceânica.

Outra iniciativa, na região de Penha, estuda o cultivo da sardinha em conjunto com macroalgas e moluscos, criando um sistema de reciclagem marinha em que os resíduos de um organismo servem de alimento ou fertilizante para outro.

Só em Santa Catarina, a cadeia produtiva da sardinha gera mais de 20 mil empregos diretos e indiretos – Foto: Divulgação

Com ciclos de produção curtos, em torno de 40 dias, o modelo tem potencial para abastecer o mercado com peixe fresco, isca viva ou matéria-prima para a indústria.

“O Brasil chegou, em 2023, a importar 25 milhões de toneladas de sardinha. O ano passado realmente teve um bom recrutamento sardinha – a importação foi menor, mas ficou em torno de 7 milhões de dólares, né? Então tem um custo, o Brasil também tem um custo elevado” – conta Gilberto Manzoni, professor e pesquisador.

Identidade cultural e saúde no prato

Para além dos números, a sardinha é também um símbolo afetivo. Conhecida por nomes como “charuto” em Itajaí, ou “cardoso” em Florianópolis, ela está presente na mesa, nas receitas e nas histórias das famílias catarinenses.

Do rancho de pesca à peixaria do Mercado Público, não faltam modos de preparo: frita, empanada, à milanesa ou na panela de pressão, ela alimenta o corpo e as lembranças.

Do ponto de vista nutricional, é uma aliada importante da saúde. Rica em ômega-3, a sardinha ajuda a prevenir doenças cardiovasculares, reduzir inflamações e proteger o sistema neurológico. E os benefícios se mantêm mesmo nas versões enlatadas, tornando o alimento acessível a quem vive longe do litoral.

“Para as pessoas que não têm acesso a um Mercado Público, que não têm acesso a um peixe in natura, a sardinha em lata pode ser consumida tranquilamente, e ter todos esses benefícios usufruídos”, explicou o nutricionista Takeo Kimoto.

Depois de todas essas informações, ficou com vontade de saber mais sobre a pesca da sardinha em Santa Catarina? Aproveite e assista na íntegra ao episódio do programa Agro, Saúde e Cooperação. O projeto, desenvolvido pelo Grupo ND, tem parceria com a Ocesc, Aurora, SindArroz Santa Catarina, Sicoob e ADS Drones.

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