Siga @radiopiranhas
Durante o julgamento que pode transformar 12 investigados do chamado “núcleo 3” da suposta tentativa de golpe de Estado em réus, o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), decidiu ignorar um áudio recém-divulgado no qual o policial federal Wladimir Matos Soares, um dos acusados, isenta o ex-presidente Jair Bolsonaro de envolvimento direto nas articulações golpistas.
Apesar do conteúdo sensível da gravação — em que o próprio investigado afirma que não havia ordens vindas de Bolsonaro —, Moraes classificou o áudio como “extemporâneo” e afirmou que ele não será considerado na fase atual do processo, que analisa apenas o recebimento da denúncia oferecida pela Procuradoria-Geral da República (PGR).
“Esse áudio será analisado se eventualmente a denúncia for recebida. Ele não faz parte da denúncia oferecida pela PGR e não fará parte também da análise do meu voto, uma vez que foi juntado de forma extemporânea”, disse Moraes ao negar o pedido de adiamento feito pela defesa de Soares.
A defesa alegava que o conteúdo do áudio desmonta a narrativa central da denúncia, ao indicar que Bolsonaro não comandava diretamente os movimentos golpistas — ponto essencial para a sustentação da tese de articulação centralizada.
Mesmo assim, Moraes reforçou que a sessão do STF tem como objetivo avaliar a formalidade da denúncia, e não discutir seu mérito. Ele reiterou que, caso o áudio venha a ser incorporado nos autos de forma adequada, poderá ser analisado futuramente, tanto pela acusação quanto pela defesa.
Nos áudios obtidos e periciados pela Polícia Federal, Wladimir Soares — que chegou a revelar informações sobre a segurança do presidente Lula — também afirma que não havia ordem expressa de Bolsonaro para ações golpistas. Ele sustenta que o então presidente não teria envolvimento direto na formação de grupos armados ou nas tratativas mais radicais que miravam ministros do STF.
Apesar disso, outros trechos da gravação mostram falas preocupantes, em que Soares descreve a existência de um grupo armado com intenção de prender ministros da Suprema Corte e usar força letal, se necessário, com frases como “m4tar meio mundo”.
A PGR, no entanto, não anexou o áudio à denúncia apresentada. Isso deu brecha para Moraes descartá-lo nesta fase. Ainda assim, a escolha do ministro de rejeitar qualquer impacto do conteúdo no andamento do julgamento foi recebida com críticas nos bastidores da defesa, que vê no episódio um exemplo de seletividade processual.
O “núcleo 3” inclui servidores públicos — como policiais, militares e agentes de inteligência — que, segundo a PGR, forneceram apoio tático e informacional ao plano golpista, agindo nos bastidores para minar o processo democrático após a derrota eleitoral de Bolsonaro.
Caso a denúncia seja aceita, os 12 alvos se tornarão réus por crimes como tentativa de golpe de Estado, abolição violenta do Estado Democrático de Direito e organização criminosa.

source
Fonte : Hora Brasilia