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Se o mercado não está bom para IPOs, com o País caminhando para o quarto ano consecutivo sem uma empresa abrindo capital na B3, Roderick Greenlees se mostra bastante entusiasmado com as perspectivas para M&As em 2025.
Segundo o global head de Investment Banking (IB) do Itaú BBA, responsável pela parte de equity capital markets (ECM) e M&As, o pipeline de operações está em níveis historicamente altos em termos de volume, puxado por grandes transações.
“Se olhar os volumes no acumulado do ano, estamos uns 25%, 30% acima do ano passado em volume transacionado. Em número de operações, temos uma queda parecida. O que isso significa? Que a gente tem um número menor de operações, mas, na média, operações muito maiores”, diz Greenlees, em entrevista ao NeoFeed.
Essa situação pode ser vista em algumas das operações em que o Itaú BBA participou. Uma delas foi a venda da participação da Vale na companhia de energia Aliança, em março, para o Global Infrastructure Partners (GIP), por US$ 1 bilhão. O banco também trabalhou com a tcheca Energo Pro na compra de uma usina hidrelétrica, no Paraná, numa operação envolvendo Copel e Neoenergia, por cerca de R$ 1,5 bilhão.
Greenlees diz que as operações de M&A têm sido puxadas pelo segmento de infraestrutura, com a perspectiva de retornos estáveis dos projetos e dos ativos no longo prazo se contrapondo aos efeitos dos juros altos no curto prazo. “E aí eles [compradores] estão dispostos a pagar preços melhores”, afirma.
Já no mercado de ECM, a situação não é das melhores. Além da seca de IPOs, a expectativa para follow ons também não é positiva, com o executivo estimando a possibilidade de acontecerem entre cinco e dez destas transações em 2025, “talvez mais para cinco”.
“Eu não tenho expectativa para IPOs neste ano, só se as coisas andarem muito mais rápido do que espero. No caso de follow-ons, pode ter uma retomada no segundo semestre, se essa questão da taxa de juros ficar um pouco mais clara”, diz Greenlees.
Apesar desse pessimismo, ele avalia que a visão dos investidores institucionais a respeito do Brasil está melhor no relativo. Segundo ele, o mercado tem se destacado entre os mercados emergentes na realocação de capitais e investimentos que ocorre pela mudança de visão a respeito dos Estados Unidos.
A entrada de recursos em renda variável tem sustentado uma alta de 25% do Ibovespa, em dólar, neste ano, ainda que não seja suficiente para permitir uma retomada dos IPOs e um volume expressivo de follow ons.
“Se houver uma visão de queda dos juros ou que o País está conseguindo administrar as contas públicas, o pipeline de operações crescerá rápido. Por enquanto, não haverá um número grande de operações”, afirma.
Leia, a seguir, os principais trechos da entrevista ao NeoFeed:
Qual sua avaliação a respeito da atividade do mercado de capitais no ano passado, em termos de IPOs e follow ons? Estava dentro do que esperavam?
Não. Houve uma certa frustração. No início do ano falávamos de uma inflação sob controle e uma taxa de juros, ao fim do ano, de 9%. O fato é que as condições de mercado mudaram bastante ao longo do ano. O ano passado se mostrou bem mais desafiador do que a gente esperava. Tivemos uma operação importantíssima, que foi o follow on da Sabesp, mas sem IPOs. Estamos indo para o quarto ano sem IPOs, o período mais longo em quase 25 anos.
Quais eram as projeções do banco para IPOs e follow ons no fim de 2023, olhando para 2024?
O que a gente falava em 2023, porque víamos uma queda da taxa de juros até o fim do ano, é que esperávamos alguma coisa entre 20 e 30 operações, entre follow-ons e eventualmente algum IPO no segundo semestre do ano.
Como tem visto este começo de ano?
Com tudo o que está acontecendo nos Estados Unidos, vemos um fluxo positivo de estrangeiros. O pessoal está reposicionando os investimentos e o que vem para emergentes está nos beneficiando. A Índia está cara, a China tem desafios, a Rússia não é mais “investível”, no México tem as preocupações com o que está acontecendo na economia. O Brasil está se beneficiando. Fora que o País está barato, com múltiplo implícito de P/E, excluindo Petrobras e Vale, de 9,5 vezes, enquanto a média de dez anos é de 11 vezes. Poderíamos receber mais se tivéssemos feito nossa lição de casa do lado fiscal.
É o suficiente para estimular uma reabertura de mercado?
É o suficiente para o Ibovespa ficar num patamar recorde. Mas considerando a inflação, em termos reais, não é tão bom assim. É suficiente para monitorarmos o mercado, mas não o suficiente para falar em IPOs. Alguns follow ons podem acontecer, como foi o da Caixa Seguridade. Podem haver transações pontuais, pelo menos entre o segundo e o terceiro trimestre. Mas o que deveria acontecer anualmente no Brasil é pelo menos 30 a 40 operações entre IPOs e follow-ons.
O que precisa acontecer para termos uma retomada do mercado?
A retomada do mercado se dará quando tivermos certeza que a taxa de juros vai começar a cair, quando tivermos mais visibilidade em relação ao cenário eleitoral. Se houver uma visão de queda dos juros ou que o País está conseguindo administrar as contas públicas, o pipeline de operações crescerá rápido. Por enquanto, não haverá um número grande de operações. É uma pena, porque tem uma demanda reprimida enorme. Se o fluxo estrangeiro crescer e os gestores locais se animarem, podemos falar sobre uma atividade consistente.
Vocês tinham algum IPO no pipeline para o ano passado?
O pipeline de ECM é interessante. Enquanto M&A é constante, ECM varia por conta do mercado, porque é de rápida execução. Num follow-on, podemos ser mandatados hoje e executar a transação daqui um mês, três semanas. Nós tínhamos um IPO? Provavelmente não. Existem candidatos naturais, que permanecem em boa parte os mesmos. Mas, no ano passado, não falava de uma explosão de IPOs, porque já tinha um momento difícil de inflação. Fato é que isso não aconteceu e não deve acontecer este ano.
Não devemos esperar IPOs para este ano?
Eu não tenho expectativa para IPOs neste ano, só se as coisas andarem muito mais rápido do que espero. No caso de follow ons, pode ter uma retomada no segundo semestre, se essa questão da taxa de juros ficar um pouco mais clara.
“O que deveria acontecer anualmente no Brasil é pelo menos 30 a 40 operações entre IPOs e follow ons”
Alguma projeção para follow-on?
É difícil dizer. Podemos ter dez operações até o fim do ano? Podemos, mas as condições teriam que melhorar bastante. Acho que teremos algo entre cinco e dez, talvez mais para cinco. Já tivemos duas e tem uma terceira agora na qual não estamos envolvidos [Orizon]. Mas todos esses números são pequenos frente ao potencial do mercado e ao que já vimos no Brasil.
Quando você olha para potenciais follow ons, seriam operações para melhorar estrutura de capital ou para investimentos?
Se o mercado estivesse melhor e as ações refletissem um mercado melhor, empresas alavancadas poderiam ser candidatas. Mas as ações estão mal avaliadas na média. Para uma oferta primária, as empresas têm que ver se faz sentido captar recursos neste momento. Existem empresas com projetos bons, principalmente na parte de infraestrutura. Tem espaço para as empresas captarem recursos para viabilizar esses investimentos. Os follow ons terão características diferentes, inclusive teremos casos que precisam se ajustar às exigências da B3, como foi a Caixa Seguridade.
Como a situação nos Estados Unidos afetou o cenário?
Acabou bagunçando. Existe incerteza em relação ao futuro, não sabemos até onde vão estas tarifas e seus efeitos no comércio global e, por consequência, nas economias. Mas é cedo para dizer. Vai levar uns dois ou três trimestres para entendermos as consequências. Essas instabilidades atingem todos. Tivemos um efeito positivo, mas limitado que foi essa entrada de recursos na Bolsa, com alocação para os poucos nomes líquidos, como setor financeiro, na área de infraestrutura. Teremos que esperar um pouco.
No começo do ano havia a expectativa de que a falta de IPOs no Brasil poderia ser driblada com operações nos Estados Unidos. Considerando o cenário atual, ainda é viável?
Eu nunca acreditei nesse modelo de substituir a B3 pelo mercado americano. O investidor é preparado, profissional, e os investidores que investem lá também investem aqui. Simplesmente mudar o CEP e achar que o IPO terá mais sucesso nos Estados Unidos, isso não acontece. O investidor vai olhar os fundamentos da companhia, do mercado em que a empresa está inserida. Se há limitações no Brasil por questões particulares ao País, não há razão para uma operação ser bem-sucedida nos Estados Unidos.
Qual tipo de empresa teria chance de sucesso com uma listagem nos Estados Unidos?
As que são bem-sucedidas são aquelas que têm planos globais, tem um plano de expansão internacional. O Nubank é um bom exemplo, sendo bem-sucedido no Brasil e que está crescendo para outros mercados. Se o negócio está baseado no Brasil, 90% da receita vem do Brasil, não faz sentido nenhum tentar acessar o mercado americano. Para mim é restrito a um número de companhias. Nós temos um mercado pujante no Brasil, já fizemos IPOs de R$ 10 bilhões, R$ 15 bilhões, grandes até para padrões americanos. A questão é que a situação precisa estar melhor aqui.
Quando teve um grande número de empresas listando no exterior, entre 2020 e 2021, havia o argumento de que o investidor lá fora entendia determinadas teses, as empresas poderiam conseguir múltiplos melhores…
Mesmo nesses casos acabou não dando muito certo. Para empresas de tecnologia, com algumas empresas comparáveis nos Estados Unidos e com nada parecido no Brasil e na América Latina, pode ter lógica acessar o mercado americano. Mas, na prática, se ela for dependente do mercado brasileiro, ela pode até ser parecida com uma empresa americana, mas as dinâmicas que gerem os resultados são diferentes. Não adianta ser comparável a alguma coisa boa em outro mercado se aquele outro mercado tem pouca influência nos resultados.
“Vai levar uns dois ou três trimestres para entendermos as consequências das tarifas dos Estados Unidos”
Se o ano não promete ser bom para IPOs e follow ons, ele será bom para M&As?
M&A está muito bom, o pipeline está em níveis historicamente altos. Se não for o recorde, está próximo disso. Temos um bom número de mandatos em M&A.
Recorde em termos de mandato?
Em número de mandatos. Se olhar os volumes no acumulado do ano, estamos uns 25%, 30% acima do ano passado. Isso em volume transacionado. Em número de operações, tem uma queda parecida. O que isso significa? É que a gente tem um número menor de operações, mas, na média, operações muito maiores. O que para o nosso mundo, de assessores, é muito bom, porque normalmente nossa remuneração está atrelada a transações maiores, que demandam assessoria profissional.
O que tem motivado os M&As? Porque falava-se muito em múltiplos baixos que desencorajavam os vendedores, muitos não queriam vender nesses patamares…
A demanda do vendedor é sempre a mesma, ele quer vender pelo maior preço, pelo maior múltiplo. Em muitas situações, principalmente na área de energia e infraestrutura, é um setor que cresce mais do que o PIB, que demanda investimentos grandes e os retornos acontecem no médio e longo prazo. Então são transações que independem do curto prazo. As operações que aconteceram, o investidor está entrando com um horizonte de dez anos, 20 anos. Tem retornos estáveis ao longo do tempo e é isso que fundos de pensão, por exemplo, procuram. E aí eles estão dispostos a pagar preços melhores.
Pelo visto, no lado vendedor, também há uma questão de reciclagem de portfólio, como foi o caso da Equatorial, para conseguir investir na Sabesp, a Vale com a Aliança…
No caso da Vale, a Aliança não é core para eles terem um braço de energia. Se a empresa tem um bom sócio disposto a fazer um investimento em alguma coisa que é importante para ele, mas que não é um negócio dele, por que não?. Então tem uma reciclagem de portfólio, para investimentos em novos projetos. E teve a venda da Suvinil, que não tem a ver com o que disse até agora. Foi uma decisão de sair do País. O pipeline tem muita coisa relevante e a relevância gira em torno de infraestrutura.
Os grandes M&As estão em infraestrutura?
Sim. Outros setores também têm. A gente vendeu as operações do Cencosud que eles têm em Minas Gerais. Mas o crescimento de 30% do volume em relação ao ano passado não é across the border, é uma concentração em energia e infraestrutura. Suvinil e Carrefour pontos fora da curva.
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Neofeed