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A primeira vitória eleitoral no fim de semana do Liberdade Avança, partido do presidente argentino Javier Milei, foi recebida na segunda-feira, 19 de maio, com euforia pelo mercado financeiro. As ações argentinas listadas em Nova York subiram mais de 8%, lideradas pelo Supervielle Bank. Os títulos também apresentaram desempenho positivo, com aumentos de até 2,5%.
Além disso, o dólar caiu 0,7% no atacado, no que foi visto como uma sinalização das urnas em apoio à política econômica de Milei, a despeito de jogadas rasteiras na campanha para obter a vitória.
A repercussão e o significado político da vitória foram mais relevantes do que a própria eleição em si – restrita ao Legislativo do município de Buenos Aires, com o índice de abstenção mais alto já registrado, de quase 50%, a despeito do voto obrigatório, com vitória relativamente apertada do governo.
A lista de deputados eleitos do Liberdade Avança, liderada por Manuel Adorni, porta-voz de Milei, venceu com 30,13% dos votos, pouco à frente da lista peronista, encabeçada por Leandro Santoro, que obteve 27,35%.
Em terceiro lugar ficou Silvia Lospennato, do PRO (Proposta Republicana), partido liderado pelo ex-presidente Maurício Macri (2015-2019), que no domingo amargou uma das piores derrotas de sua carreira política, após ser vítima de uma manobra ilegal do partido de Milei – que divulgou um vídeo falso usando inteligência artificial alterando falas de Macri.
O resultado, considerado surpreendente, trouxe algumas constatações. A primeira é a confirmação de que a combinação de inflação em baixa e um dólar relativamente barato é imbatível em qualquer eleição. O alto índice de abstenção, por sua vez, indica que os argentinos ainda seguem insatisfeitos com os políticos de maneira geral.
Embora a vitória de Milei seja inquestionável, o fator decisivo será se o Liberdade Avança replicar o resultado nas eleições de setembro, na Província de Buenos Aires, e nas eleições de outubro, em nível nacional – atualmente, o governo está em minoria no Congresso Nacional.
Para analistas, o recado das urnas foi claro. “Uma constatação é que o partido de Milei deve ‘liderar’ os próximos acordos políticos”, afirmou ao NeoFeed o economista Nicolás Alonzo, analista-chefe da consultoria Orlando Ferreres e Asociados, de Buenos Aires.
“A vitória na cidade de Buenos Aires mostra que ele tem apoio popular e é fundamental para pensar em uma possível aliança tendo em mente a Província de Buenos Aires”, acrescentou.
Jogo sujo
Sabendo do potencial que uma vitória nas urnas traria ao seu projeto econômico, Milei investiu pesado na eleição, tentando nacionalizá-la o máximo possível, como se fosse uma espécie de referendo e apoio popular a essa agenda e ao plano econômico que o governo está desenvolvendo.
Milei colheu bons resultados com essa estratégia, mas também armou uma armadilha a si próprio no intricado jogo político argentino.
Analistas admitem que a ideia do presidente argentino de colocar seu porta-voz como líder da lista de candidatos ao Legislativo da capital federal facilitou a vitória. Nas semanas anteriores à eleição, Manuel Adorni apareceu mais na mídia que o próprio Milei.
Na reta final de campanha, coube ao porta-voz do presidente fazer anúncios populares, como a remoção de impostos sobre produtos industriais; a entrega gratuita de fraldas aos idosos; a redução de tarifas na importação de celulares e, por fim, uma reforma na lei de imigração, em conjunto com a ministra da Segurança, Patricia Bullrich, que acabará com a entrada fácil no país de estrangeiros com antecedentes criminais.
Outra jogada do presidente argentino foi usar todas as armas na eleição, incluindo ilegais, visando acabar com o poder de Macri e do PRO, que controlava o cenário político da capital argentina desde 2007.
No sábado, véspera de eleição e em pleno período de silêncio eleitoral, um vídeo começou a circular nas redes sociais de apoiadores de Milei no qual Macri aparecia supostamente admitindo a derrota de sua chapa e pedindo votos para o Liberdade Avança, partido do governo. A gravação, contudo, era inteiramente falsa, fruto de manipulação por inteligência artificial generativa.
Para Joaquín Morales Solá, colunista do jornal La Nación, o presidente argentino traiu Macri, um líder de centro-direita e aliado do atual governo desde a posse.
“Macri ajudou a aprovar as principais leis que permitem que um presidente governe sem o Congresso e, acima de tudo, contribuiu para que as câmaras parlamentares não rejeitassem os vetos do chefe de Estado a iniciativas legislativas que distorcessem as políticas oficiais subjacentes”, escreveu o analista.
Segundo ele, porém, Milei poderá prescindir do apoio de Macri e do PRO nas próximas votações e eleições. O presidente argentino, porém, não se mostrou preocupado.
“Os líderes estão percebendo que o PRO é uma ferramenta que ficou obsoleta”, afirmou Milei na segunda-feira sobre a sigla, que atualmente governa a capital argentina. “Não é uma ferramenta que está em condições de poder acabar com o kirchnerismo.”
Milei aproveitou para confirmar a próxima polêmica medida econômica que está preparando: a liberação do uso de dólares não declarados para consumo.
O presidente, que chamou a medida de “lavagem de dinheiro isenta de impostos”, admitiu que não perguntará de onde virá o dinheiro – economistas acreditam que os argentinos têm, no mínimo, US$ 200 bilhões guardados em bancos e sob o colchão.
“Você poderá usar seus dólares sem deixar marcas nos dedos” prometeu o presidente argentino, que não vê conflito de interesse com o controle de transações em moeda forte feito pelos bancos, para evitar lavagem de dinheiro.
“Ninguém precisa saber onde você conseguiu os dólares; se houve um roubo, o roubo deve ser combatido”, afirmou Milei. “Mas não se deve criar distorção econômica para combater um crime.”
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Neofeed