“Se a casa estava vazia e tinha gente que precisava, por que não ajudar?” Foi com essa simplicidade e grandeza que Airto Mezalira, de 80 anos, decidiu transformar a dor de uma família atingida pela enchente de 2024 em esperança. Morador da comunidade de Itapuca, em Anta Gorda, ele cedeu a antiga casa de madeira, em estilo italiano, que havia desocupado recentemente, para abrigar Renida Frighetto, 76 anos, e seu marido, Joair Frighetto, além da filha do casal.
O gesto generoso surgiu após o casal perder praticamente tudo em um deslizamento provocado pela chuva intensa. Eles moravam a cerca de 800 metros de onde estão agora. “Desceu tudo. Ainda tem algo de pé, mas nem sei por quanto tempo”, conta Renida, emocionada ao lembrar do momento em que o barranco começou a ceder.
Assim que perceberam o perigo, saíram apenas com a roupa do corpo. “Ainda bem que tivemos para onde ir, ficamos na casa da cunhada e o pessoal da vizinhança ajudou muito. Lavaram as roupas molhadas, nos deram o básico. Mas ferramentas, móveis, comida… tudo foi embora”, relata.
A perda dos instrumentos de trabalho foi especialmente dolorosa. “Tu imagina o que é pra um colono perder as ferramentas da roça. O que tinha ficou soterrado no paiol”, lamenta Renida.
Foi nesse momento que surgiu a ajuda inesperada. Airto e seu filho souberam da situação por meio de conhecidos em comum. “Eles disseram: ‘Se vocês não se importarem, podem ficar com a casa. Ela estava vazia, e vocês estavam precisando’. Era só isso. Sem burocracia, sem exigir nada”, lembra Renida.
O ensinamento de seu Airto, que cresceu vendo o valor da partilha e da empatia, permanece vivo nas suas atitudes. “Se a casa estava vazia e tinha gente precisando, por que não ajudar?”.
Agora, com mais estabilidade, Renida e Joair planejam reconstruir uma pequena casa de blocos perto da antiga propriedade, onde ele poderá continuar cuidando de suas plantas — uma das poucas paixões que resistiram à tragédia. “Ele não quer sair de lá. Quer cuidar do cantinho dele. Vamos tentar erguer algo simples, só pra poder voltar.”
Apesar da tristeza e das perdas, Renida enxerga algo maior. “A gente teve sorte. Poderia ter sido pior. E no meio de tanta destruição, encontramos pessoas boas. Isso, a gente não esquece nunca.”

Airto visita a família que está hospedada em sua casa: “Se a casa estava vazia e tinha gente precisando, por que não ajudar?”.
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