
Bruno Leonardo, que se apresentava como consultor da China Meheco, entrou na sociedade da Z FU Consultoria Empresarial apenas dois dias antes da assinatura dos contratos. Empresa escolhida por Crivella para fornecer equipamentos na pandemia pagou comissão de quase R$ 37 milhões a consultoria de aliado
A relação de Crivella com o empresário Bruno Leonardo da Silva Pinto é um dos pontos do esquema investigado pelo Ministério Público que envolve contratos milionários na gestão do ex-prefeito.
De acordo com a investigação, Bruno obteve acesso a informações privilegiadas da Secretaria Municipal de Saúde antes da assinatura dos contratos e uma empresa em que tinha acabado de entrar recebeu uma comissão de quase R$ 37 milhões.
A comissão foi paga pela empresa China Meheco Corporation, contratada durante a gestão Crivella para renovar o parque tecnológico da saúde municipal e fornecer equipamentos de proteção individual na pandemia de Covid-19. Segundo o MP, contratações envolvendo esta empresa resultaram em um prejuízo estimado em R$ 68 milhões aos cofres públicos.
Segundo o MP, o objetivo dos contratos era favorecer o empresário, suspeito de abastecer a campanha de Crivella com “Caixa Dois”.
Bruno Leonardo, que se apresentava como consultor da China Meheco, entrou na sociedade da Z FU Consultoria Empresarial apenas dois dias antes da assinatura dos contratos. A Z FU recebeu uma comissão de quase R$ 37 milhões da China Meheco, única empresa a fazer lances nos pregões para as compras.
As compras foram de aparelhos de raios-x, de anestesia, de hemodiálise, que ficaram ociosos por meses. Alguns, nunca utilizados, chegaram a ser devolvidos. Segundo o MP, a compra foi feita sem a real necessidade comprovada.
Jogador chinês era sócio
Bruno tinha outro sócio na ZFU, que assim como ele, o ex-jogador chinês Bing Changbao, sócio de Bruno na Z FU, que teve uma passagem pelo Botafogo, mas nem entrou em campo.
Depois da compra, Bing ostentou o lucro milionário com a compra de um imóvel de R$ 10 milhões e dois carros de luxo avaliados em mais de R$ 1 milhão. Ambos, segundo o MP, não tinham experiência no setor de saúde ou tecnologia médica.
O Ministério Público ainda apura o que o Bruno fez com a comissão milionária. De acordo com a investigação, ainda não é possível dizer se bruno leonardo seria o destinatário final da vantagem indevida, se ela iria para o caixa dois do ex-prefeito ou até mesmo pro enriquecimento ilícito do próprio crivella.
A Justiça determinou o bloqueio de até R$ 50,5 milhões das contas de Crivella, Bruno Leonardo e outros investigados, além da indisponibilidade de bens das empresas investigadas. Os valores bloqueados podem chegar a R$ 320 milhões.
Além dessa investigação, Bruno Leonardo e Crivella já respondem a outro inquérito por dispensa indevida de licitação, organização criminosa e corrupção passiva. A relação entre o empresário e o ex-prefeito remonta a pelo menos 2012, quando Bruno foi fiador do escritório político de Crivella.
A defesa do ex-prefeito Marcelo Crivella declarou que o Rio foi a única cidade do mundo que em plena pandemia recebeu 27 tomógrafos, 800 respiradores e 2 mil monitores e que a capital fez um hospital de campanha de 500 leitos e salvou milhares de vidas. Sobre o preço, afirmou que o material foi comprado um ano antes da pandemia, a valores abaixo dos praticados em 2020. A defesa do ex-prefeito disse que espera a notificação oficial para entrar com o recurso.
Citada na investigação do MP, a ex-secretária Ana Beatriz Bush diz que é servidora concursada há quase trinta anos, e que sempre agiu dentro da lei. Ela diz ainda que não foi notificada formalmente.
O RJ2 não conseguiu contato com os outros acusados.
Marcelo Crivella, ex-prefeito do Rio
Reprodução/TV Globo