Chimpanzés usam plantas medicinais para tratar feridas e cuidar de outros membros do grupo, aponta estudo

Um estudo inédito publicado esta semana na revista Frontiers in Ecology and Evolution revelou que chimpanzés na floresta de Budongo, em Uganda, não apenas tratam seus próprios ferimentos com plantas medicinais, como também cuidam das feridas de outros membros do grupo. A descoberta reforça indícios de empatia entre os animais e pode fornecer pistas importantes sobre as origens evolutivas da medicina e do comportamento social humano.

Prática é recorrente e envolve empatia

Embora ações similares já tenham sido registradas em outras regiões, os pesquisadores destacam que em Budongo esse tipo de cuidado ocorre com mais frequência e complexidade. A pesquisa sugere que os chimpanzés oferecem ajuda mesmo a indivíduos com os quais não possuem laços familiares, demonstrando sensibilidade à dor alheia e comportamento cooperativo.

“Observar como esses primatas cuidam de si mesmos e de outros fornece uma janela valiosa para compreendermos o surgimento do cuidado e da empatia entre os humanos”, afirmou Elodie Freymann, da Universidade de Oxford, primeira autora do estudo.

Chimpanzés usam folhas, materiais mastigados e até lambidas

Durante quatro meses, os cientistas observaram diretamente duas comunidades — Sonso e Waibira — e também analisaram vídeos e relatos anteriores. Ao todo, foram documentados 41 casos de autocuidado e cuidado interpessoal: 34 em que os animais trataram seus próprios ferimentos e sete em que ajudaram outros. As práticas incluíam desde lamber as feridas até aplicar folhas inteiras ou materiais vegetais previamente mastigados sobre os machucados.

As substâncias presentes nas plantas utilizadas mostraram propriedades semelhantes às empregadas na medicina tradicional humana, sugerindo que os animais reconhecem os efeitos benéficos dessas espécies.

Animais também ajudam a remover armadilhas

Além do cuidado com ferimentos, os pesquisadores registraram casos de chimpanzés ajudando outros a remover armadilhas ilegais deixadas por humanos na floresta. Houve também episódios de higiene compartilhada, como a limpeza de áreas íntimas com folhas após o acasalamento ou a defecação.

Importante destacar que os cuidados observados não se restringiram a parentes ou indivíduos de um mesmo sexo, reforçando a noção de empatia generalizada entre os membros do grupo.

Descoberta lança luz sobre origem do comportamento humano

Apesar das limitações — como a maior proximidade dos chimpanzés da comunidade Sonso com os humanos, o que facilita a observação —, o estudo abre novos caminhos para a compreensão da evolução do comportamento social e dos cuidados de saúde entre os primatas.

“Ainda precisamos investigar mais profundamente os efeitos das plantas utilizadas, mas já é possível afirmar que esses comportamentos têm um papel importante na sobrevivência e na coesão dos grupos”, destacou Freymann.

A pesquisa oferece uma perspectiva valiosa sobre como os primeiros ancestrais humanos podem ter iniciado práticas de cura e cuidado, baseadas na observação e na empatia, características fundamentais da nossa espécie.

The post Chimpanzés usam plantas medicinais para tratar feridas e cuidar de outros membros do grupo, aponta estudo appeared first on Agora No Vale.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.