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Em um dos capítulos mais surreais da série de fraudes bilionárias que sangram o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), o nome de uma faxineira foi parar no centro de uma engrenagem que movimentava R$ 30 milhões por mês — e que, mesmo após sua morte, continuou sendo peça jurídica no tabuleiro da corrupção. Maria Inês Batista de Almeida, ex-presidente da Associação dos Aposentados Mutualistas para Benefícios Coletivos (Ambec), entrou com um processo por danos morais contra o site Metrópoles em julho de 2024. Detalhe: ela faleceu antes do recurso ao Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP), que continuou tramitando como se estivesse viva.
A ação judicial foi uma tentativa — desajeitada e tardia — de blindar a narrativa construída pela organização criminosa comandada pelo empresário Maurício Camisotti, já então alvo da Polícia Federal. O problema? A Justiça não comprou a versão.
O TJSP rejeitou a ação em janeiro de 2025, ao concluir que a reportagem do Metrópoles se baseou em investigação legítima e documentada. “Não se verifica a intenção de ofender ou de indevidamente qualificá-la como criminosa”, decidiu a corte, respaldando a cobertura jornalística que, em 2023, revelou o uso de Maria Inês como testa de ferro da Ambec — enquanto o verdadeiro comando da associação operava nas sombras.
A própria Polícia Federal confirmou, posteriormente, que Maria Inês era uma entre diversas “laranjas” utilizadas por Camisotti para camuflar sua atuação em esquemas envolvendo planos de saúde, associações e descontos compulsórios em contracheques de aposentados e pensionistas.
Ex-faxineira da Prevident, uma das empresas do grupo investigado, Maria Inês foi alçada ao posto de presidente da Ambec entre 2023 e o início de 2024 — período em que a entidade viu um crescimento explosivo de filiados, saltando de 30 mil para 600 mil. Paralelamente, o faturamento mensal disparou, em meio a denúncias de fraudes sistemáticas com descontos não autorizados nos benefícios previdenciários de idosos.
Apesar de nunca ter respondido às perguntas do Metrópoles, a presença de seu nome nos documentos e nos sistemas da associação serviu de fachada para uma operação empresarial de fachada. Nos bastidores, era Camisotti — com apoio de familiares e funcionários — quem dava as cartas, também por meio de outras associações vinculadas ao mesmo modus operandi.

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Fonte : Hora Brasilia