Com Leite e Ratinho Jr. pré-candidatos, Kassab reúne trunfos para a sucessão de Lula

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A recente filiação do governador gaúcho Eduardo Leite ao PSD, após a sua saída do PSDB, marca mais um movimento estratégico de Gilberto Kassab, presidente da legenda, para consolidar-se como articulador de destaque na política brasileira, sobretudo com vistas às eleições presidenciais de 2026.

Conhecido pela habilidade em transitar entre diferentes espectros políticos, Kassab busca posicionar o PSD como partido de centro, capaz de dialogar tanto com esquerda quanto direita. Mas suas últimas declarações sugerem a intenção de seguir a tendência do eleitorado a favor dos conservadores.

O PSD passou a contar com dois governadores — Eduardo Leite (RS) e Ratinho Júnior (PR) — como pré-candidatos à Presidência. Ambos buscam se posicionar como opções de centro-direita. Kassab expressa apoio à disposição deles em concorrer, mas sem apontar o preferido, aberto a negociações futuras.

Paralelamente, Kassab mantém uma relação ambígua com o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Apesar de o PSD ocupar três ministérios — Agricultura, Minas e Energia, e Pesca — o dirigente diz que o seu partido não integra de fato a base governista, evocando autonomia.

Além disso, Kassab tem buscado ampliar a influência do PSD em estados-chave nas eleições nacionais, como São Paulo e Rio de Janeiro, por meio de líderes locais como o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP), de quem é secretário de Estado, e o prefeito do Rio, Eduardo Paes (PSD).

PSD avança como sinônimo de partido centrista, ocupando lugar do MDB

“Como pêndulo no pleito presidencial de 2026, o PSD se inclinará para o nome mais forte, seja ele seu ou não. O jogo duplo de participar de governos de vieses variados ao mesmo tempo repete o PSD de Juscelino Kubitschek, que buscava estar sempre no poder”, diz o cientista político Ricardo Caldas.

Para o professor da Universidade de Brasília, essa receita garantiu amplo sucesso nas eleições municipais de 2024 ao PSD, que vai se consolidando como a principal força centrista do país, acumulando postos nos níveis local, estadual e nacional. “Paulatinamente, o partido ocupa o posto antes desempenhado pelo MDB”.

De toda forma, Kassab se apresenta como hábil articulador, capaz de manter o PSD influente sobre quem quer se eleja presidente da República. Para isso, dialoga com todos, inclusive com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que o tinha como desafeto, tratando do projeto da anistia aos réus do 8 de Janeiro. O PSD colaborou com a reunião de assinaturas necessárias para levar o projeto à votação organizada pelo PL. A anistia acabou travada pelo presidente da Câmara, Hugo Motta.

Fazendo conexões improváveis e operando com líderes rivais, Kassab acena e vende facilidades para todos os lados. Mas também desenha cenários quando diz que Tarcísio, pré-candidato à reeleição ao Palácio Bandeirantes, pode aglutinar o apoio de todo o centro, caso se candidate à Presidência.

Segundo analistas, o cacique joga com todas as possibilidades para se sair beneficiado em qualquer uma delas. Se Tarcísio ir para a disputa paulista, Kassab amplia o próprio poder estadual. Se o governador for o nome da direita na corrida presidencial, a missão será unir o centro e escolher o vice.

Com dois pré-candidatos à Presidência, PSD começa a chamar a atenção

Para o analista político Luiz Filipe Freitas, da Malta Advogados, Kassab está juntando cartas importantes no jogo eleitoral e irá colocá-las na mesa conforme o cenário evoluir. Seu maior trunfo, avalia, é o governador Tarcísio de Freitas, opção que Kassab tende a preservar para a disputa presidencial de 2030.

Já Eduardo Leite e Ratinho Júnior são, segundo o especialista, apenas ensaios para 2026 — podendo servir tanto como blefe quanto como desafio a candidatos de outros partidos, para “ posicionar o nome do PSD como uma alternativa moderada à polarização entre esquerda e direita”.

“A tendência de qualquer grande partido é sempre fazer um esforço para que ter candidato próprio. Felizmente temos um bom pré-candidato, o Ratinho Júnior, e temos a expectativa de que Leite também possa ser pré-candidato, pois é desejo dele”, comentou Kassab na quarta-feira (7).

Kassab disse ainda que a relação entre o PSD e o governo Lula segue na mesma e que não há negociação para ampliar o espaço da sigla na Esplanada dos Ministérios. Ele alertou que, mesmo o presidente controlando a máquina estatal, desgastes podem “baixar a expectativa de reeleição”.

Marcus Deois, diretor da consultoria política Ética, observa que a influência maior de Kassab no xadrez político o equipara à do senador Ciro Nogueira (PI), presidente do PP e líder da recém-criada federação com o União Brasil. “A eleição de 2026 passará inevitavelmente pela mesa deles dois”, resume.

Escolhas de Kassab podem interferir também na eleição para o Senado

Desde sua fundação por Kassab, em 2011 – com dissidentes do Democratas (União Brasil) que se juntaram aos de outros partidos, somando políticos ansiosos por deixar a oposição às sucessivas gestões petistas para voltarem a ser governo –, o atual PSD nunca teve candidato próprio ao Palácio do Planalto.

Agora, além da sucessão de Lula, iniciativas de Kassab ampliam o seu peso na disputa pelo Senado. Se Eduardo Leite optar por buscar uma das vagas na Câmara Alta, acirrará ainda mais a briga no seu estado entre direitistas, como os deputados Marcel Van Hattem (Novo) e Zucco (Republicanos).

O deputado Aécio Neves (PSDB-MG) lamentou a filiação de Leite ao PSD, oficializada na sexta-feira (9), em São Paulo. Em nota, o ex-presidenciável criticou a incoerência de um partido que se liga a governos ideologicamente opostos, em vez de encarar desafios com clareza programática.

Em recente debate na Fundação FHC, Kassab enalteceu o sucesso do PSD nas eleições de 2024 como contraponto às redes sociais. Ele frisou que, apesar do significativo papel do meio digital na mobilização de eleitores, sobretudo em forte polarização, ainda pesam fatores como gestão eficaz.

Kassab citou exemplos de prefeitos reeleitos como Eduardo Paes, no Rio, e Fuad Noman (1947-2025), em Belo Horizonte, para ilustrar a sua perspectiva. Ele destacou que, apesar de sofrerem forte ataque nas redes sociais, ambos conseguiram êxito devido à experiência administrativa e “conexões reais”.

Crédito Gazeta do Povo

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Fonte:
Paulo Figueiredo

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