Pais serão indiciados por morte de menina de 11 anos em São Gabriel, mesmo sem laudos de lesão corporal

Investigação aponta indícios de maus-tratos e omissão no atendimento à criança; casal segue preso preventivamente. Inquérito deve ser finalizado até o fim de semana

A Polícia Civil deve indiciar os pais de I.B., de 11 anos, mesmo após laudos descartarem sinais de lesão corporal ou violência sexual. A menina morreu em 8 de maio, um dia após ter sido internada em São Gabriel, na Fronteira Oeste do RS. O pai, de 55 anos, e a mãe, de 26, estão presos preventivamente por suspeita de maus-tratos e estupro de vulnerável.

Segundo o delegado regional de Bagé, A.M., a responsabilização do casal será mantida. A conclusão do inquérito está prevista para ocorrer entre sexta-feira (16) e domingo (18). O delegado D.S., de São Gabriel, ainda avalia os crimes pelos quais o casal será formalmente responsabilizado.

Laudos não confirmaram violência

Relatos iniciais da polícia apontavam que a menina teria chegado ao hospital com fraturas em duas costelas, perfuração no pulmão e lesões na região genital. Os pais alegaram que a filha se feriu ao cair da cama, mas a versão foi inicialmente considerada incompatível com os ferimentos.

No entanto, laudos do Instituto-Geral de Perícias (IGP) e da Santa Casa de São Gabriel descartaram qualquer evidência de violência física ou sexual. Conforme o laudo de necropsia, a morte foi causada por “complicações sépticas, de pneumonia, sem nenhum sinal de trauma ou violência sexual”. A direção do hospital também confirmou que o corpo da criança não apresentava marcas externas de agressão.

A delegacia de São Gabriel afirmou que a suspeita inicial de violência íntima foi baseada em avaliação médica preliminar, depois desmentida pelos exames oficiais. Já a informação sobre fraturas não foi confirmada em nenhum documento da investigação até o momento.

Outros elementos embasam o indiciamento

Apesar dos laudos, a Polícia Civil aponta outros elementos que justificam o indiciamento dos pais. Um dos principais é a demora no atendimento médico, já que a menina teria apresentado sintomas graves por ao menos três dias antes de ser levada ao hospital. Para os investigadores, isso configura omissão de socorro e maus-tratos.

Depoimentos também sustentam a suspeita de abuso. A própria mãe relatou que o companheiro apresentava comportamentos suspeitos, o que reforçou a hipótese de violência sexual.

Posição da defesa

A defesa da mãe, representada pela advogada R.C. e pelo bacharel A.N., emitiu nota afirmando que ainda não teve acesso ao laudo pericial e que aguarda sua inclusão no inquérito. Os advogados reforçam a inocência da investigada e alegam que o conteúdo do laudo divulgado pela imprensa reforça essa versão.

A nota ainda critica a condução do caso sob sigilo, apontando que informações parciais geraram comoção pública e colocaram a integridade da mãe em risco. Segundo a defesa, ela já foi transferida de unidade prisional três vezes desde a prisão, por questões de segurança.

Nota da defesa da mãe de I.B.

“A defesa de (nome suprimido), mãe de I.B., exercida pela advogada criminalista Rebeca Canabarro (OAB/RS 134.374) e o bacharel em direito Andrei Nobre (OAB/RS53E114), vem, publicamente, manifestar-se a respeito das notícias obtidas exclusivamente pela mídia a respeito do laudo da necropsia do corpo, produzido pelo IGP, o qual aduz que ‘a morte ocorreu por complicações sépticas de pneumonia, sem nenhum sinal de trauma por violência sofrida e nenhum sinal de violência sexual’.

Ressaltamos que referido laudo ainda não aportou nos autos do inquérito policial, já tendo a defesa requerido sua remessa para a delegacia de São Gabriel, no dia 12 de maio de 2025. Todavia, até o momento não houve retorno da delegacia. Deste modo, aguardamos acesso ao documento para posicionamento oficial da defesa.

Importante mencionar que, muito embora referido inquérito policial, desde sua origem, tramite sob extremo sigilo no sistema eproc (nível 3), nota-se que a autoridade policial não poupou esforços em comunicar às linhas investigativas e trechos de depoimentos. Consequentemente, gerou-se um fervor popular pela automática condenação e linchamento da investigada. De forma direta, em conjunto com a privação de sua liberdade e pelo iminente risco de sua segurança, a defesa logrou êxito em obter a transferência de casa prisional, sendo esta, a terceira, desde que decretada sua prisão.

Todavia, ressaltamos que, com base nas informações exclusivas obtidas pela mídia, o laudo pericial do IGP reforça o posicionamento inicial da defesa, qual seja: a inocência da investigada, afirmação que ecoa em inúmeros outros elementos informativos produzidos no inquérito policial.

Tendo em vista que (nome da mãe) no momento encontra-se presa preventivamente, pela acusação da suposta prática de abuso sexual e maus-tratos, a defesa aguarda a apreciação do pedido de liberdade da investigada, o qual será alvo de parecer do Ministério Público e posteriormente decidido pela magistrada da comarca de São Gabriel.”

Defesa do pai prefere silêncio

O pai da menina é representado pela Defensoria Pública, que afirmou que “irá se manifestar somente nos autos do processo” e que “não concederá entrevistas, pois trata-se ainda de uma investigação policial”.

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