UFSC participa de estudo com dados inéditos sobre especialização ecológica

Abudefduf saxatilis (Fotos: Sérgio Floeter)

Um estudo internacional com participação da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) revelou que os recifes de coral mais diversos do planeta são dominados por espécies de peixes altamente especializadas em sua alimentação e tolerância térmica. A pesquisa, publicada na conceituada revista Global Ecology and Biogeography, traz novas dados inéditos sobre a ecologia dos recifes e foi coassinada pelo professor Sergio Floeter, do Departamento de Ecologia e Zoologia da UFSC. Essas descobertas avançam significativamente na compreensão sobre como a especialização influencia a distribuição das espécies, a dinâmica evolutiva e a estrutura das comunidades recifais em um cenário de mudanças climáticas.

“Os recifes mais diversos do planeta são dominados por espécies que evoluíram para se alimentar de tipos específicos de alimento”, afirma a bióloga marinha Zoé Delecambre, autora principal. A pesquisa analisou milhares de dados sobre a dieta e a distribuição de peixes recifais ao redor do mundo para responder a uma pergunta central: em que ambientes os peixes ecologicamente mais especializados prosperam?

Os peixes ecologicamente mais especializados são aqueles que vivem sob condições bem específicas e exercem funções ecológicas bastante definidas, como consumirem somente um tipo ou grupo de alimento ou terem tolerância somente a determinados padrões, como temperatura e salinidade.

O estudo traz como exemplo imagens capturadas pelo professor Floeter. O peixe-borboleta Chaetodon ornatissimus é um especialista e se alimenta exclusivamente de pólipos de coral. Já o generalista Abudefduf saxatilis consome diversos itens alimentares, desde zooplâncton até algas bentônicas. Os generalistas dominam recifes pequenos e isolados.

Chaetodon ornatissimus

“A especialização desempenha um papel fundamental na formação de padrões evolutivos e biogeográficos, mas raramente foi examinada em escala global para comunidades super-diversas”, afirma o coautor da UFSC, Sergio Floeter. O estudo mapeia padrões biogeográficos e de diversificação globais de nichos tróficos, que se refere aos alimentos, e térmicos, sobre a temperatura da água, em um dos conjuntos mais diversos de espécies nos mares, os peixes recifais. O professor contribuiu com dados inéditos do Brasil.

A pesquisa também revisita uma teoria clássica da ecologia  segundo a qual espécies de regiões de latitudes mais altas — como zonas temperadas ou polares — tendem a ser mais generalistas. “Em nosso novo estudo, examinamos se as amplitudes de nicho trófico e térmico são mais estreitas em centros de biodiversidade. Descobrimos que a especialização ecológica dos peixes recifais atinge seu ápice em hotspots globais de biodiversidade”, escrevem.

Isso significa que os peixes recifais mais especializados, com dietas muito específicas e que vivem em faixas muito específicas de temperatura, são mais comuns justamente nos recifes mais biodiversos do planeta. “Isso confirma que a alta biodiversidade sustenta papéis ecológicos mais especializados, enquanto os generalistas prevalecem em sistemas mais simples”, indicam os autores.

 

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