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Dois anos e meio após prever que Lula precisaria mais dele do que o contrário, o senador Davi Alcolumbre (União-AP) consolidou seu papel como um dos maiores fiadores políticos do governo no Congresso. Mais do que influência — ele controla indicações, impõe vetos, pauta ou congela sabatinas, manobra CPIs e interfere em órgãos estratégicos da máquina pública — Alcolumbre hoje é um pilar do equilíbrio precário do governo petista. A informação é do jornal O Globo.
Sua ascensão veio junto com a fragilidade da base lulista no Legislativo, pressionada por uma oposição barulhenta, uma bancada volátil e pautas explosivas como a fraude bilionária no INSS e o projeto de anistia aos golpistas do 8 de janeiro. Em ambos os casos, foi Alcolumbre quem atuou para segurar as bombas: avisou à oposição que a CPI do INSS não teria vez agora e costurou, junto ao STF, uma versão mais palatável da anistia — com redução de pena para executores, mas sem blindagem política para mandantes.
Em troca, Lula lhe entregou o Ministério das Comunicações, reforçou seu domínio em estatais como Telebras, Correios, Sudam, Sebrae, Ebserh, e segurou a ira contra sua ofensiva para derrubar Alexandre Silveira (Minas e Energia) — desafeto do senador e hoje o principal obstáculo à expansão de sua influência nas agências reguladoras.
Alcolumbre também brecou a nomeação do delegado Ricardo Saadi ao comando do Coaf, o que desagradou à Polícia Federal e ao Banco Central, mas reafirmou seu poder de veto na Esplanada. Enquanto isso, mantém familiares em cargos-chave e exige do governo acesso preferencial a projetos de infraestrutura no Norte, como a pavimentação da BR-156 e a liberação de pesquisas na Margem Equatorial, mesmo com o Ibama e a ministra Marina Silva fazendo oposição técnica ao tema.
Nem só de poder bruto vive o novo “operador” do Planalto. Alcolumbre também soube cultivar a intimidade pessoal com Lula — até em viagens internacionais. Durante visita ao Japão, por exemplo, comprou uma caixa de som para satisfazer o presidente, que reclamava da ausência de música a bordo. A cena de Lula dançando pelos corredores do avião ao som de arrocha, com Alcolumbre atrás segurando o sinal Bluetooth, virou o retrato informal da nova aliança.
Ex-vereador de Macapá e eleito senador em 2014, Alcolumbre era considerado um nome do baixo clero até conseguir, em 2019, vencer Renan Calheiros e assumir a presidência do Senado pela primeira vez. Desde então, se tornou um habilidoso articulador entre os poderes, capaz de dialogar com STF, Planalto, oposição e Centrão — e até de destravar verba para o estado de um adversário político, como fez com Alagoas, governada pelos Calheiros, durante o governo Bolsonaro.
Para o líder do governo no Congresso, Randolfe Rodrigues, conterrâneo e aliado de Alcolumbre, a relação é pragmática:
“Não houve demanda dele que tenha sido demais até agora. É uma relação de mão dupla. Lula está impressionado com o poder de interlocução dele.”
Na prática, Davi Alcolumbre transformou sua posição institucional em uma torre de controle política sobre o Senado — e hoje, em meio a crises e fragilidade de articulação, o governo Lula gira em torno do seu sim ou não.

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Fonte : Hora Brasilia