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Nos últimos anos, especialmente com o avanço dos smartphones, tablets e redes sociais, observa-se uma exposição de crianças às telas, inclusive bebês. O uso excessivo dessas tecnologias pode trazer diversos prejuízos ao desenvolvimento infantil, como déficit de atenção, ansiedade, dificuldade de lidar com a frustração e baixo estímulo cognitivo.
A dependência digital é diretamente proporcional ao risco dos jovens envolverem–se em desafios perigosos na internet que, em alguns casos, apresenta risco de morte. Diante disso, especialistas reforçam a importância de os pais ou responsáveis manterem a supervisão durante o uso das redes.
Embora a tecnologia tenha benefícios e seja parte inevitável do mundo moderno, seu uso deve ser cuidadosamente regulado na infância. A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e a Organização Mundial da Saúde (OMS) não recomendam o uso de telas para menores de dois anos de idade, enquanto que crianças, entre dois e cinco anos, devem ter o tempo de tela com supervisão, de no máximo, uma hora por dia.
Segundo Isa Mesquita, psicóloga adulto e infantil, essa exposição precoce ao universo on-line ocorre por diversos fatores: comodidade dos pais, influência de marketing infantil, acesso facilitado a dispositivos digitais e até pressão social. No entanto, a especialista explica que essa realidade acarreta uma série de prejuízos ao desenvolvimento da criança. “No aspecto cognitivo, as telas podem ocasionar déficit de atenção, atraso de linguagem e baixo estímulo cognitivo. Já na perspectiva emocional, existem a dificuldade de lidar com frustração e o aumento da ansiedade, sem falar na sociabilidade e prejuízos à saúde física”, alertou.
A supervisora de vendas Jayonara Marinho e o esposo Leandro possuem dois filhos — Arthur Leandro, de 11 anos; e Laís Helena, de um ano e cinco meses. Embora tenha consciência das orientações da SBP, a mãe diz que, na prática, elas não funcionam. “Nenhum pai consegue controlar 100% o conteúdo que os filhos têm acesso, já que vivemos em uma sociedade conectada. Eles presenciam os pais trabalhando no celular desde cedo, então é muito difícil dissociar”.
Apesar de Arthur ter começado a assistir desenhos na televisão a partir de dois anos, o casal têm se preocupado com a exposição do filho a jogos virtuais, como FreeFire e Roblox, pois, quando está imerso nesse universo, características de sua personalidade são alteradas. “A gente começou a perceber que a partir de uma hora de jogo ele já está mais irritado, o semblante dele muda. Por isso, marquei uma psicóloga para ele, porque estou preocupada com esse comportamento, então decidimos buscar ajuda”.
Controle
A estratégia que Jayonara utilizou para encontrar o equilíbrio no acesso às telas é o monitoramento do conteúdo e constante diálogo. “Ele não tem acesso ao Facebook e Instagram, apenas Tiktok, essa plataforma pergunta quais são os nossos interesses quando criamos a conta. Então, eu e meu esposo controlamos o acesso dele à internet, compartilhando experiências juntos. Por exemplo, a gente adora fazer uma receita de culinária ou assistir vídeos engraçados, demonstrando interesse por conteúdos que agregam valor”.
Outro caminho encontrado pela supervisora de vendas é estabelecer regras no uso do celular: ninguém faz refeição com o celular à mesa ou leva o objeto para a escola.
Diálogo
A conversa é sempre uma estratégia pedagógica. Apesar da pouca idade de Arthur, Jayonara procura sempre conversar com o filho sobre os perigos invisíveis da internet, buscando conscientizá-lo, sobretudo, quando a temática é abordada na televisão. “Na novela Travessia, de Glória Perez, mostrei na prática que um homem usava da inteligência artificial para mudar sua própria voz e imagem para se passar por crianças. Nesse caso, um crime de pedofilia”, relembrou.
A falta de diálogo aberto entre pais e filhos é um dos pilares que contribuem para a exposição aos riscos. Quando as crianças sentem que serão julgadas ou punidas, tendem a esconder comportamentos, conforme explica a psicóloga. “Sem espaço seguro para compartilhar dúvidas ou sentimentos, buscam orientação em fontes digitais (influenciadores, colegas ou algoritmos), apresentando suas fragilidades a desconhecidos que enxergam oportunidade para manipular e mesmo coagir essas crianças e adolescentes”. Dessa forma, jovens que vivem em lares hiperconectados, mas emocional e dialogicamente distantes, acabam mais vulneráveis à influência externa.
Desafios virtuais colocam a vida dos jovens em perigo
A curiosidade é uma característica marcante das crianças. Elas desenvolvem interesse em diversas coisas sem o discernimento sobre o que é seguro, comportamento que exige atenção redobrada por parte dos pais.
Na primeira infância, até os cinco anos, o médico pediatra e pneumologista Constantino Cartaxo esclarece que os meninos e meninas tendem a explorar o ambiente. “Quando a criança começa a andar e a adquirir altura, ela quer mexer em tudo: abre gaveta, se interessa por objetos na eletricidade. Além disso, são atraídos por produtos de limpeza, principalmente coloridos e com cheiro agradável. Logo, o acesso à cozinha e à área de serviço deve ser limitado”. Deste modo, os responsáveis devem garantir que esses itens estejam armazenados em locais inacessíveis, minimizando, assim, as chances de acidentes domésticos.
Dos 10 anos até a adolescência a criança é muito influenciada pelo ambiente ao redor. Segundo Constantino, ela sente necessidade de ser aceita em um grupo de amigos.
Um fenômeno que tem se propagado, cada vez mais, por meio das redes sociais, são os desafios virtuais, atividades que se tornam populares ao serem transmitidas nos ambientes virtuais e reproduzidos massivamente. A princípio nada demais, no entanto, algumas dessas experiências têm colocado a segurança de crianças e adolescentes em risco. Desafios on-line como o da água fria, da cola ou do desodorante, são alguns cujos resultados podem envolver riscos físicos como cortes, ingestão de substâncias, autoagressão ou até práticas letais.
Em relação a essa tendência, a psicóloga Isa Mesquita esclarece que os jovens submetem-se a situações do tipo por questões de apelo emocional e social, motivados pela ânsia de inclusão em grupos, curtidas, fama ou validação. “Alguns são manipulativos, com ameaças veladas, a exemplo do Desafio da Baleia Azul [que surgiu em 2025 na Rússia e ao longo do tempo espalhou-se por vários países]. Além disso, estimulam impulsividade, especialmente em cérebros ainda em formação como o de crianças e adolescentes, que têm menor capacidade de identificar situações de risco”.
A prática pode entrar na casa de qualquer família, basta estar conectado. No mês passado, a menina Sarah Raissa Pereira, de oito anos, morreu, no Distrito Federal, após inalar desodorante aerossol enquanto participava de um suposto desafio disseminado em uma rede social. Ela foi encontrada na casa do avô, desacordada, com os dedos e lábios roxos. O produto estava junto ao lado dela, no sofá.
O médico, Constantino Cartaxo, a respeito do caso de Sarah Raissa, ressalta que ela quis superar alguma situação a que foi imposta no desafio da internet. No entanto, defende que esses desafios sempre existiram, utilizando o exemplo de meninos e meninas que, geralmente, escutavam dos amigos frases como: “duvido você subir nessa árvore ou pular na piscina”, explica. “A diferença é que as redes sociais potencializaram o perigo, pois a falta de supervisão pode levá-los a situações perigosas”, enfocou Constantino.
Efeitos do aerosol
O desodorante aerossol é um item de uso doméstico, porém no rótulo não tem nenhuma advertência sobre o produto ser tóxico, podendo ocasionar riscos graves, inclusive a morte. Segundo Constantino, os aerossóis contêm gases como o CO2 que são rapidamente absorvidos pelo organismo. Essas substâncias são altamente tóxicas e podem afetar o sistema nervoso central e o cardiovascular. “No caso de uma intoxicação leve, a criança pode apenas vomitar ou se queixar de dor de cabeça. Em casos mais graves, pode ocorrer o maior comprometimento do sistema nervoso central (SNC), apresentando sonolência excessiva ou hiperatividade, podendo evoluir para edema cerebral com atividade convulsiva, até chegar ao estado de coma com parada cardiorrespiratória. O que provavelmente foi o caso dessa criança”, analisou o médico pediatra.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 11 de maio de 2025.
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A União