Esquema envolvia manipulação de registros e uso indevido de autorizações ambientais
A Polícia Federal indiciou seis pessoas por envolvimento em um esquema de envio ilegal de aves silvestres do Centro de Triagem de Animais Silvestres (Cetas) do Ibama no Rio Grande do Sul para criadores particulares. Entre os indiciados estão um ex-superintendente substituto do órgão e um analista ambiental, que, segundo a investigação, repassavam os animais em troca de dinheiro e vantagens indevidas.
A ação é resultado da Operação Celeno, deflagrada em dezembro de 2024, e teve o inquérito concluído nesta quinta-feira (7). Os envolvidos teriam recebido até R$ 20 mil por negociação, segundo apuração da Delegacia de Repressão a Crimes contra o Meio Ambiente da PF.
Aves silvestres usadas em espetáculos e mantidas em cativeiro
De acordo com a investigação, os suspeitos alegavam que os repasses faziam parte de processos de reabilitação dos animais, mas, na prática, usavam essa justificativa para encobrir uma rede de fraudes, incluindo manipulação do sistema Sisfauna, emissão irregular de autorizações e alterações nos registros dos plantéis.
Uma das aves desviadas seria uma harpia, considerada a maior ave de rapina das Américas. O animal foi destinado a um criador em São Francisco de Paula, onde era mantido em cativeiro e utilizado para apresentações com venda de ingressos. A documentação referente a um suposto projeto de reintrodução da espécie só foi apresentada dois anos após o início dos repasses, levantando suspeitas de fraude.
Servidores recebiam depósitos e promessas de vantagens
Segundo a delegada responsável pelo caso, J. T., os envolvidos teriam recebido depósitos bancários identificados por meio de quebra de sigilo autorizada pela Justiça Federal. Testemunhas ouvidas durante o inquérito relataram ter pago valores entre R$ 10 mil e R$ 20 mil a intermediadores, acreditando que obteriam legalização junto ao Ibama.
Além das harpias, outras aves como papagaios e tucanos também teriam sido desviadas do Cetas com a justificativa de reabilitação, mas nunca retornaram à natureza. Um dos casos identificados envolvia nove papagaios verdadeiros oferecidos para a formação de plantel de um criador.
Entre os indiciados estão servidores e criadores comerciais
A Polícia Federal confirmou o indiciamento de seis pessoas, entre elas:
- P. G. C. W., ex-superintendente substituto e ex-chefe do Cetas no RS, por associação criminosa, peculato, inserção de dados falsos em sistema público e concessão irregular de licenças ambientais.
- E. S. S., analista ambiental e biólogo, por manipulação de registros no Sisfauna e pelos mesmos crimes.
- G. T., proprietário do criadouro Vale dos Falcões, indiciado por manter animais silvestres ilegalmente em cativeiro e por descumprir obrigações ambientais.
- N. A. S., criador e presidente de federação de criadores, apontado como intermediador entre os servidores e os beneficiários dos repasses.
Os demais nomes seguem sob sigilo.
Operação teve origem em denúncia da Secretaria Estadual do Meio Ambiente
A investigação teve início após fiscalização da Secretaria Estadual do Meio Ambiente (Sema) em criadouro da Serra gaúcha, que identificou a ausência de documentação para a permanência das harpias. O caso foi repassado à PF, que aprofundou a apuração.
Conforme a delegada, o caso expõe uma rede de favorecimento que pode contribuir com o tráfico de animais silvestres, especialmente espécies ameaçadas. A harpia é considerada uma das aves mais valiosas para criadores ilegais, devido à sua raridade.
Ibama e defesas se manifestam
O Ibama informou que acompanha o caso por meio de processo disciplinar instaurado em sua Corregedoria, sob sigilo. A defesa de P. G. C. W. afirmou que não irá se manifestar neste momento, uma vez que o inquérito ainda está em curso.
O inquérito foi encaminhado ao Ministério Público Federal, que decidirá se oferece denúncia, solicita novas diligências ou arquiva o caso.
Fonte: GZH
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