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Habemus papam. Com essa frase, o cardeal norte-americano Robert Francis Prevost foi apresentado, ontem, ao mundo como o 267o papa da Igreja, diretamente da sacada central da Basílica de São Pedro, no Vaticano. O nome escolhido pelo novo pontífice é Leão XIV. Ele sucede Francisco, falecido no último dia 21.
O anúncio de Robert Francis Prevost aconteceu pouco mais de uma hora depois que fumaça branca surgiu, no início da tarde de ontem, da chaminé instalada sobre a Capela Sistina, sinalizando que os 133 cardeais reunidos haviam chegado a um consenso.
A escolha do novo papa deu-se após a terceira votação do dia e a quarta votação geral. A fumaça branca colocou a multidão reunida na Praça de São Pedro em êxtase.
Primeiro discurso
Após ser anunciado, o novo pontífice fez seu primeiro discurso, na janela central da Capela Sistina. “A paz esteja convosco”, começou. Em seguida, ele destacou a busca pela paz. “Essa é a paz de Cristo ressuscitado, uma paz desarmada e desarmante”, disse. Em meio às guerras na Ucrânia e em Gaza, pediu ajuda aos fiéis. “Nos ajudem a construir pontes vocês também, com diálogos, com encontro, para sermos um único povo, sempre em paz. Obrigado, papa Francisco”, disse Leão XIV.
“Ainda mantemos, nos nossos ouvidos, aquela voz fraca, mas sempre corajosa, do papa Francisco, que abençoava Roma”, disse.
“Permitam-me dar seguimento àquela mesma benção. Deus nos ama, Deus ama a todos e o mal não vai prevalecer. Estamos todos nas mãos de Deus. Juntos, sem medo, de mãos dadas com Deus, que está entre nós, vamos seguir”, completou.
Em seguida, Leão XIV fez um agradecimento a todos os 133 cardeais que participaram do conclave que o elegeu “para ser o sucessor de Pedro e caminhar com vocês, como Igreja unida, sempre em busca da paz e da justiça, buscando trabalhar como homens e mulheres fiéis a Jesus Cristo, sem medo, para proclamar o Evangelho e sermos missionários”.
“Sou um filho de Santo Agostinho. Sou agostiniano. Santo Agostinho disse: ‘Para vós, sou bispo; convosco, sou cristão’. Nesse sentido, podemos todos caminhar juntos, na direção da pátria que Deus não preparou”, disse. “Necessitamos ser, juntos, uma Igreja missionária, uma Igreja que constrói pontes e diálogos. Que mantém o diálogo sempre aberto, pronta para receber todos que precisam”.
Em meio ao discurso, Leão XIV deixou de falar italiano e falou à multidão reunida na Praça São Pedro em espanhol, para agradecer à diocese peruana de Chiclayo, onde foi administrador apostólico. “Povo leal e fiel, que acompanha o bispo e o ajuda”, destacou.
Ao final, o novo pontífice lembrou que a data de hoje marca a prática devocional de súplica à Nossa Senhora de Pompeia.
“Nossa bendita Mãe Maria quer sempre caminhar conosco, estar perto de nós. Quer nos ajudar com sua intercessão e seu amor. Rezemos juntos por esta missão, por toda a Igreja e pela paz no mundo”, disse, encerrando seu discurso com a oração da Ave Maria.
Primeiro papa agostiniano apoia imigrantes e mulheres
- Robert Francis Prevost, de 69 anos, tem perfil equilibrado entre conservadores e progressistas | Fotos: Cecilia Fabiano/Estadão Conteúdo
O cardeal norte-americano Robert Francis Prevost, de 69 anos, é o primeiro papa agostiniano e de dupla cidadania (norte-americana e peruana). De perfil equilibrado, ele tem reputação, justamente, por construir pontes entre conservadores e progressistas. Tal característica prevaleceu no momento em que a Igreja se encontra dividida.
Com ascendência francesa, espanhola e italiana, é formado em Matemática e Teologia, além de ter estudado Filosofia. Ingressou no noviciado da Ordem de Santo Agostinho, em St. Louis, em 1977, fazendo os votos em 1981.
Trajetória dentro da Igreja
Aos 27 anos, mudou-se para Roma, onde estudou Direito Canônico na Pontifícia Universidade de Santo Tomás de Aquino. De 1985 a 1986, foi enviado para a primeira missão religiosa na América Latina, em Chulucanas, no Peru.
Considera-se agostiniano. Em seu doutorado, defendido em 1987, apresentou a tese “O papel do prior local da Ordem de Santo Agostinho”.
No ano seguinte, em 1988, voltou ao Peru, em Trujillo, como diretor do projeto de formação de religiosos, onde permaneceu até 1999, quando retornou aos Estados Unidos. Em 2014, retornou novamente ao Peru como administrador apostólico da diocese de Chiclayo, capital do norte peruano, a mais de 900 km de Lima.
Em 2015, foi nomeado bispo de Chiclayo e, em 2018, eleito segundo vice-presidente da Conferência Episcopal Peruana — na qual também foi membro do Conselho Econômico e presidente da Comissão de Cultura e Educação.
Segundo a Santa Sé, seu lema episcopal é “In Illo uno unum”, palavras que Santo Agostinho pronunciou em um sermão, a Exposição sobre o Salmo 127, para explicar que “embora nós cristãos sejamos muitos, no único Cristo somos um”.
Nos últimos cinco anos, recebeu novas funções, participando de dicastérios e de importantes sínodos. Em janeiro de 2023, Francisco o anunciou como novo prefeito do Dicastério para os Bispos e presidente da Pontifícia Comissão para a América Latina, tornando-se arcebispo. No mesmo ano, foi reconhecido como cardeal.
América Latina
Em março, no Dia da Hispanoamérica, Prevost destacou os problemas da América Latina e como, diante dos desafios econômicos, sociais e políticos, é possível até se sentir sobrecarregado e incapaz de contribuir para uma mudança. “Em todo o continente americano existem numerosas contradições, misérias e absurdos”, disse à época.
Opinião
Segundo reportagem do jornal The New York Times, Prevost foi elogiado por ter apoiado imigrantes venezuelanos e visitado comunidades remotas no Peru.
Em 2023, celebrou a decisão do papa Francisco de nomear três mulheres para integrantes do Dicastério dos Bispos. “Penso que a nomeação delas seja muito mais do que um simples gesto do papa para dizer que agora também há mulheres aqui. Há uma participação verdadeira, real e significativa que elas oferecem em nossas reuniões quando discutimos os dossiês dos candidatos”, completou.
Por outro lado, expressou no passado visões menos acolhedoras do que as do papa Francisco em relação a pessoas LGBTQIAPN+ e, como bispo em Chiclayo, no Peru, se opôs a um plano do governo local para incluir ensinamentos sobre gênero nas escolas.
Denúncias de abusos
Prevost já foi criticado por sua condução de casos em que padres foram acusados de abuso sexual. Em 2023, ao assumir o Dicastério dos Bispos, respondeu à imprensa especializada que “há lugares onde um bom trabalho já foi feito há anos e as normas são colocadas em prática”. Mas destacou que há mais a ser feito. “Alguns recomendam que o bispo não receba diretamente as vítimas, porém, não podemos fechar o coração, a porta da Igreja, às pessoas que sofreram por abusos. A responsabilidade do bispo é grande e acho que ainda temos que fazer esforços consideráveis para responder a esta situação que causa tanta dor na Igreja”, completou.
Também falou na necessidade de preparação dos religiosos para responder a denúncias. “Acredito que faz parte da missão do nosso dicastério acompanhar os bispos que não receberam a preparação necessária para abordar esse tema. É urgente e necessário que sejamos mais responsáveis e ainda mais sensíveis a este respeito”.
“Em todo caso, o silêncio não é uma resposta. O silêncio não é a solução. Devemos ser transparentes e sinceros, acompanhar e ajudar as vítimas, porque senão suas feridas nunca cicatrizarão. Há uma grande responsabilidade nisso, para todos nós”.
Redes sociais
Em entrevista à mídia italiana, em 2023, o novo papa disse que a internet pode ser aliada para a Igreja se aproximar das pessoas, mas que é necessário ter cautela.
“As redes sociais podem ser um instrumento importante para comunicar a mensagem do Evangelho a milhares de pessoas. Devemos nos preparar para usá-las bem, mas temo que, às vezes, tenha faltado essa preparação”, afirmou.
Líderes mundiais parabenizam o novo pontífice
Diversas autoridades mundiais reagiram a escolha do cardeal norte-americando, Robert Francis Prevost, como novo líder da Igreja Católica. O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, parabenizou Leão XIV. “É uma grande honra saber que ele é o primeiro papa americano. Que emoção e que grande honra para o nosso país”, escreveu o presidente em registro na Truth Social, ontem.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva cumprimentou o pontífice. “Desejo que ele dê continuidade ao legado do papa Francisco, que teve como principais virtudes a busca incessante pela paz e pela justiça social, a defesa do meio ambiente, o diálogo com todos os povos e todas as religiões, e o respeito à diversidade dos seres humanos”, escreveu Lula em sua rede social.
Sobre o assunto, o líder argentino Javier Milei comentou: “As forças do céu deram claramente seu veredicto. Não há mais palavras, Sr. Juiz. Fim”.
Vladimir Putin, presidente da Rússia, felicitou Leão XIV: “Por favor, aceite minhas sinceras felicitações por sua eleição como papa. Estou confiante de que o diálogo construtivo e a cooperação estabelecida entre a Rússia e o Vaticano continuarão a se desenvolver com base nos valores cristãos que nos unem”.
O francês Emmanuel Macron destacou o momento histórico. “Neste 8 de maio, que este novo pontificado traga paz e esperança”.
Viktor Orban, premiê da Hungria, exclamou: “Nós temos um papa! Há esperança!”.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 09 de maio de 2025.
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Fonte
A União