No private equity, os cheques encolheram no Brasil. Como as gestoras estão se virando?

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Os investimentos feitos por gestoras de private equity encolheram 44,3% e atingiram R$ 13,3 bilhões em 2024, o menor nível em cinco anos, segundo dados da Abvcap, a associação que representa as firmas desse setor. Nos três primeiros meses deste ano, a situação não melhorou: o volume de R$ 6,5 bilhões representou uma queda de 33,7%, quando comparada ao mesmo período de 2024.

Uma pesquisa da Volt Partners, publicada com exclusividade pelo NeoFeed, no entanto, dá mais cor a esses dados desalentadores da área. A conclusão é que os cheques ficaram menores e os club deals se tornaram mais frequentes.

“O cenário macroeconômico afetou bastante a captação dos fundos”, diz Jairo Ohno, sócio da Volt Partners, uma butique de M&As. “Ocorreram muitos negócios deal by deal, o que dificulta a celeridade do processo e que se reflete em um cheque menor.”

A pesquisa, que está em sua sexta edição, contou com a participação de 47 gestoras, que somadas têm US$ 19,5 bilhões de ativos sob gestão. De acordo com os dados, o cheque mínimo médio exigido caiu quase 27%: era R$ 56,5 milhões em 2024 e encolheu para R$ 41,6 milhões em 2025.

Outro dado que ilustra o cenário é que 10% das gestoras dependiam de club deals em 2024, quando captam recursos com investidores em cada aporte (deal by deal). Na pesquisa de 2025, esse número dobrou e chegou a quase 20%.

“Os dois dados são interrelacionados. A queda do valor médio dos cheques reflete o aumento do número de gestores que dependem de club deals, pois o cheque tende a ser maior quando o fundo já está captado”, afirma Ohno.

Além disso, o faturamento mínimo médio exigido para investir em uma empresa caiu cerca de 20%, passando de R$ 107 milhões em 2024 para R$ 86 milhões em 2025, de acordo com a pesquisa da Volt Partners.

O NeoFeed ouviu cinco gestoras de private equity e de growth para tentar entender as razões do encolhimento do cheque e do aumento de club deals – e saber como elas estão se virando. A explicação mais comum é que está muito difícil captar para fundos “blind pool”, que investem em diversos ativos sem que o investidor saiba quais são as empresas.

“Não tem muito fundo com dry powder”, afirma um gestor que deve começar a captar em breve, referindo-se a expressão que indica que o capital que a gestora tem captada para investir em empresas.

Outra questão tem a ver com o cenário macroeconômico, em que as taxas de juros altas inibem investimentos em ativos alternativos. “Captar fundos ‘blind pool’ é muito difícil. Só os fundos que têm track record conseguem”, diz uma fonte.

Segundo um managing director de um grande fundo, que concluiu uma captação bem-sucedida no ano passado, esse foi o fundraising mais difícil de sua vida. “Tive que gastar muita sola de sapato e demorou muito mais tempo que o normal”, afirma essa fonte.

Outro gestor, que atua em um fundo de growth, traz outro ponto de vista que pode explicar a redução do valor dos aportes. “Cheques menores é consequência de saída mais difíceis e de valuations mais achatados na entrada,” diz essa fonte.

Mas nem tudo pode ficar na conta do cenário macroeconômico, na opinião de um sócio de um fundo de private equity. Ele cita também a questão da maturidade do investidor brasileiro. “Os club deals aumentaram pois o investidor brasileiro prefere saber no que está investindo. Não gosto, porque concentra o risco.”

Apesar disso, muitos gestores estão organizando club deals (alguns preferem chamar de co-investimentos) para complementar o cheque do fundo. Um exemplo recente dessa estratégia foi investimento do Patria High Growth no negócio de consórcio e seguro da Randoncorp.

O cheque de R$ 320 milhões por uma fatia de 20% não foi exclusivo do Patria High Growth. A gestora conseguiu R$ 200 milhões com a base de investidores do Patria.

“Até pelo mérito da transação, consegui trazer várias famílias”, diz Pedro Faria, co-CEO do Patria High Growth. “Essa é uma estratégia que devo usar em outros deals.”

A pesquisa da Volt Partners conseguiu identificar também que as gestoras de private equity estão começando, mesmo que timidamente, a se interessar por ativos distressed, investimentos de alto risco, geralmente envolvendo empresas em dificuldades financeiras.

“É mais uma avaliação quantitativa das conversas que tivemos com os gestores. Ainda é marginal o interesse deles em distress, mas antes nem existia”, afirma Ohno, Volt Partners.

A questão que se coloca agora é quando os cheques vão voltar a crescer. O NeoFeed fez essa pergunta a todos os gestores com quem conversou. E a resposta é de que no curto e médio prazo essa é a realidade do setor.

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Neofeed

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