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Desde que foi anunciado como presidente do Bradesco, em novembro de 2023, com a missão de recuperar o banco da Cidade de Deus, Marcelo Noronha tem se notabilizado por repetir três palavras a cada call de balanço trimestral: o mantra de que esse processo será feito “step by step”.
Divulgados na noite da quarta-feira, 7 de maio, os números do primeiro trimestre de 2025 mostraram, porém, que o banco apertou o passo, o que surpreendeu positivamente o mercado e se refletiu em uma alta de mais de 14% de suas ações preferenciais na abertura do pregão desta quinta-feira, 8 de maio.
Uma das boas notícias veio com o lucro líquido recorrente de R$ 5,8 bilhões, alta anual de 39,3% e acima do consenso, que apontava para R$ 5,3 bilhões. Outra foi o retorno sobre o patrimônio líquido médio (ROAE) de 14,4%, ainda distante dos níveis históricos, mas com uma evolução de 4,2 pontos percentuais.
O que também chamou a atenção foi a carteira de crédito expandida. Mesmo com o banco sinalizando no início do ano um menor apetite ao risco, essa linha superou a marca de R$ 1 trilhão no trimestre, com um salto, em base anual, de 12,9%, bem acima do guidance na faixa de 4% a 8% anunciado para 2025.
Nesse contexto, embora tenha ressaltado os desafios macro, com a perspectiva de uma atividade menor da economia no segundo semestre, e, mais uma vez, recorrido ao discurso da recuperação “passo a passo”, Noronha acrescentou outras três palavras – e uma visão um pouco mais positiva – a esse lema.
“No crédito, por exemplo, estamos mais para a ‘banda de cima’ do que efetivamente para o meio do guidance”, disse Noronha a jornalistas nesta quinta-feira, 8 de maio. “Não trabalhamos com nenhuma surpresa arrebatadora. Mas estamos mais otimistas com o resultado que podemos entregar no ano.”
Alguns dados ilustram de onde o Bradesco está partindo para essa entrega. Na carteira de crédito do trimestre, em pessoas físicas, o avanço foi de 16,2%, para R$ 432,8 bilhões. E, em pessoas jurídicas, de 10,6%, para R$ 572,2 bilhões.
No detalhe dessa última linha, a carteira de micro, pequenas e médias empresas somou R$ 222,4 bilhões, um crescimento de 29,6%. Nas grandes empresas, por sua vez, a expansão foi mais tímida, de 1,2%, alcançando o valor de R$ 349,8 bilhões.
“Estamos com boa tração e penetração em quase todas as linhas”, disse Noronha. “E toda a nossa carteira que teve um crescimento significativo é praticamente toda colateralizada. Não estamos em risco fora da curva.”
Sob essa orientação, em pessoas físicas, ele citou oportunidades em segmentos como crédito imobiliário, consignado e o foco, em cartões de crédito, nas rendas mais elevadas. Assim como destacou boas perspectivas no novo consignado privado, à medida que os ajustes do programa sejam feitos.
“Ainda estamos numa estratégia defensiva no consignado privado, até que as bases e outros elementos sejam arredondados”, observou. “Nós vamos com o pé no chão, mas acreditamos que tem uma oportunidade de crescimento colossal quando isso estiver redondo.”
Já em pessoas jurídicas, ressaltou uma visão favorável, especialmente, em micro, pequenas e médias empresas, com faturamento anual de até R$ 300 milhões, em linhas como crédito rural e garantidas pelo Fundo de Garantia de Operações (FGO) e o Fundo Garantidor para Investimentos (FGI).
“Nosso apetite segue moderado. Isso não mudou, olhando o horizonte macro, com uma taxa de 14,75%. Mas isso não significa que não estamos fazendo negócios”, afirmou. “Eu já tinha dito no último trimestre que estava um pouco mais otimista. E ninguém acreditou em mim.”
Quem parece estar dando um voto de confiança ao Bradesco é o Citi. Em relatório, onde questiona se “os dias difíceis acabaram”, o banco ressalta questões como o lucro líquido, a melhora de margens – em sua visão, a maior surpresa positiva -, e destaca:
“Este é, talvez, o primeiro trimestre em que as tendências orgânicas de receita sugerem uma melhora estrutural, sem saltos relevantes em nenhuma das linhas restantes”, escreveram os analistas do Citi, reforçando que o Bradesco segue com desafios ainda pressionando seus resultados.
“Mas reconhecemos que os esforços do banco estão começando a dar resultados com um perfil de risco mais equilibrado. No geral, temos uma leitura construtiva sobre a recuperação e credibilidade do Bradesco”, acrescentaram os analistas do banco, com recomendação neutra para o papel.
Já o BTG Pactual, com recomendação neutra e preço-alvo de R$ 14 para a ação, destacou avanços e o fato de o banco estar passando por uma transformação significativa. O que, dado o seu tamanho, indica, de fato, um processo gradual de longo prazo. E foi mais cauteloso em sua avaliação.
“Por isso, tirar conclusões precipitadas com base em um único trimestre pode ser enganoso — algo que já vimos acontecer mais de uma vez nos últimos anos”, escreveram os analistas do BTG.
Outros números
O Bradesco encerrou o primeiro trimestre de 2025 com uma margem financeira de R$ 17,2 bilhões, uma expansão de 13,7% na mesma base de comparação, enquanto a margem com clientes teve alta de 15,5%, para R$ 16,7 bilhões.
Na carteira de crédito, o índice de inadimplência acima de 90 dias ficou em 4,1%, contra 5%, um ano antes. Já as despesas com provisões para devedores duvidosos (PDD) foram de R$ 7,6 bilhões, o equivalente a uma retração de 2,2% em base anual.
Em outros indicadores, as despesas operacionais registraram alta de 12,3%, para R$ 15 bilhões, e a receita de serviços somou R$ 9,7 milhões, um crescimento de 10,2% em doze meses.
Além do balanço, o Bradesco informou em fato relevante que seu conselho de administração aprovou a renovação do programa de recompra de até 106.584.881 ações, sendo 53.413.506 ordinárias e 53.171.375 preferenciais, no período de 8 de maio de 2025 a 8 de novembro de 2026.
De acordo com a instituição, as ações recompradas serão mantidas em tesouraria para um posterior cancelamento, sem redução de capital social do banco.
As ações preferenciais do Bradesco estavam sendo negociadas com alta de 14,89% por volta das 11h55, cotadas a R$ 14,98 e dando ao banco um valor de mercado de R$ 150,1 bilhões. No ano, os papéis acumulam uma valorização de 29,5%.
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Neofeed