Brasil afunda na matemática: metade dos alunos do 4º ano não atinge o básico

Enquanto o mundo celebra nesta terça-feira (6) o Dia da Matemática, os dados mais recentes sobre o desempenho dos estudantes brasileiros na disciplina acendem um alerta vermelho: mais da metade (51%) dos alunos do 4º ano do ensino fundamental não atinge o nível básico de proficiência em matemática, segundo a avaliação internacional Timms 2023.

O resultado equivale a um atraso de cerca de três anos em relação à média das demais nações avaliadas, um retrato preocupante de um dos maiores gargalos da educação no país.

Segundo especialistas, o “buraco” da matemática é ainda mais profundo do que o observado em leitura e ciências. A razão para isso vai além do currículo escolar: envolve desde a formação deficiente de professores até o baixo estímulo à disciplina dentro e fora da sala de aula.

Dificuldades que começam cedo

O estudo internacional identificou os principais obstáculos enfrentados pelas crianças brasileiras: operações com números naturais, resolução de problemas, geometria e medidas. Muitos estudantes recorrem à memorização de procedimentos (como “vai um” ou “pega emprestado”) sem compreender o raciocínio por trás das contas.

A resolução de problemas também é um desafio, exigindo mais do que interpretação de texto: é necessário entender o papel e os significados de cada operação matemática no cotidiano.

Geometria e medidas, por sua vez, são frequentemente negligenciadas no ensino. As medidas, usadas diariamente, são ensinadas de forma mecânica, sem que o aluno compreenda seu sentido.

Falta de familiaridade e professores mal formados

Diferentemente da leitura, que pode ser estimulada no dia a dia por meio de livros, histórias ou mensagens em aplicativos, a matemática depende muito mais da escola. E o Brasil enfrenta sérios problemas na formação de professores.

O crescimento acelerado dos cursos de licenciatura a distância (EAD), aliado à baixa qualidade de muitos programas presenciais, contribui para a preparação deficiente dos educadores. Além disso, a carreira docente atrai poucos estudantes, especialmente na área de exatas. E, quando atrai, muitos desistem no meio do caminho: a desistência em cursos de licenciatura em matemática é alta, e os melhores alunos costumam migrar para áreas mais valorizadas pelo mercado, como engenharia ou economia.

Outro fator que agrava o problema é o desequilíbrio na distribuição de professores. Muitas vezes, os profissionais formados em cursos de baixa qualidade acabam atuando em escolas com menos estrutura, justamente onde os estudantes enfrentam maior vulnerabilidade social. Isso contribui para o aumento das desigualdades no acesso à educação de qualidade.

Além dos desafios atuais, o país ainda lida com questões estruturais históricas. A universalização do ensino fundamental só começou a ser efetiva a partir da década de 1990. Até então, a maioria da população não tinha acesso pleno à escolarização. Isso significa que o Brasil partiu de um ponto muito diferente das nações mais desenvolvidas.

Outro ponto a ser considerado são as desigualdades socioeconômicas profundas, já que ainda existem crianças que chegam à escola sem saber se vão conseguir comer ou tomar banho naquele dia – ou seja, elas estão em modo de sobrevivência, e isso compromete qualquer processo de aprendizagem, seja em matemática ou em qualquer outra disciplina.

Soluções para os problemas

Apesar do cenário desafiador, iniciativas locais e projetos bem planejados têm mostrado que é possível avançar. Mas, para isso, é essencial mapear as dificuldades com precisão, investir em formação docente de qualidade e valorizar a profissão de professor.

Para muitos educadores, tornar a matemática mais próxima da realidade dos alunos e trabalhar o raciocínio lógico desde os primeiros anos são estratégias indispensáveis.

Neste 6 de maio, mais do que comemorar a data, o Brasil tem um motivo urgente para refletir: sem resolver o problema crônico da matemática, será impossível garantir um futuro mais justo e competitivo para as próximas gerações.

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