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Dados do Indicador de Alfabetismo Funcional (Inaf) 2024, divulgados nesta segunda-feira (5), revelam um cenário alarmante, mas persistente: 29% da população brasileira entre 15 e 64 anos é considerada analfabeta funcional — índice igual ao registrado em 2018.
O analfabetismo funcional não se limita à incapacidade de ler e escrever, mas abrange a dificuldade em compreender pequenas frases ou interpretar informações simples, como um número de telefone ou preço. O estudo revela que três em cada dez brasileiros não conseguem aplicar habilidades básicas de leitura, escrita e matemática no cotidiano.
Perfil dos analfabetos funcionais
A maioria dos analfabetos funcionais tem entre 40 e 64 anos (65%), sendo homens em maior número (53%). Embora representem 51% da população entre 15 e 64 anos, as mulheres são minoria nesse grupo. Também se observa maior incidência entre pessoas com escolaridade até o ensino fundamental (65%), e entre pretos e pardos (58%).
Outros recortes mostram que:
- 76% têm renda familiar de até 2 salários-mínimos;
- 60% estão empregados;
- 37% vivem no Nordeste (região com maior proporção: 42%);
- 33% estão no Sudeste, pela densidade populacional;
- 25% vivem em municípios com até 20 mil habitantes;
- 73% acessaram a internet nos últimos três meses, mas 60% apresentam baixo desempenho em tarefas digitais.
Situação entre jovens e impactos da pandemia
Entre os jovens de 15 a 29 anos, o analfabetismo funcional cresceu: de 14% em 2018 para 16% em 2024. A pandemia, com fechamento de escolas e dificuldades de acesso ao ensino remoto, é apontada como possível causa.
Mesmo entre os que possuem ensino superior, 12% são analfabetos funcionais. No mercado de trabalho, 27% dos trabalhadores não dominam habilidades básicas de leitura e escrita.
Níveis de alfabetismo no Brasil
O Inaf classifica os brasileiros em cinco níveis:
- Analfabeto/Rudimentar (funcional): 29%
- Elementar: 36%
- Intermediário e Proficiente (consolidado): 35%
Apenas 10% da população se encontra no nível proficiente, e esse percentual está estagnado há 23 anos.
Alfabetismo elementar
O nível elementar, que representa a maior parcela da população, é caracterizado por uma compreensão limitada de textos médios e domínio básico de operações matemáticas. Entre esse grupo:
- 54% são mulheres;
- 62% são pretos ou pardos;
- 64% têm renda familiar de até 2 salários-mínimos;
- 65% estão empregados;
- 95% acessaram a internet nos últimos três meses.
Contudo, mesmo com acesso digital, 18% relatam que o ambiente virtual representa um desafio adicional em suas tarefas cotidianas.
Alfabetismo consolidado
Já o grupo com alfabetismo consolidado (níveis intermediário e proficiente) representa 35% da população. Entre eles:
- 42% têm até 29 anos;
- 90% possuem ensino médio ou superior;
- 49% são brancos;
- 74% estão empregados;
- 55% têm renda superior a 2 salários-mínimos;
- 98% acessaram a internet nos últimos 3 meses.
Apesar do melhor desempenho, 40% têm dificuldade em tarefas digitais mais complexas.
Desigualdades educacionais persistem
Entre brancos, 28% são analfabetos funcionais. Já entre pretos e pardos, esse índice é de 30%. Entre indígenas e amarelos, chega a 47%. O Nordeste lidera a proporção de analfabetos funcionais (42%), mas o Sudeste concentra o maior número absoluto (33%).
“Ainda é preocupante termos 16% dos jovens de 15 a 29 anos em situação de analfabetismo funcional, especialmente entre adultos pretos e pardos”, alerta Rosalina Soares, da Fundação Roberto Marinho. “É urgente fortalecer políticas públicas de inclusão educacional.”
Inclusão digital e desafios contemporâneos
O Inaf 2024 também avaliou o nível de alfabetismo digital dos brasileiros. Entre os analfabetos funcionais, 95% estão no nível mais baixo de proficiência digital. Mesmo entre os proficientes, 40% apresentam desempenho médio ou baixo no uso de tecnologias digitais, como marcar consultas online, preencher formulários ou acessar serviços públicos.
Segundo Esmeralda Macana, da Fundação Itaú, é essencial investir em formações voltadas ao uso de tecnologias, considerando que grande parte dos serviços e benefícios públicos já migraram para o ambiente digital.
Desafios e propostas
A queda nas matrículas da EJA (Educação de Jovens e Adultos), que alcançou o menor nível histórico em 2024, agrava o cenário. Foram 198 mil matrículas a menos em relação ao ano anterior.
Para Mônica Dias Pinto, chefe de Educação do Unicef no Brasil, o país precisa superar a “naturalização do fracasso escolar” e oferecer letramento de qualidade para garantir a inserção cidadã e produtiva dos brasileiros: “Precisamos garantir que crianças e jovens desenvolvam as competências para fazer escolhas, aprender e ter uma transição digna para o mundo do trabalho.”
Metodologia
A edição 2024 do Inaf contou com a participação de 2.554 pessoas entre 15 e 64 anos, entre dezembro de 2024 e fevereiro de 2025. A pesquisa foi coordenada pela ONG Ação Educativa e pela consultoria Conhecimento Social, em parceria com Fundação Itaú, Fundação Roberto Marinho, Instituto Unibanco, Unesco e Unicef. A margem de erro é de 2 a 3 pontos percentuais, com 95% de confiança.
Crédito CNN
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Fonte:
Paulo Figueiredo