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Quem circula pelas ruas de João Pessoa percebe que diversas edificações, bustos e estátuas, referentes a figuras ou momentos históricos da cidade, do estado e do país, estão depredados. É comum encontrar esses equipamentos com pichações, ferrugem, tinta, sujeira ou quebrados. Em muitos casos, mesmo em bom estado de conservação, vários deles estão sem placa de identificação, o que prejudica, sobretudo, os turistas que vêm à capital paraibana e querem conhecer mais da sua história.
Na Praça Rio Branco, por exemplo, local tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) desde 2008, a estátua do Barão do Rio Branco está com pichações, além de sujeira, tinta e colagens que foram feitas no local. No espaço, a placa que registra as obras de requalificação — realizadas em 2010, pelo Iphan, em parceria com a Prefeitura Municipal de João Pessoa (PMJP) — está amassada e suja.
No centro da capital, quem passa pela Praça Pedro Américo pode notar que a placa, que traz um resumo da história do local, está bastante danificada e suja. Pichações ainda são encontradas no monumento central e em outros locais da praça. O espaço também conta com uma estátua em alusão ao escritor Augusto dos Anjos e seu poema “Debaixo do Tamarindo”. A obra, no entanto, está sem a placa de identificação. O local e seu entorno são tombados tanto pelo Iphan quanto pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado da Paraíba (Iphaep). Aos fins de semana, a praça costuma abrigar eventos culturais, que reúnem um grande número de moradores e turistas.
Vandalismo
Em outros espaços, como o Parque Solon de Lucena e a Praça Antenor Navarro, também há monumentos depredados. Segundo a coordenadora do Patrimônio Cultural de João Pessoa (Copac-JP), Daniella Bandeira, essas situações são comuns e refletem a carência da população quanto à educação patrimonial, o que dificulta o trabalho de manutenção. “Esses símbolos, que estão espalhados pela cidade são, na verdade, símbolos nossos, do nosso passado, mas não há esse respeito ainda, é um trabalho longo, a ser construído desde as crianças na escola até a vida adulta. Muitas vezes, a prefeitura promove a limpeza desses equipamentos pela manhã e, à tarde, já tem pichações. Colocamos a placa em uma semana, na outra já foi levada, isso é muito recorrente”, afirma.
Daniela fala que a Copac-JP conta com o suporte de outros órgãos ligados a PMJP, como a Autarquia Especial Municipal de Limpeza Urbana (Emlur), a Secretaria Municipal de Infraestrutura (Seinfra-JP), a Secretaria de Desenvolvimento Urbano (Sedurb) e a Guarda Municipal, para promover a limpeza, manutenção e preservação desses equipamentos. “Mesmo com a ação da Guarda Municipal, é impossível manter uma vigilância constante desses equipamentos, por isso o que a gente precisa é da conscientização das pessoas”, reforça.
A coordenadora da Copac-JP ainda destaca que o ato de pichar monumentos públicos, por exemplo, não traz nenhum ganho à sociedade. “Esse tipo de protesto, se a gente considerar assim… não modifica o que se pretende, não gera nada de bom, apenas mais distanciamento da própria história, e um povo que se distancia da sua própria história não constrói um bom futuro”.
Daniella comenta que João Pessoa é uma das cidades mais antigas do país e o quanto é necessário preservar toda essa história e patrimônio. Além disso, chama atenção para o aspecto financeiro, dizendo que o reparo constante desses monumentos, por causa das depredações, gera custos para o município. “Qualquer real que é usado para reparar esses locais, por causa de vandalismo, é um grande desperdício. É um dinheiro que deixa de ser aplicado em outras necessidades ou na expansão ou implantação de novos símbolos e bens”, afirma.
As ações contra o patrimônio histórico e cultural, identificadas pela Copac-JP, são notificadas à Polícia Civil, para que possam ser investigadas, como explica ainda Daniella. “Quem sabe com a inibição e com um processo mais amplo de educação a gente tenha, finalmente, uma diminuição dos ataques constantes à nossa história”, conclui ela.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 29 de abril de 2025.
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A União