Governo Lula: principais políticas e impacto no Brasil

Governo Lula em evento Brasil dando a Volta por Cima

Governo Lula

Governo Lula tem cerca de um ano para aumentar popularidade – Foto: José Cruz/Agência Brasil

O governo Lula enfrenta o cenário mais adverso em termos de popularidade entre todos os mandatos, desde que assumiu o poder em 2002. No início deste ano, estamos diante de um quadro que apresenta o nível mais baixo de aprovação do governo Lula e recorde em desaprovação. Assim o líder político tem mais um de seus desafios.

Consequentemente, o Partido dos Trabalhadores corre contra o tempo para mudar a percepção do eleitorado antes de outubro de 2026, quando ocorrerá nova disputa presidencial.

Piores índices na história do governo Lula

Neste atual mandato, o governo chegou a 38% de aprovação no início de sua gestão, em março de 2023 e repetiu a marca em setembro e dezembro do mesmo ano. Posteriormente, considerando os dois primeiros anos do governo Lula, a média do índice de aprovação ficou em 36%.

Em 2024, o governo passou a virada do ano com o apoio de 35% dos entrevistados pelo Datafolha. Quando a pesquisa seguinte saiu em fevereiro deste ano, os números ligaram um alerta vermelho no PT. A aprovação havia caído 11 pontos em dois meses e a taxa havia chegado ao menor valor entre os três mandatos: 24%.

Ao mesmo tempo, a rejeição ao governo Lula também bateu recorde. Nos dois primeiros anos de governo, a reprovação foi de 31% e terminou dezembro de 2024 três pontos acima da média. Em fevereiro deste ano, a rejeição chegou a 41%.

Os números são os piores da história do governo Lula. Nos primeiros mandatos, a menor aprovação registrada foi de 40%, número superior à melhor marca do atual mandato, de 38%.

Programas sociais e econômicos do primeiro governo Lula

Após atingir o vale de 40% em 2005, o governo Lula entregou o poder em 2010 com mais de 80% aprovação. Durante os primeiros mandatos, o governo se beneficiou do aumento dos preços das commodities e gerou uma onda de otimismo na população. Nem mesmo o escândalo do mensalão e as polêmicas dos filhos do Lula conseguiram afetar a confiança no governo.

Entre 2003 e 2010, o governo Lula implementou políticas públicas voltadas para a redução da pobreza e para a promoção da inclusão social. Programas como o Bolsa Família, Luz para Todos e Minha Casa, Minha Vida ganharam destaque por seu impacto na distribuição de renda no país.

Assim, a imagem do governo Lula em 2010 era muito positiva e havia uma expectativa de grandes entregas em sua volta ao poder. No entanto, em dois anos, o partido viu as entregas de governos passados perder o valor diante do aumento dos preços e da forte oposição política.

Promessa de campanha do Lula

Nem mesmo o pronunciamento em cadeia nacional de televisão do ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT/SP), prometendo cumprir a isenção do imposto de renda para quem ganha até R$5 mil foi capaz de evitar a quebra de expectativa do eleitorado.

Após a vitória do PT em 2002, o Datafolha publicou pesquisa em que 76% projetavam um governo bom ou ótimo. Comparativamente, no início do terceiro mandato, apenas 49% acreditavam que Lula faria um trabalho bom ou ótimo.

Diante de uma sociedade cada vez mais cética em relação aos políticos, as promessas de campanha de Lula exercem pouca influência sobre a opinião pública. O aumento dos preços, por outro lado, causa impacto no eleitorado.

Segundo pesquisa do Instituto Genial/Quaest divulgada em dezembro de 2024, 68% dos brasileiros disseram ter perdido poder de compra — o maior percentual desde o início do atual governo. Essa percepção de aumento nos preços contribuiu para 61% dos entrevistados afirmarem estar em uma situação financeira abaixo do que esperavam.

Assim, Lula convive com os piores índices de sua história no comando do país. Até então, as piores marcas haviam sido registradas em 2005, no auge da crise do mensalão.

Governo Lula realiza evento para mostrar entregas

Presidente Lula durante evento Brasil Dando a Volta por Cima – Foto: Ricardo Stuckert / PR

Falhas na comunicação

Entre os motivos da queda de popularidade no fim do ano, os líderes do partido citam falhas na comunicação do governo. Especificamente sobre o final de 2024, o caso que ficou conhecido como “taxação do pix” incomodou o governo.

Tudo começou com a publicação da instrução normativa que ampliava a fiscalização de transferências realizadas por PIX e cartões de crédito. Sem uma comunicação eficiente, as mudanças nas regras causaram receio de cobrança de novos impostos na população.

Com isso, a oposição aproveitou a oportunidade para atacar um governo que já tinha fama de criar novos impostos. Em 2023, o governo Lula, especialmente Haddad, foi muito associado à Reforma Tributária do consumo e à taxação de compras internacionais abaixo de US$50.

No dia 15 de janeiro, o governo revogou a norma que causou a desinformação sobre os meios de pagamento. A presidente do PT, Gleisi Hoffmann, considerou que “fez muito bem o presidente Lula em mandar revogar a Instrução da Receita sobre monitoramento do Pix e das maquininhas”.

De acordo com a também ministra da Secretaria de Relações Institucionais do governo, a revogação era necessária para impedir a proliferação de fake news e golpes online.

Condições econômicas frustram Lula

Enquanto nos outros dois mandatos as condições econômicas favoreceram o governo Lula a se tornar popular, neste elas corroem a credibilidade do mandatário.

Devido à independência operacional e financeira do Banco Central em relação ao governo federal aprovada nos últimos anos, o presidente Lula precisou dialogar no início do mandato com o indicado ao cargo pelo seu antecessor. As conversas entre Lula e o então presidente do BC, Roberto Campos Neto, não foram amistosas e frequentemente as falas repercutiram na imprensa e no mercado financeiro.

Na avaliação do PT, a política monetária instituída pelo BC atrapalhou o crescimento da economia brasileira no período. Sob comando de Campos Neto, o BC manteve altas taxas de juros comparadas com outros mandatos do petista para combater o processo inflacionário que ocorria mundialmente.

Além disso, representantes da legenda criticaram a atuação do Banco Central para controlar a especulação cambial. A presidente do PT, Gleisi Hoffmann, publicou um texto para justificar a queda de popularidade do governo.

“Tivemos a especulação desenfreada com o câmbio, que também afetou os preços dos alimentos, o aumento do imposto estadual sobre a gasolina, as péssimas notícias sobre o aumento dos juros, o terrorismo sobre o resultado fiscal e a maior fake news de todos os tempos, sobre a taxação do Pix”, escreveu a deputada em sua conta no X.

Até este ano, o presidente Lula cobrava seus ministros por um diálogo melhor com a sociedade. Para o PT, apesar do Banco Central atrapalhar, os números da economia eram sólidos; o principal problema era a comunicação.

Em 2025, as coisas se inverteram. A comunicação ainda desagrada, mas o recado da pesquisa era que a população estava sentindo uma piora no bolso.

Inflação e juros altos no governo Lula

O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede a inflação oficial no Brasil, encerrou o ano de 2024 com uma alta acumulada de 4,83%.

Esse resultado superou o teto da meta de inflação anual estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), que era de 4,5%. Apesar do resultado fora do objetivo anual, o IPCA mostrava desaceleração nos últimos meses.

Em 2025, a inflação voltou a subir e chegou a 5,48% ao ano em março. Para este ano, a meta da inflação foi mantida, mas é o indicado de Lula, Gabriel Galípolo, o responsável por alcançá-la.

Governo Lula indicou Gabriel Galípolo para a presidência do BC

Presidente do Banco Central do Brasil indicado por Lula, Gabirel Galípolo – Foto: Raphael Ribeiro/BCB

Na ata da reunião, o terceiro aumento consecutivo de um ponto percentual no índice de juros é justificado por fatores internacionais e domésticos. No cenário exterior, a preocupação é com a política comercial dos Estados Unidos, que adotou altas tarifas de importação.

No Brasil, o mercado continuava pressionando o governo por compromisso fiscal nas contas públicas. Há o temor de que a queda de popularidade do governo Lula incentive o PT a aumentar os gastos com políticas públicas sem as contrapartidas orçamentárias.

Mudanças na comunicação do Planalto

No dia 3 de abril, em Brasília, o governo Lula organizou o evento O Brasil Dando a Volta por Cima para apresentar um balanço de suas entregas até agora. O encontro representa a nova diretriz estratégica definida pelo ministro da Secretaria de Comunicação Social (Secom), Sidônio Palmeira.

Governo Lula troca ministro da Secom

Lula dá posse a Sidônio Palmeira como ministro da Secretaria de Comunicação Social da Presidência. – Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

O publicitário assumiu o cargo em janeiro deste ano com a missão de divulgar para um público maior as ações do governo federal. Seu antecessor, o deputado federal Paulo Pimenta (PT/RS), afirmou em sua saída do governo que estava na hora do “período da colheita, dos resultados”.

“O presidente quer ter à frente da Secom uma pessoa que tenha um perfil diferente do que eu tenho. Um profissional de comunicação, uma pessoa que tenha experiência, que tenha talento, criatividade, capacidade de poder exercer essa tarefa e coordenar essa política de comunicação do governo no próximo período”, afirmou o deputado.

Além de ajustar as campanhas para o slogan O Brasil Voltou, Sidônio quer que o governo tenha mais presença digital. Até então, a Secretaria de Estratégias e Redes da Secom era ocupada por Brunna Rosa, aliada próxima da primeira-dama Janja e coordenadora da campanha presidencial de 2022. No mesmo dia que assumiu, em 14 de janeiro, Sidônio anunciou a saída de Brunna.

Apesar dos protestos da primeira-dama, Lula havia dado carta branca para Sidônio fazer as mudanças que julgasse necessárias. Antes da exoneração, Janja tentou realocar Brunna na Empresa Brasil de Comunicação (EBC), mas o presidente não a apoiou. Para o lugar de Brunna, foi nomeada Mariah Queiroz.

Investimento em políticas públicas

Com a popularidade em queda e rumores vazios de impeachment, o governo Lula passou a divulgar mais os seus investimentos em políticas públicas. As iniciativas do início deste ano em destaque dentro da nova proposta de comunicação do governo incluem principalmente a ampliação de iniciativas existentes. São exemplos o Pé-de-Meia, o Bolsa Família e a Farmácia Popular, assim como a liberação de valores retidos para o saque-aniversário do FGTS.

Outras políticas foram repaginadas, como o caso do Auxílio Gás que se tornou Gás para Todos. Além da troca do dinheiro por vales no repasse aos beneficiários, a estimativa é que o programa atenda pelo menos 15 milhões de famílias a mais.

Por fim, há as propostas inéditas deste ano. A principal aposta do governo Lula para alavancar a popularidade é a ampliação na faixa de isenção do imposto de renda. O debate no Congresso Nacional será árduo por exigir uma contrapartida orçamentária e, para valer já em 2026, o governo terá que aprovar uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) ainda neste ano.

Diferentemente da isenção do IR que precisa passar pela discussão no Congresso antes de ser outorgada pelo presidente da República, o programa e-Consignado já está em funcionamento. Em março deste ano, o governo Lula lançou, por meio de Medida Provisória (MP), o programa que amplia o acesso a crédito mais barato por meio da plataforma e-Social.

Popularidade do governo Lula volta a subir em 2025

Os últimos dados da pesquisa Datafolha disponíveis, de abril de 2025, mostram uma pequena melhora do desempenho do governo Lula na percepção dos entrevistados em relação a fevereiro.

Após chegar a 41%, a avaliação negativa do governo Lula recuou para 38% em abril. O número de aprovação do governo Lula também apresentou melhora, passou de 24% para 29%. Além dos contentes e insatisfeitos, outros 32% dos entrevistados afirmaram que a administração atual é regular. Números que ainda preocupam Lula, aos 79 anos.

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