

Luís Silveira recebe presente de Topázio em Portugal – Foto: Divulgação
Florianópolis e o município de Velas, na Ilha de São Jorge, nos Açores, Portugal, estão ainda mais próximos. Em visita à cidade, o prefeito Topázio Neto assinou a primeira parte do termo de cooperação entre as duas cidades. A segunda etapa da assinatura será no mês que vem, quando o presidente municipal da Câmara de Velas, Luís Silveira, vem para Florianópolis.
Embora seja chamado de presidente, Silveira tem um cargo que equivale ao de prefeito e virá para a Capital com a presidente da Assembleia Municipal de Velas, equivalente à Câmara de Vereadores, Lena Amaral.
Além de assinar o acordo, ambos vão participar do início da Festa do Divino em Florianópolis, uma das tantas tradições trazidas dos Açores para a Capital catarinense.
NDTV fez resgate histórico
A assinatura da geminação entre os dois municípios foi nesta sexta-feira (25), em cerimônia no Salão Nobre da Prefeitura Municipal de Velas. O prefeito de Florianópolis destacou que, após o resgate histórico da NDTV, em 2023, com o especial “Viva Açores – Conhecer é viver!”, lançado quando a chegada dos açorianos ao Sul do Brasil completou 275 anos, houve também uma reconexão da Capital com a região dos Açores.
Segundo as estimativas, cerca de 5.000 açorianos vieram para Santa Catarina – destes, 1.200 saíram da Ilha de São Jorge no século 18.
“Vamos completar o ato em 24 e 25 de maio, quando uma comitiva dos Açores vai a Florianópolis”, informou Topázio.
O termo de cooperação tem foco nas áreas da cultura e do turismo. A Ilha de São Jorge, uma das nove do arquipélago dos Açores, tem muitos interessados em conhecer Santa Catarina, sobretudo depois do amplo trabalho realizado pela NDTV.
“As tradições são muito parecidas. Conservamos, em Florianópolis, algumas características da Ilha de São Jorge, o que pude comprovar na prática”, disse Topázio, mencionando, por exemplo, a Festa do Divino e a pesca.
O primeiro fruto da nova parceria entre as cidades será a vinda de um grupo de 37 artistas da Ilha de São Jorge, que vão se apresentar na abertura da Festa do Divino de Florianópolis e ficar três dias na Capital para uma série de apresentações, visando resgatar tradições que se perderam ao longo do tempo.
A vinda dos artistas foi viabilizada numa parceria da prefeitura com a Casa dos Açores de Florianópolis.
Resgate de tradições
Futuramente, a intenção de Topázio é ajudar a Ilha de São Jorge a resgatar uma tradição que os açorianos trouxeram para Florianópolis e que se perdeu na Ilha. “Eles não têm mais nenhuma rendeira. Estou tratando com o prefeito de criarmos um programa e levar rendeiras nossas por um mês na Ilha dos Açores, para um workshop a fim de reintroduzir a renda de bilro lá. A ideia foi recebida muito bem por eles, estão bastante animados”, disse Topázio.
O prefeito de Velas, Luís Silveira, explicou que a geminação aproxima o povo açoriano de Portugal e do Brasil, por força de tradições e cultura secular levada pelos habitantes do arquipélago ao Brasil e que se perdeu no tempo.
“É o caso das rendas de bilros, que queremos reaprender trazendo rendeiras de Santa Catarina até cá, para dar formação e ensinar essa tradição às atuais gerações e que foi levada pelos nossos antepassados”, afirmou.
Silveira disse que tem altas expectativas nesta aproximação, nas vertentes culturais, sociais e até mesmo econômicas. “Sendo a Ilha de São Jorge e mais em particular Velas, tal como Santa Catarina e Florianópolis, destinos turísticos de excelência, muito podemos aprender de parte a parte e em tantos outros setores, como tecnologia, onde Santa Catarina tem grandes capacidades que nos podem em muito ajudar e estreitar laços empresariais e comerciais”, declarou.
Ele esteve em Florianópolis em 2023, nas comemorações dos 275 anos do povoamento açoriano em Santa Catarina e em função do especial “Viva Açores” da NDTV. “Vim de coração cheio e percebi genuinamente porque se diz que Santa Catarina é a décima ilha do arquipélago dos Açores. São traços arquitetônicos açorianos, a tipologia das embarcações de pesca artesanal, a fé ao Divino, a gastronomia com ‘tainha assada’ e tantas outras coisas”, afirmou.
“É bom vermos, a tantos quilômetros, no outro lado do mundo, a forma como preservam as tradições seculares do povo açoriano”, completou Silveira.
Topázio participa da festa de São Jorge
O prefeito Topázio chegou a Portugal na terça-feira (22) e, no dia seguinte, feriado pelo Dia de São Jorge, participou das comemorações no município, incluindo a edição de 2025 das festas de São Jorge, em Velas. “São Jorge é muito forte, padroeiro da cidade. Teve procissão, uma série de eventos, e participei de todos. Na sexta-feira comemoraram-se os 51 anos da Revolução dos Cravos, também feriado nacional, e outra série de eventos culturais, desportivos”, contou o prefeito, que participou pela manhã das festividades e, à tarde, retornou para o Brasil.
A presidente da ACL (Academia Catarinense de Letras), a professora e escritora Lélia Pereira da Silva Nunes, também participou das festividades em Portugal. Usos, costumes, hábitos, maneiras de fazer e dizer, ditos populares e histórias infantis, segundo Lélia, são muito similares em Florianópolis e Velas.
“Quando o açoriano atravessou o Atlântico e chegou em Santa Catarina, trazia sobre a pele seus usos e costumes, suas tradições, religiosidade, sua festa do Espírito Santo, e o que vimos nessa festa de São Jorge é como se a nossa alma fosse posta. Há muitas semelhanças nas nossas procissões. A procissão de São Jorge, por exemplo, maior festividade da ilha, tem a força da coletividade”, comentou Lélia.
A Ilha de São Jorge e o município de Velas
Na bagagem, o prefeito Topázio Neto traz não apenas o acordo com a cidade de Velas, mas também muito conhecimento. “Eles têm uma história muito rica. A Ilha de São Jorge foi povoada antes dos anos 1500, então a tradição ali é muito forte e chama atenção a participação comunitária. As diversas comunidades se envolvem muito na preparação das festas. Todos muito ligados e um nível de religiosidade muito alto. São muito devotos de São Jorge”, descreveu Topázio.
Com área de 15,18 km² e 8.000 habitantes, São Jorge é uma ilha vulcânica e passou por abalos sísmicos nos anos 1800 e, mais recentemente, nos anos 1980. Por isso é um povo de muita fé. Velas, por sua vez, tem 5.000 habitantes. “Outra característica é que têm uma tradição forte na pesca. Também tiveram pesca de baleia, a exemplo de Florianópolis, usando praticamente os mesmos utensílios. Têm também os mesmos carros de boi, engenhos para fazer trigo. As similaridades são muito grandes e o povo é muito hospitaleiro, como nós somos”, observou o prefeito de Florianópolis.
Lançamento de livro
Em Portugal, a escritora Lélia Pereira também lançou mais um livro: a edição portuguesa de “A Casa do Tempo”, uma coletânea de 36 textos, entre ensaios, crônicas, biografias e artigos, fruto de 36 anos de idas e vindas da autora até os Açores.
Segundo Lélia, o projeto “Viva Açores – Conhecer é viver!”, em que ela atuou como curadora, inspirou a obra. “Uma casa que guarda memórias ancestrais tecidas, que reflete a essência da nossa identidade cultural, e ao mesmo tempo, preserva e transmite memórias e conhecimentos salvaguardados por gerações. “Busquei a minha ‘Casa do Tempo’ na minha terra natal, Tubarão, na Ilha de Santa Catarina e por Ilhas açorianas: São Jorge e Terceira, de onde partiram meus ancestrais”, contou Lélia.
Ainda sobre a obra, ela disse que pretende trazer conhecimento aos catarinenses e açorianos da história comum dos dois locais, resgatando raízes nas duas margens e o grandioso legado sobrevivente. “Ou seja, dar a conhecer os arquivos da memória coletiva de ‘cá’, fruto da grande travessia dos que nos antecederam e das muitas vozes que, multiplicadas, continuam a ecoar hoje e serão ouvidos no futuro por novas gerações: a dos nossos filhos, netos e bisnetos. Também os arquivos da memória dos açorianos que quase nada conheciam e agora despertam para o grande significado dessas memórias que o tempo não apagou.”
Lélia também comentou o projeto de geminação entre Velas e Florianópolis. Para ela, vai muito além da assinatura do documento. “Há um reconhecimento de irmandade. São cidades irmãs, porque têm uma história comum. Não é uma simples vontade, mas uma vontade concreta de aproximar, fortalecer laços, através de ações e projetos que enriqueçam as duas cidades”, frisou.