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Os primeiros 100 dias do governo Trump são superlativos em medidas e em substantivos. Incerteza é o mais repetido em cenários econômicos publicados nas últimas semanas por bancos, consultorias e institutos de pesquisa. Mas a sanha tarifária do presidente americano foi além. Adicionou imprevisibilidade às projeções de indicadores, instabilidade na negociação de ativos e convicção de que o desempenho da economia global será abalado.
A ameaça de Trump de demitir o presidente do Federal Reserve (Fed), Jerome Powell, por não reduzir (já) a taxa de juro justificou a ampliação de prêmios aos ativos pelo risco de ingerência política na gestão do maior BC do mundo. A volta atrás de Trump na ameaça e alívio no discurso contra a China facilitaram a recomposição de preços, mas o Fed segue como “bode na sala” porque a economia tende a desaquecer consistentemente antes do corte de juro.
E os primeiros sinais estão aí. Em abril, a atividade empresarial teve o pior resultado em 16 meses, segundo indicadores divulgados pela S&P Global – desempenho que pesa contra a restrição monetária. O PIB do primeiro trimestre do atual governo Trump sai na quarta-feira, 30 de abril, e deve dimensionar algum estrago patrocinado por sua política protecionista.
Apesar da expectativa de que essa primeira leitura do PIB mire relações externas dos EUA, Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos, disse ao NeoFeed ser possível que o resultado não confirme efeitos via comércio internacional como muitos analistas podem estar esperando.
“Nesse primeiro PIB trimestral de Trump esperamos efeito sobretudo nos investimentos. A incerteza criada no ambiente econômico faz com que os agentes fiquem receosos de investir, postergando suas decisões”, diz Sanchez.
“Consequentemente, os investimentos poderão ser mais afetados, em vez de maiores solavancos na balança comercial, que tende a ser protagonista na evolução do PIB a partir da leitura do segundo trimestre”, complementa.
Os dados serão analisados com atenção, dada a proximidade da reunião de política monetária do Fed na semana seguinte. Mas é fato que a economia americana, embora forte, vinha desacelerando antes das sandices de Trump.
No quarto trimestre, o PIB avançou 2,4%, ante 3,1% no período anterior. A favor do BC americano estão as expectativas de que um alívio ocorrerá a partir de junho, aponta o FedWatch, indicador de taxas de juros no mercado futuro.
As avaliações acima compõem relatórios de análise macroeconômica divulgados desde meados de abril e que levaram instituições à simulação do impacto das tarifas no comércio internacional. O resultado é revelador.
A Monte Bravo Corretora alerta que as tarifas aplicadas por Trump deverão elevar a alíquota efetiva sobre as importações americanas ao maior patamar em pelo menos 100 anos – entre 20% e 25%. O Itaú Unibanco estima que a alta da tarifa efetiva é da ordem de 22 pontos percentuais, para cerca de 24%.
Para o Bradesco, a tarifa média ponderada de importação dos EUA ronda 30%, partindo de menos de 5% em 2024 e considerando a suspensão de 90 dias das tarifas adicionais. Ainda que o efeito diminua, a tarifa média seguirá acima de 20%. No primeiro mandato de Trump, elas subiram de 2,5% para 4,5%.
Esses efeitos autorizam classificar o tarifaço como um “choque de oferta negativo para o cenário global, com impacto estagflacionário bem forte sobre a economia americana, gerando preocupações sobre uma recessão global”, explica o Itaú, para quem um avanço ou um recuo em acordos dos EUA com o resto do mundo, principalmente com a China, serão determinantes para aliviar ou agravar uma crise maior e recessão.
Já a Monte Bravo considera que a tensão entre EUA e parceiros comerciais continuará com retaliações. “O ideal seria negociar uma redução das tarifas”, diz a corretora que reconhece, entretanto, que Trump já contratou uma desaceleração forte da atividade. Não há tempo bom pela frente.
Nesse sentido, o Itaú reduziu a projeção de expansão do PIB americano de 2% em 2025 e 2026 para, respectivamente, 1,2% e 1%. E calcula que o choque tarifário levará o núcleo da inflação nos EUA – medida que exclui preços voláteis – a algo entre 4% e 4,5%, ante previsão anterior de 2,5%.
Tarifas puxam inflação e renda das famílias desaba
O salto da inflação, para o dobro da meta perseguida pelo Fed, provocará uma redução relevante na renda das famílias que vinha crescendo ao ritmo de 4,5% a 5% ao ano. Resultado: a capacidade de consumo dos norte-americanos cairá drasticamente e afetará investimentos. Daí a desaceleração expressiva do PIB.
O Bradesco também vê o tarifaço de Trump com consequências potencialmente severas nos EUA em preços, custos, planos de consumo e de investimentos, o que levou o banco a um corte ainda mais significativo da projeção de crescimento da economia americana este ano, de 2% para zero.
Na esteira dos EUA, outras regiões serão afetadas. O “conjunto da obra” de Trump resultará no declínio do PIB global de 3,1% para 2,3%, em 2025, avalia o Bradesco com estimativa próxima à divulgada pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) de 2,8%, ante previsão anterior de 3,3%.
Na virada do calendário de abril para maio, na quarta-feira, 30, além do PIB do primeiro trimestre, o governo americano publicará o indicador de inflação de preços de bens efetivamente consumidos pela população – o preferido do Fed.
Durante a semana, dois indicadores do mercado de trabalho americano serão divulgados: abertura de vagas no setor privado e o Payroll, relatório que traz criação de vagas, evolução de salários e taxa de desemprego.
Mercado de trabalho também será pauta no Brasil com informações do Caged e IBGE. Com foco nas finanças públicas, o Tesouro apresentará o Relatório Mensal da Dívida Pública e o resultado do Governo Central com as contas do próprio Tesouro Nacional, Previdência e BC, em março.
Na quarta-feira, 30 de abril, o BC deverá apresentar o balanço consolidado das contas públicas e o primeiro trimestre estará estatisticamente encerrado. Na quinta-feira, 1º de maio, outro feriado encurta a semana. É Dia do Trabalhador.
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Neofeed