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Pouco provável meses atrás, o otimismo com o mercado brasileiro vem, aos poucos, se tornando consenso entre investidores. Se, nos últimos anos, o lema foi a dolarização dos investimentos e a exposição à bolsa americana, o rebuliço causado pelo tarifaço do governo Donald Trump tem mudado esse mantra — ainda que a duras custas.
Enquanto a indústria de fundos iniciou 2025, proporcionalmente, com a menor alocação em ações da história, o Ibovespa acumula alta de 9,92% no ano até aqui. A performance está entre as melhores do mundo – os índices americanos S&P 500 e Nasdaq registram respectivas quedas de 8,6% e 13,48%.
A variação cambial também penalizou aqueles que apostaram contra a moeda brasileira, com o dólar recuando 7,47%, desmanchando as previsões mais pessimistas para a inflação.
Roberto Kropp, diretor e gestor da Daycoval Asset, avalia que a valorização do real teve impacto direto na queda da inflação implícita nas curvas de juros, que recuaram cerca de 1,5 ponto percentual desde o início do ano. No último Boletim Focus, publicado na terça-feira, 22 de abril, a expectativa de inflação para 2025 caiu oito pontos-base, para 5,57% — ainda acima do teto da meta, de 4,5%.
“Essa revisão para baixo da inflação deve ganhar mais força nos próximos boletins Focus. Quando o dólar chegou a R$ 6,30, muitos economistas ficaram pessimistas com o impacto nos preços. Agora, o efeito é o contrário”, diz Kropp.
Kropp também não acredita que a taxa de juros, mesmo elevada, vá frear significativamente a atividade econômica. “O empreendedor brasileiro é quase um super-herói e, historicamente, encontra formas de superar essa taxa de juros”, afirma o gestor, com mais de 30 anos de experiência no mercado.
Segundo pesquisa do BTG Pactual deste mês, 51% dos gestores estão otimistas com o mercado brasileiro — 11 pontos percentuais a mais que em março. Dados da B3 mostram ainda que os investidores institucionais locais lideram as compras em abril, com saldo positivo de R$ 4,8 bilhões.
Apesar do protagonismo dos locais neste mês, é o investidor estrangeiro que deve ditar o rumo da bolsa de valores, na avaliação de Felipe Miranda, cofundador, co-CEO e estrategista-chefe da Empiricus.
Mesmo com saídas em abril, o saldo do investidor internacional na B3 segue positivo em 2025, em R$ 2,43 bilhões. Miranda acredita que esse fluxo deve ganhar força no segundo semestre, à medida que o mercado passe a precificar cortes na taxa de juros.
“Um juro de 15% com inflação de 6% é muito juro real. Com dólar e commodities em queda e a atividade desacelerando, a Selic deveria cair” diz Miranda. Ele acredita que a taxa pode se aproximar de 10% no fim de 2026.
“Isso faz muita diferença no valuation dos ativos, e o mercado vai colocar isso na conta em algum momento do ano”, observa Miranda. Para ele, múltiplos ainda atrativos e a baixa exposição a setores domésticos também jogam a favor.
Otimista com a trajetória da bolsa brasileira, Miranda projeta que outro fator deve contribuir no segundo semestre: a possibilidade de um rali eleitoral. A expectativa de que o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, dispute a Presidência em 2026, combinada à perda de aprovação do atual governo, pode reacender o ânimo do mercado local.
Diante desse cenário, o desequilíbrio fiscal — que era peça central do otimismo com o Brasil no início do ano — fica em segundo plano.
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